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Em Pauta

A história das Orelhas nos primórdios de Paranaiba

Por Mário Sérgio Lorenzetto | 07/03/2024 06:50
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Parcela da colonização portuguesa não veio do Continente, são originários do Arquipélago dos Açores, formado de nove ilhas. As levas de açorianos chegaram ao Brasil principalmente em Porto Alegre, que nos primórdios era chamada de Porto de S.Pedro dos Casais, como lembrança de seu povoamento por casais açorianos. Também vieram para Santa Catarina, especialmente para Florianópolis, onde são chamados jocosamente de "manezinhos". O terceiro destino foi Minas Gerais, e é este o nosso interesse maior.


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Esgotamento da mineração.

O esgotamento da mineração em Minas Gerais, nos fins do século XVIII, marca uma indizível pobreza naquelas terras. Um viajante escreveu: "Por toda parte se verão somente casas miseráveis e suas ruínas". Foi assim que passaram a crise do gado na região de São João del Rei, bem como plantar arroz, algodão, milho e tabaco. Mas as fazendas eram de pequena extensão, mal davam para a subsistência. Começaram a "mudança para o sertão", isto é, para o sudoeste goiano e para o Mato Grosso do Sul. Esta é a saga, em breves linhas, dos Garcias. São os fundadores de Paranaiba. E estão entre os primeiros brancos a estabelecer suas vidas neste Estado. Era a "região dos Garcias", uma imensa família de história apoteótica. Seus personagens principais, foram o Sete Orelhas e a bela Inocência.


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O Sete Orelhas.

Januário Garcia Leal, o famoso Sete Orelhas, nasceu em torno de 1.761 e divide até os dias atuais as opiniões. Uns o entendem como terrível bandido; outros, como o mais a valente homem daquelas redondezas. Mas não há como duvidar que era um homem com reações primitivas ao ser provocado. Chegando à casa de seu pai, certo dia, encontrou o velho muito preocupado. João, irmão de Januário, tinha saído há tempos e não retornara. Foi encontrado agonizante, mutilado, mas teve tempo de dar nome de seus algozes. Jurou Januário buscar os sete assassinos do irmão. Não retornaria para casa enquanto não os encontrasse. Foi o que fez. E para provar ao pai o cumprimento de sua promessa, fez um macabro "rosário" das orelhas dos assassinos.


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A bela Inocência, pero no mucho.

É digno de registro o que o Visconde de Taunay deixou em suas memórias. Conta que na Retirada da Laguna, encontrou no caminho de volta ao Rio de Janeiro, perto de Paranaiba, uma casa à beira da estrada. Estava com fome, vinha de longe e foi bater na casinha branca de portais e janelas azuis. Pela janela, viu um homem almoçando. Foi convidado a sentar-se à mesa. A comida era feijão, carne de porco e ervas à mineira. Apareceu uma jovem trazendo o famoso cafezinho. Taunay não tirava os olhos da mocinha. O velho sitiante ponderou que Taunay estava encantado com ela. Então o avô da jovem levantou seus belos cabelos. As orelhas já estavam tomadas pelo mal de Hansen. Eram leprosos.
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