Santos pratas de casa
ALGUMA COISA ACONTECE - Caetano Veloso afirmou em pesquisa que realizou por conta própria, que 99,8% de músicas criadas no país têm letras românticas. Autores carentes de melhor inspiração têm no tema, forma fácil de colocar nos ouvidos de pessoas verdadeiras obras primas que desaparecem com a mesma facilidade com que aparecem.
ESTRELAS DESCEM - Procura-se leitor que saiba (sem apelar ao Google) quem foram os intérpretes das músicas 'só no sapatinho' e 'no balanço do buzão'. Os responsáveis pela irresponsabilidade de transformá-los em sucesso trabalhavam na rede Globo. É uma dica.
SEMPRE EM PRIMEIRO LUGAR - Na ânsia de galgar as primeiras colocações na audiência radiofônica diária, emissoras -de todo o país- fizeram do chamado sertanejo universitário um meio de galgar índices. Passado -muito- pouco tempo o gênero começa dar sinais de que já cansou o público; FM Capital a '100% sertaneja' já segmenta a programação com pagode.
VOCÊ NÃO VÊ - Repetidoras de TV locais abrem poucos espaços para a música -de qualidade- produzida em Mato Grosso do Sul. O Nosso Mato Grosso do Sul, com Márcio de Camilo, pela TV Morena, é rara -e boa- exceção, que apresentou, no sábado, Aurélio Miranda, autor e violeiro dos maiores do Brasil.
MAS NÓS ESTAMOS AQUI - A lamentar há o fato de saber que jovens do estado não conheçam a obra de Geraldo Espíndola e família. Músicas que sintetizam valores e sons regionais escancarados na vida da população que aqui habita e não os percebe; emissoras de rádios e repetidoras de redes de televisão (aquelas da audiência fácil) as grandes culpadas.
NEM MESMO EM COXIM - Entre os 'procurados' da música regional de qualidade está o cantor João Figar. Intérprete dos mais completos não tem o destaque que emissoras martelam até a exaustão a uma dupla como, pasme, Diego e não-sei-quem.
EXEMPLOS NÃO FALTAM - Mato Grosso do Sul é rico de ótimos autores que só são lembrados em matérias sobre a história musical do estado. Carlos Colman, Paulo Gê, Geraldo Rocca, Paulinho Simões, Celito e Jerry Espíndola soam como palavrões para grande parte da juventude local. Para programadores de rádio, então, é a seleção do 'famoso quem?'.
O ÚLTIMO APAGUE A LUZ - Nos anos oitenta, no Bar Café Soçaite, o até então desconhecido Almir Sater profetizou que "vou fazer minha carreira em São Paulo; aqui não da não". E os resultados do vaticínio todos conhecem hoje. No 'aqui não da não" entenda-se mídia eletrônica local.
MUITO POUCO - A abertura para o gênero regional é encontrada na Rádio FM 104 e, em particular, no trabalho do apresentador Ciro de Oliveira, além de emissoras que reservam cinco minutos para a música local numa programação de 24 horas. Com o FM do disco de vinil (outro palavrão para a molecada) e o moribundo CD, arquivos musicais de emissoras de rádio não chegam a ficar empoeirados em razão da alta rotatividade de 'sucessos do trimestre'.
GRUPO DA TRADIÇÃO - Michel Teló e Luan Santana produtos genuinamente difundidos pela mídia local -e lançados ao mundo- cobram altos cachês por suas apresentações. Enquanto isso, em Campo Grande, o excelente Paulo Gê lança CD de coletânea de autoria própria e, como numa súplica na TV Morena, informa um endereço eletrônico a interessados na sua aquisição. Notícias da província Santos pratas de casa.