Sob suspeita, viagem de 300 km leva à suspensão de edital sobre lixo em MS
Denúncia informa suposto direcionamento para atender empresa que explora aterro sanitário em Três Lagoas
Um acréscimo de 328 quilômetros na viagem do lixo recolhido em Figueirão foi apontado como indício de direcionamento no edital 005/2018 e levou à suspensão do pregão pelo TCE (Tribunal de Contas do Estado). Na denúncia, a empresa Central de Tratamento de Resíduos de Chapadão do Sul SPE Ltda relata que há suposto direcionamento para atender empresa que explora aterro sanitário em Três Lagoas.
“Pois a mesma que encontra distante mais de 463 km da cidade de Figueirão, enquanto que a cidade de Chapadão do Sul está somente a 135 km e possui aterro sanitário em condições ambientais conforme autorização do Imasul”, informa a denúncia.
O documento não traz o nome da empresa, mas o Campo Grande News apurou ser a CTR Buriti (Central de Tratamento de Resíduos Buriti). Para atuar em outras cidades do Mato Grosso do Sul, ela se associou em consórcio à Kurica Ambiental, investigada no Paraná.
Outra ponto alegado como restritivo à competitividade, foi a exigência da prefeitura de Figueirão de que o aterro seja licenciado por órgão ambiental ligado ao Sinasma (Sistema Nacional de Meio Ambiente), em afronta à competência exclusiva do Imasul (Instituto do Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul).
A decisão para suspender o pregão é do conselheiro Jerson Domingos e data de 26 de março. O aviso da suspensão foi publicado pela prefeitura de Figueirão em Diário Oficial de 28 de março. O objeto do pregão era a contratação de empresa especializada para coleta, transporte,
tratamento e destinação final dos resíduos sólidos do município.
Fake News – Um aspecto curioso é que o portal da prefeitura de Figueirão divulgou em 12 de janeiro que o lixo seria levado para aterro em Três Lagoas, apesar do Poder Executivo garantir ao Campo Grande News nesta sexta-feira (dia 27) de que a viagem até Três Lagoas não seria uma exigência do edital.
“Houve um erro na questão da publicação. Na verdade, foi falta de informação da assessoria de comunicação. A empresa visitou a prefeitura de Figueirão, oferecendo o trabalho deles, conheceram o lixão. A CTR ganhou em Alcinópolis e está entregando o lixo para eles. Mas em nenhum momento constava no edital que o lixo iria para Três Lagoas”, afirma o vice-prefeito de Figueirão, Fernando Barbosa Martins (PSDB), sobre o contato da CTR.
Regular – De acordo com o vice-prefeito, não havia direcionamento no edital de Figueirão. A prefeitura aguarda posicionamento final do TCE. Segundo Fernando Martins, a empresa denunciante não fez nenhuma reclamação de forma administrativa, buscando diretamente o Tribunal de Contas.
Ainda segundo ele, o aterro de Chapadão do Sul está sob intervenção e não participou, por exemplo, da licitação aberta por Alcinópolis. “Para nós, se Chapadão do Sul vier a concorrer com preço mais baixo, é mais vantajoso”, diz.
O vice-prefeito afirma que a coleta e tratamento do lixo é um grande problema e que a prefeitura busca melhorar a qualidade de vida da população.
“Se a gente fosse fazer direcionamento iria usar pregão? Com tudo publicado, de jeito algum. O maior problema dos municípios pequenos, Figueirão entra nesse contexto, é que construir um aterro fica inviável e estamos buscando alternativas para acabar com o lixão”, afirma. A reportagem não conseguiu contato com o prefeito de Figueirão, Rogério Rodrigues Rosalin.
Kurica - Investigada pelo Ministério Público do Paraná, a Kurica Ambiental, empresa de coleta de lixo, mantém contratos que somam R$ 4,2 milhões no ano para execução do serviço em cinco cidades de Mato Grosso do Sul: Água Clara, Inocência, Paranaíba, Ribas do Rio Pardo e Selvíria.
O proprietário da CTR Buriti (que opera o aterro de Três Lagoas) e da Kurica Ambiental, Marcello Almeida de Oliveira, também negou a possibilidade de direcionamento no contrato. “Em Figueirão ganhamos [a concorrência] no preço. A distância penaliza, mas somando o preço e o frete ainda é mais baixo”, disse, referindo-se a outras cidades do Estado onde é feita a coleta de lixo.
Oliveira disse que a decisão do TCE suspendeu a contratação para averiguar detalhes do certame, mas confirmou que a Kurica vai recorrer na Corte de Contas e buscar outros meios para assumir o serviço. Ele também salientou que há problemas no aterro de Chapadão do Sul que impedem o seu uso, apontando Três Lagoas como opção viável para o serviço.