As emoções só podem ser explicadas de forma literária
Os limites entre a ciência e a literatura foram fixados com a chegada do Renascimento. Foi nessa época que a ciência se blindou às "interpretações pouco racionais". Dito de outra maneira, a fronteira entre ciência e literatura, em realidade, é muito difusa ainda que nos seja apresentada "muito nítida", como toda fronteira inventada.
Somerset Moghan derruba os muros da fronteira.
Somerset Moghan acabava de publicar sua primeira novela - "Lisa de Lambeth" - no mesmo momento em que se graduava na escola médica de S.Thomas, em Londres. Sua especialidade era a obstetrícia. Ocupar-se da gravidez e do parto das mulheres é também ocupar-se da criação.
Dor e saúde.
Em seus diários, Somerset Moghan afirma que a importância da dor para a saúde é a mesma da curiosidade para o conhecimento. Não vivem sozinhas. Vendo homens e mulheres morrerem, Moghan se mostrava curioso na dor que sentiam para assim eliminá-las. Com isso, aprendeu que as emoções humanas só se podem explicar à maneira literária, por ser esta a única forma de comunicá-las.
A história de Liza Kemp
A trágica história de Liza Kemp, moça de um bairro de trabalhadores londrinense, que trabalha em uma fábrica e vive com sua mãe, uma mulher viúva e alcoólatra, é a base da reflexão de Moghan. Tudo muda a parábola quando se enamora de um homem casado. O tema principal é o adultério e sua relação com a miséria econômica que condiciona as vidas nas margens. É isso que o autor havia visto quando trabalhou como obstetra no subúrbio londrinense de Lambeth.
Há muitas maneiras de estar vivo.
À partir da publicação dessa novela, Moghan se converterá em um escritor de êxito, deixando de lado a prática da medicina. Dizia que há muitas maneiras de estar vivo e só uma maneira de estar morto. Se dedicaria a viver e a escrever. Se dedicará ao combate à repressão sexual e à intolerância.