A difícil igualdade na cama
O sexo era visto apenas como instinto de reprodução até meados dos anos 1920. Os pioneiros nos estudos da sexologia continuavam presos aos modelos do século anterior. O raciocínio era balisado em binômios: feminino/masculino, ativo/passivo, iniciada/iniciador e conquistada/conquistador. A sexualidade feminina era a vítima dessas leituras. O clitóris, percebido como uma anomalia, era desvalorizado, sobretudo entre os adeptos da psicanálise.
Sigmund Freud definia a libido como masculina e a sexualidade deveria ser organizada, por moças e rapazes, em torno do pênis. Wilhelm Reich romperia com esse esquema. Foi pioneiro em apontar a força da "potência orgástica". Sua pesquisa, realizada entre 1927 e 1935, publicada no livro "A Revolução Sexual", revolucionaria verdadeiramente a sexualidade.
Mas, permaneceu como assunto confidencial, quase secreto, no Brasil. Só seria traduzido para o português em 1940. Quando o assunto sexo começa a sair do silêncio e "perder a vergonha", mas exclusivo de uma ínfima minoria da população. O prazer feminino desponta. As técnicas para incrementá-lo antes, durante e depois, por meio de beijos, gestos e carícias assomam os ouvidos mais atentos. Reich só seria lido por muitos no Brasil nos anos 60 e 70.
Antes, outro "revolucionário", seria campeão de vendas. "O Casamento Perfeito" do holandês Theodoor van de Velde, publicado na Europa em 1925 e traduzido para o português no mesmo ano, ensinava os casais a atingir o orgasmo juntos, pelo coito vaginal. Van de Velde levava a sério a questão da igualdade na cama e, para ele, toda excitação sexual de certa importância que na mulher não terminasse em orgasmo representava uma lesão, um trauma.
O livro, tinha uma clara postura científica. Descrevia com gráficos e curvas os processos sexuais em que os cônjuges conseguiam chegar ao orgasmo. Para muitos, as leituras de Reich e Van de Velde ainda são válidas. Aos livros pois...
Os Soldados de Cristo finalmente elegeram um Papa, mas é pacifista.
Iñigo era um guerreiro. Durante um cerco a um forte francês, uma bala de canhão passou entre suas pernas. Milagrosamente, o jovem espanhol (basco) sobreviveu. Com a perna destroçada, passou por uma cirurgia - sem anestesia - que o deixaria com uma perna mais curta que a outra. O guerreiro - e mulherengo - tomou uma firme decisão: seguir os caminhos de Cristo. Após breve passagem por Jerusalém, o belo loiro de cabelos compridos encontrou uma viúva milionária que sustentaria seus propósitos de fundar uma ordem religiosa guerreira. Para isso necessitava estudar.
Foi a Paris preencher essa lacuna e lá encontrou seis religiosos mas novos que se tornaram o núcleo central da Companhia de Jesus. Iñigo adotou um novo nome mais amigável para os ouvidos espanhóis não bascos: Inácio. Em 1540, o papa aprovou a existência do novo grupo, mas retirou-lhe a vontade de lutar em Jerusalém. Teriam de servir à Igreja como missionários em países distantes.
Todos que aderiam a essa nova ordem tinham de ser ousados, educados nas melhores escolas europeias, ter muita fé, disciplina, espírito didático e capacidade de gerenciamento. Apesar das imensas exigências, encontraram muitos discípulos. Foram viver entre os indianos de Goa, nas ilhas japonesas, entre os astecas do México, entre os algonquins do Canadá e num lugar esquecido por todos, em uma região desacreditada pelos portugueses e de menor importância: Salvador, no Brasil.
Inácio nunca usou o termo "jesuítas". A expressão se estabeleceria décadas depois, quando o esforço missionário estava sedimentado. O nome oficial era "Societas Jesu" - Sociedade de Jesus. Uma milícia religiosa disposta a pegar em armas, com hierarquia clara, conduta impecável e vasto espírito de conquista.
O sucessor de Inácio, Diogo Laínez, chegaria a se estabelecer como uma grande liderança no Vaticano. Era forte candidato ao cargo de papa, mas não chegou ao posto. Os jesuítas só elegeriam um pontífice quase 600 anos depois, em 2013, com o argentino Jorge Bergoglio, um ferrenho pacifista.
Sai o funk ostentação e retorna a violência, o crime e as drogas
Lembram dos "rolezinhos"? Ocorridos no período de mais baixo desemprego do século, os "rolezinhos" marcaram o ingresso nos templos de consumo de jovens que se produziam para se exibir nos bailes funk do fim de semana. Foi uma correria para as marcas famosas, que passaram a ser citadas em letras do funk ostentação para dissociar suas imagens do consumo da periferia sem perder as vendas. Como trabalhavam e eram mais numerosos, os jovens da classe "C", tinham um poder de consumo superior à soma daqueles das classes A e B. Naquele ano de 2013, uma pesquisa do Datapopular detectou que o consumo das periferias das grandes cidades tinha duplicado em comparação com o das regiões centrais.
Três anos depois, o cenário virou. Os jovens de 18 a 24 anos lideram as estatísticas de desemprego. No primeiro trimestre de 2016, os shopping da classe A venderam 11% a mais que no mesmo período do ano passado. Os shoppings da classe "C" tiveram vendas 10% inferiores àquelas de janeiro a março de 2015. Talvez não seja coincidência que as apreensões de flagrantes de menores tenham aumentado tanto, em algumas capitais atingiu a incrível marca de 40%.
Sai o funk ostentação e retorna a violência, o crime e as drogas. O que não modifica é o policiamento. Na época da ostentação, as prisões ocorriam pelos "excessos". Sexo, som alto e consumo de bebidas entre menores. Hoje, o inverno da recessão canta: "era a sua felicidade/ ter status, luxar e gastar/ não caía na realidade ao chega (sic) em casa/ e ver sua mãe chorar". A letra é a história de uma mãe deprimida e desempregada. O filho está sem carteira assinada, mas "se vira".
A origem do caos urbano brasileiro.
As nossas médias e grandes cidades são caóticas. Também são caóticas as cidades de toda a América Latina. Qual a origem desse fenômeno? A comparação com as cidades europeias dá a pista. Elas se urbanizaram com níveis de renda muito mais altos do que muitas cidades do mundo em desenvolvimento. A urbanização cresceu à medida que a industrialização acelerava nas cidades europeias. Industrialização é sinônimo de produção de riqueza.
O primeiro surto de urbanização sem industrialização, ou sem riqueza, ocorreu na América Latina. Nossas cidades ficaram grandes antes que ficassem ricas, então, até hoje, tem dificuldades em correr atrás da infraestrutura.
Mas toda a imensa, complexa e eficiente estrutura das cidades europeias foi anterior ao advento do carro. E elas sofrem para se reconfigurar visando a acomodação dos carros. Para nós, a realidade se tornou caótica à medida que não conseguimos organizar a infraestrutura e, muito menos, a acomodação dos automóveis. Não temos industrialização, riqueza e planejamento. E ainda nos damos ao luxo de eleger os piores políticos para administrá-las.