Síndrome alegada por empresário não leva a crime, dizem psiquiatras
Breno Solon Borges, foi preso com 130 quilos de droga, mas justiça acatou pedido para internação em clínica
Transtorno de Personalidade Borderline, o termo que vertido do inglês significa limite inunda o noticiário após ter motivado a transferência para clínica de um preso por tráfico de drogas, suspeito de auxiliar em tentativa de fuga e filho da presidente do TRE (Tribunal Regional Eleitoral). Entretanto, especialistas ouvidos pelo Campo Grande News apontam que a doença dificilmente se relaciona a práticas criminosas.
“É muito difícil isso acontecer. É transtorno de personalidade emocionalmente instável. A pessoa vive intensamente: luto, alegria, tristeza, raiva. Altera o comportamento, mas não prejudica a capacidade da pessoa entender o que é certo e errado”, afirma o psiquiatra Jony Afonso Gonçalves Domingues, ao explicar a doença.
De acordo com o médico, a internação se justifica em casos de crise, quando a pessoa põe em risco a própria segurança e de terceiros. Uma das situações frequentes é que o paciente diagnosticado com o transtorno se automutile.
Conforme o psiquiatra Marcos Estevão Moura, o transtorno Borderline é a linha de fronteira entre o normal e o patológico, mas de forma isolada é difícil que leve o paciente à prática de crime. “É muito difícil estar associado à prática de crime, mas não se diz que nunca”, afirma o especialista.
Ele explica que dentro dos transtornos de personalidade, a doença é considerada como implosiva, ou seja, com efeitos direcionados para o próprio paciente que tem dificuldade para controlar os impulsos. “ A personalidade Borderline é implosiva, dificilmente ligada a crime”, diz Marcos Estevão.
Os profissionais esclarecem que analisam a doença e não o quadro específico do preso que foi transferido para clínica psiquiátrica.
Droga e armas – Filho da desembargadora Tânia Garcia de Freitas Borges, Breno Fernando Solon Borges foi preso na madrugada do dia 8 de abril pela PRF (Polícia Rodoviária Federal), em Água Clara. Na ocasião, estava acompanhado da namorada Isabela Lima Vilalva e do serralheiro Cleiton Jean Sanches Chave.
Em dois veículos, o trio transportava 129,9 kg de maconha, 199 munições calibre 7.62 e 71 munições calibre 9 milímetros, armamento de uso restrito das Forças Armadas no Brasil.
Consta na denúncia, oferecida pelo Ministério Público Estadual, que “Breno era o mentor da associação e responsável pela tomada das principais decisões”. Já “Isabela figurava como auxiliadora do primeiro denunciado, instruindo-o, acompanhando-o e auxiliando-o naquilo em que fosse necessário”.
Breno, que é dono de empresas em Mato Grosso do Sul, é acusado em outro processo de participar de ajuda a planeja a fuga de uma liderança de organização criminosa presídio Jair Ferreira de Carvalho, a Máxima de Campo Grande.
A PF (Polícia Federal) chegou ao nome de Breno como participante da organização após a análise de celulares apreendidos. A polícia fez o pedido de prisão preventiva, aceito pela Justiça.
Reviravolta – A primeira ordem para que Breno trocasse o presídio de Três Lagoas por uma clínica foi dada pelo desembargador Ruy Celso Barbosa Florence, que havia liberado o preso para tratamento psiquiátrico, após ser diagnosticado com “Síndrome de Borderline”. Como foi decretada a preventiva, ele ficou na prisão.
Porém, no plantão de sexta-feira (dia 21), o desembargador José Ale Ahmad Netto concedeu nova liminar para fazer valer a primeira decisão de transferência do preso.
Segundo José Ale, a imposição de óbice pelo juízo da comarca de Três Lagoas implica obstáculo indevido ao direito de Breno, que, de acordo com os laudos médicos apresentados, necessita de imediata submissão a tratamento de saúde. Breno foi interditado pela mãe. Ele está em uma clínica na cidade de Atibaia (SP)
Ontem, a Corregedoria do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) pediu informações ao TJ/MS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul) sobre o caso do filho da desembargadora.