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Cidades

Suspeito de golpe milionário afirma que teve R$ 700 mil apreendidos pela PF

Celso Éder Gonzaga de Araújo afirmou que, há dois anos, recebia ameaças e que por isso contratou 13 seguranças

Humberto Marques | 02/01/2018 16:09
Celso Éder foi preso em novembro. (Foto: Arquivo)
Celso Éder foi preso em novembro. (Foto: Arquivo)

Um dos personagens principais da operação Ouro de Ofir, que investigou um golpe milionário que atingiu 25 mil pessoas no país, Celso Éder Gonzaga de Araújo, 25, decidiu se armar graças a ameaças de morte que vinha sofrendo há, pelo menos, dois anos. E que seriam relacionadas à empresa AU-Metal –usada no esquema investigado que levou a Polícia Federal, também conforme Araújo, a apreender R$ 700 mil em sua residência, em Campo Grande. À época da operação Ouro de Ofir, a informação é de que as apreensões, ao todo, beiravam R$ 1 milhão.

O risco à vida levou o empresário a contratar 13 seguranças pessoais –em escala de três por dia ao seu lado– e a manter em seu poder uma pistola semiautomática. O porte ilegal de arma de fogo foi o motivo que levou Celso Éder a permanecer preso na ocasião, já que era reincidente na prática.

As informações foram prestadas pelo empresário em 21 de novembro de 2017, em depoimento às autoridades policiais quando a Ouro de Ofir foi deflagrada. Duas páginas nas quais suas palavras foram lavradas deram breves detalhes sobre o seu dia a dia, que ajudam a ilustrar a dimensão do golpe sob investigação.

Segurança – Celso relatara uma renda mensal de quase R$ 200 mil, provenientes da consultoria empresarial e de sociedade em uma hamburgueria. Durante a ação da PF na casa onde vivia, na Vila Manoel da Costa Lima (região do Chácara Cachoeira), declarou que foram apreendidos cerca de R$ 700 mil.

Em outras páginas do inquérito, informou ser dono de três imóveis, tendo também renda vinda de uma casa, alugada por R$ 900 –a residência em que vivia, afirmou, lhe custava R$ 2,7 mil em aluguéis, ainda segundo o inquérito.

Durante a ação, o investigado tinha a posse de uma pistola semiautomática de calibre .380, da marca italiana Tanfoglio e com capacidade para 14 cartuchos por carregador. Esta arma, informou Celso à PF, teria sido adquirida recentemente de um conhecido, “por conta das ameaças de morte que o interrogado vinha sofrendo, por ligações telefônicas e mensagens”, destaca o depoimento.

A arma e dois pentes de balas estavam em uma penteadeira e, segundo ele, nunca saíram da casa, na qual chegou a ter os 13 seguranças para sua proteção. O cuidado se devia às ameças ligadas à operação financeira AU-Metal, movida por sua família, “devido ao vulto de dinheiro envolvido”.

Armas – Celso levava em seu automóvel Land Rover um revólver Smith & Wesson calibre .38, com ouro e rubi na empunhadura. Esta arma, afirmou, seria herança do avô, falecido semanas antes, e permaneceu dentro de uma sacola na porta do veículo.

A PF informou ainda ter recolhido um coldre da marca Tanque durante a ação, bem como outro revólver .38, que estava em posse do padrinho do investigado, Joselito Carvalho de Freitas –que trabalhava com ele há alguns meses– e 37 balas.

Naquele 21 de novembro, as autoridades policiais também rememoraram que Celso Éder, quatro anos antes, já havia sido autuado por porte ilegal de arma de fogo. Na ocasião, viu a pena ser convertida em prestação de serviços comunitários. Por esse motivo, arbitrou-se a multa de 100 salários mínimos –que não foi paga em um primeiro momento, já que a prisão em flagrante por porte de arma convertera-se depois, por decisão judicial, em prisão preventiva.

O golpe – A Ouro de Ofir transformou Celso Éder em suspeito de capitanear um dos maiores golpes na história do Brasil, fazendo pelo menos 25 mil vítimas em todos os Estados. Ele estava à frente da Company Consultoria Empresarial, focada em dar orientações a interessados em investir no mercado.

Porém, a principal atividade seria a negociação de custas de ajuda em um processo que se arrastaria há 60 anos, no qual ele alegara ser herdeiro de uma mina de ouro explorada na época do Brasil Império e que lhe daria direito a uma gorda comissão. Da bolada, 60% seriam da sua família, e 40% para quem ajudasse a pagar a recuperação dos valores –algo atribuído, conforme o esquema, a uma corte internacional.

Celso se esmerou em dar probidade à história. Apresentou-se como cônsul honorário da Guiné-Bissau (na África), apresentou-se como comerciário, administrador e empresário de sucesso. A Company chegou a patrocinar o Campeonato Estadual de Futebol

Em paralelo, sua organização foi dividida entre operadores do esquema, que iam desde organizadores, responsáveis em realizar contratos e corretores –que propagandeavam o esquema, principalmente, via aplicativos de mensagens.

Com isso, angariavam apoios mínimos de R$ 1 mil, prometendo multiplicar e muito o “investimento”. Pequenos empresários, trabalhadores e até fiéis de igrejas (estes motivados pelo discurso de “bênção financeira”) foram seduzidos pela proposta.

A PF, na operação, apontou que a renda do investigado era pouco superior a R$ 20 mil, mas as movimentações financeiras em apenas uma conta bancária de Celso Éder chegaram a R$ 3,4 milhões. Entre 1º de junho e 5 de setembro, apontaram-se 455 depósitos bancários no total de R$ 1,7 milhão.

Baixos valores, perto dos mais de R$ 3,9 bilhões por ele informado como seu patrimônio, identificados em uma Letra do Tesouro Nacional. Declaração que a PF qualificou como ilegal, já que era usada apenas para provar valores e tentar convencer potenciais vítimas, explicou à época ao Campo Grande News o delegado federal Cleo Mazzoti.

As informações não foram suficientes para demover eventuais vítimas ou participantes do golpe, que apontaram uma “trama do governo federal” para desestabilizar o grupo e dizer que a liberação do dinheiro começaria. E evitar o balde de água fria em pessoas que, sem receber o dinheiro, fizeram planos de adquirir carros de luxo e mansões.

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