A aurora do cooperativismo e da homeopatia no Brasil
Como um jovem francês, sem conhecimento sobre o Brasil, organiza uma centena de famílias de seus compatriotas a viver na bagunça do Império de Pedro II? A resposta a essa pergunta contará a chegada do cooperativismo e da homeopatia no Brasil. Benoît Jules Mure estava cursando o primeiro ano de medicina em Montpellier, no sul da França em 1835. Encontrou-se, por acaso, com Auguste de Saint-Hilaire, um dos maiores viajantes da história, que estava publicando um livreto sobre as belezas e as plantas de São Francisco do Sul, em Santa Catarina. Benoît Mure era discípulo do conde Sebastien Des Guides, o primeiro homeopata da França e era adepto dos "falanstérios", uma vertente do socialismo que desapareceu pela ação dos marxistas. Aventureiro, homeopata e socialista, Mure, um falastrão incurável, trouxe o cooperativismo e os ideais desse pseudo-tratamento.
Os adeptos de Charles Fourier lutavam contra o capitalismo, a família e a monogamia.
Imaginem a pompa da corte de Pedro II recebendo as primeiras famílias de socialistas franceses no Rio de Janeiro. Apesar da ideologia tão exótica para esse tempo, o imperador estava disposto a aceitar qualquer grupamento de europeus para povoar o Brasil e trazer novas tecnologias. Não imaginavam que os adeptos de Charles Fourier lutavam contra o capitalismo, contra a família e preconizavam a livre prática sexual, não aceitavam a monogamia.
O homem que matou os índios de S.Catarina doa as terras para os socialistas.
Foi um perfeito samba do crioulo doido. Algo que só poderia acontecer na eterna anarquia brasileira. O mais importante exterminador de índios de S.Catarina, Coronel Camacho, doa as terras para os socialistas chefiados por Benoît Mure. Camacho tinha acabado de receber terras junto ao rio Saí em contrapartida de sua luta contra os índios.
A escola de homeopatia.
Mure partiu com cem famílias a bordo do navio Caroline para colonizar a península do Saí. Se não foi o primeiro intento de cooperativismo em solo brasileiro, sem duvida, está entre os primeiros. É claro que o resultado dessa aventura foi a derrota. Mas nessa região do rio Saí, Mure chegou a organizar uma escola de homeopatia, destinada a ensinar médicos já diplomados.
Do fracasso socialista ao Instituto Homeopático.
Não há muita diferença entre socialismo e homeopatia. São dois belos ideais que, quando levados à prática, resultam em fracasso. Benoît Mure desistiu de seu projeto no Saí catarinense e transferiu-se para o Rio de Janeiro. Na capital imperial brasileira, juntou-se ao português João Vicente Martins e fundou o Instituto Homeopático do Brasil. Em vão, a homeopatia não decolava no país. Em 1848, Mure regressa à Europa. Deixava atras de si uma longa história, pouco conhecida, de tentar instalar uma colônia socialista no Brasil. Mas também deixava os embriões de uma história de sucesso em que se converteu o cooperativismo. A homeopatia continuaria a ser um ser cambaleante próximo ao estado terminal, em que vive até nossos dias.