A invenção do flash iluminou as favelas e mudou as cidades
Por Mário Sérgio Lorenzetto | 28/02/2024 07:30
Campo Grande volta a ter mais de vinte favelas e o poder público finge que não as enxerga. Ver as atrocidades humanas em uma favela, e mudá-las, todavia, pertence ao início do século passado. Inusitado, impensável, esse movimento começou com a invenção do flash. Essa história começa em uma pirâmide. Em Gizé há uma cavidade conhecida como "câmara do rei" e nela, teria sido depositada a bíblica e lendária Arca da Aliança. No outono de 1.861, nela chegou um inglês "mucho loco", seu nome era Charles Smyth. Ele queria fotografar essa câmara, mas a máquina fotográfica da época - chamada "daguerreótipo" não funcionava no escuro. Será esse inglês a misturar magnésio com pólvora, criando uma mini-explosão, iluminando a câmara do rei. Estava criado o flash.
O dinamarquês que visitava favelas.
Imigrante dinamarquês de 28 anos de idade, Jacob Riis acabaria entrando para os livros de história como o primeiro jornalista investigativo. No final do século XIX, o homem que fez mais que qualquer outra figura famosa da época para expor e mudar a vida nas favelas era confidente do comissário de polícia, e futuro presidente dos Estados Unidos, Roosevelt. Com mais de meio milhão de pessoas vivendo em apenas 15 mil casas de favela, chamados de "cortiços", Manhattan era o local mais densamente povoado do planeta. E prefeito algum mudava a situação.
Imigrante dinamarquês de 28 anos de idade, Jacob Riis acabaria entrando para os livros de história como o primeiro jornalista investigativo. No final do século XIX, o homem que fez mais que qualquer outra figura famosa da época para expor e mudar a vida nas favelas era confidente do comissário de polícia, e futuro presidente dos Estados Unidos, Roosevelt. Com mais de meio milhão de pessoas vivendo em apenas 15 mil casas de favela, chamados de "cortiços", Manhattan era o local mais densamente povoado do planeta. E prefeito algum mudava a situação.
O flash que mudou o mundo.
Consternado com o que via nas favelas, Riis começou a escrever sobre a tragédia em massa das favelas para jornais locais. Seus relatos pungentes não surtiram efeito algum nas condições reais de vida de seus moradores. Riis teve a ideia de fotografar as pessoas que nelas viviam. Algo inusitado. Mas isso só era possível tarde da noite, quando os trabalhadores estavam em casa, ou de madrugada. Também havia o problema da inexistência de luz solar nas casas. Esse era o grande obstáculo de Riis: a luz para fotografar. Teve uma epifania: usar o flash do "amalucado" Charles Smyth. Mas surgiu outro problema, esse flash era feito com um cartucho disparado com um revólver. Ninguém queria ser fotografado, por medo de estar tomando um tiro. Mas Riis perseverou. Conseguiu mudar o flash para uma frigideira. E iluminou a favela. Em sentido literal, a iluminação da miséria das favelas mudou as cidades do mundo. A prefeitura de Campo Grande adora viver no século XIX, antes do flash.
Consternado com o que via nas favelas, Riis começou a escrever sobre a tragédia em massa das favelas para jornais locais. Seus relatos pungentes não surtiram efeito algum nas condições reais de vida de seus moradores. Riis teve a ideia de fotografar as pessoas que nelas viviam. Algo inusitado. Mas isso só era possível tarde da noite, quando os trabalhadores estavam em casa, ou de madrugada. Também havia o problema da inexistência de luz solar nas casas. Esse era o grande obstáculo de Riis: a luz para fotografar. Teve uma epifania: usar o flash do "amalucado" Charles Smyth. Mas surgiu outro problema, esse flash era feito com um cartucho disparado com um revólver. Ninguém queria ser fotografado, por medo de estar tomando um tiro. Mas Riis perseverou. Conseguiu mudar o flash para uma frigideira. E iluminou a favela. Em sentido literal, a iluminação da miséria das favelas mudou as cidades do mundo. A prefeitura de Campo Grande adora viver no século XIX, antes do flash.