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Em Pauta

A era do petróleo está no fim, vem aí a época do lítio

Mário Sérgio Lorenzetto | 11/04/2018 07:57
A era do petróleo está no fim, vem aí a época do lítio

Os primeiros carros, na aurora do século XX, eram movidos à vapor ou a gasolina, mas a maioria era movida a eletricidade. O problema era que as baterias que impulsionavam os carros elétricos eram enormes e pouco duradouras. Thomas Edison viu nas baterias um ótimo negócio e passou dez anos tentando melhorá-las. Não conseguiu, o máximo que chegou foi a um ganho de 10% no tempo para recarregá-las. A ideia foi arquivada.
Um século depois, uma nova geração de carros elétricos está pronta para provar que o palpite de Edison estava certo. Em dois ou três anos eles abocanharão um terço do mercado mundial de automóveis. A grande mudança das baterias veio no peso. Um átomo de lítio pesa 30 vezes menos que um de chumbo. O primeiro carro elétrico da nova geração levava uma bateria que pesava 594 quilos. Fracassou. Hoje, as baterias de lítio pesam 197 quilos, um terço da anterior.
Além disso, o lítio é usado em lubrificantes, graxas, antidepressivos e, é claro, nos celulares e tablets. Sem o lítio os celulares jamais estariam em nossos bolsos, seriam eternos "tijolões". Ninguém tem dúvida da importância do lítio no mundo. Assim como o século XX foi o do petróleo, o XXI será a era do lítio. O mercado do lítio girava em US$11 bilhões em 2010, passados oito anos, a previsão é de feche 2018 em US$40 bilhões. E isso é só começo...

A era do petróleo está no fim, vem aí a época do lítio

A guerra do Afeganistão contada pelo lítio.

O preço do lítio vem crescendo exponencialmente. Nenhum outro produto no mundo acompanha esse crescimento vertiginoso. A popularização de celulares ajudou esse crescimento, mas são as quantidades usadas em tablets e automóveis que ajudam a explicar melhor o boom do metal. Em um celular vai apenas uma "pitada" de lítio - 1,7 gramas. Em um tablet, 20 gramas. Em uma bateria de carro vão mais de 19 quilos. A encrenca do lítio é que ele não é encontrado "sozinho", livre na natureza, está sempre associado a pedras. Pior, pega fogo só de entrar em contato com o ar. E para complicar mais, as maiores jazidas ainda não exploradas estão em territórios turbulentos, explosivos: Afeganistão e Bolívia.
O governo dos EUA identificou grandes jazidas de lítio em solo afegão. Um tesouro inicialmente avaliado em US$1 trilhão. Dá para pagar um terço da dívida dos EUA para com os chineses. Esse lítio está na província de Ghazni - que também têm enormes jazidas de ouro, cobalto e ferro. Ninguém sabe ao certo quanto lítio há no Afeganistão. O Pentágono acredita que as reservas de Ghazni sejam as maiores do mundo. Alguém ainda acredita que a guerra abandonará o território afegão? Religião? Sim, há fanáticos no mundo todo. O impulsionador da guerra no Afeganistão é o lítio.

A era do petróleo está no fim, vem aí a época do lítio

Potosi, na Bolívia, da maior mina de prata à de lítio.

Século XVI, o "cerro de Potosi", a maior montanha de prata do mundo, transformou a economia universal. Como as moedas no mundo eram fracas - a maioria feitas com ferro - a prata de Potosi se transformou na moeda mundial. Algo como o dólar dos EUA na atualidade. A riqueza era tão grande que parcela expressiva dos espanhóis, que dominavam o mercado da prata, se negavam a trabalhar. É dessa época que o trabalho braçal passou a ser considerado "coisa de escravo".
Um ano depois de descoberta a montanha de prata de Potosi já haviam 2.500 casas apinhadas umas sobre as outras, e 14.000 pessoas habitavam o local. Como a prata não se esgotava, a onda não parou mais de crescer. Em 1573, anotaram 120.000 pessoas apinhadas em volta do "cerro de prata". Lisboa tinha 100.000 pessoas. Sevilha, a maior cidade espanhola da época, tinha 40.000 e Roma cerca de 75.000. Apenas Paris era maior que Potosi - tinha 200.000 pessoas.
Potosi produzia apenas uma mercadoria - a prata. O metal era transformado em moedas com 27,5 gramas, conhecidas pelo nome de peso de oito reais. No final do século XVI, a produção local girava em torno de 60 milhões de moedas por ano. Uma fortuna indescritível. Poderiam construir uma ponte de prata que ligasse a América do Sul à Europa. O destino à fortuna de Potosi se repete passados cinco séculos.
Segundo uma agência estatal dos EUA, há em Potosi 9 bilhões de toneladas de lítio. Um terço do total das reservas dos atuais cinco maiores produtores. O governo boliviano é bem mais otimista, fala em 100 bilhões de toneladas de lítio nas reservas de Potosi. A fonte de tanta riqueza, desta vez não está em uma montanha, pelo contrário, em um local imensamente plano: o salar de Uyuni. Um espetacular deserto de sal.

A era do petróleo está no fim, vem aí a época do lítio

A pequena produção de lítio brasileira.

Os dados oficiais brasileiros apontaram 48 mil toneladas de Li2O. As reservas estão concentradas em Araçuai e em Itinga, municípios de Minas Gerais. Tal como na Bolívia, a riqueza de um metal não vem sozinha. Minas Gerais, a região que outrora foi o maior produtor de ouro do mundo, têm reservas de lítio pouco exploradas. Não há exatidão alguma nas supostas 48 mil toneladas de minério de lítio. Pelo contrário, suas lavras até há pouco estavam paralisadas.

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