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Em Pauta

Eram todos os generais assassinos?

Mário Sérgio Lorenzetto | 14/05/2018 10:30
Eram todos os generais assassinos?

Eles usavam seus uniformes de gala. De aparência regia consistindo em paletó com platinas no peito, uma variedade imponente de medalhas de serviços prestados, camisa branca engomada, de colarinho em pé, e calça com acabamento em seda. O Exército brasileiro pode não ser o mais poderoso do mundo, mas sabe impor respeito.
Todo mundo respeita aqueles que vivem segundo um código. E é esse código que não lhes permite alcançar o ápice em suas reputações. Qual a verdadeira e completa história dos tempos de saída da ditadura para a democracia. Essa narrativa não existe no Brasil. Há uma enganosa história que coloca os civis como os vencedores de uma guerra que não existiu contra os militares. Essa lenda é alimentada por todos. Quem foram os oficiais que bancaram o retorno à democracia? Passados três decênios, a resposta é: sabemos que existiram, mas não conhecemos seus nomes. Não sabemos dos embates que ocorreram entre os linha-dura - aqueles que desejavam a preservação da ditadura - e os democratas. Eles não nos contam, nem abrem seus arquivos ultrassecretos. O código do militar, não escrito, está acima de tudo e de todos.
Volta e meia surgem sensacionalismo como o atual: Geisel e Figueiredo autorizaram assassinatos de civis que combatiam a ditadura. Fabulosa notícia, só acredita no contrário quem faz odes a Lobisomens. Eram as regras daquele tenebroso momento de nossa história. É provável que nunca venhamos a saber, mas não autorizar esses assassinatos significava pedir demissão de seus cargos. A nuvem de terror pairava sobre a cabeça de todos os brasileiros, inclusive sobre os quepes dos soldados. Se eles assassinavam, podiam ser assassinados na esquina. Mas muitos deles afrontaram os adeptos da ditadura, sem eles não chegaríamos à atual combalida democracia. E dessa culpa a turma da farda não pode ser culpada. Quem colocou gasolina na fogueira da democracia foram exclusivamente civis.
Vale tudo em uma campanha eleitoral? Vale denunciar Geisel e Figueiredo para alcançar Bolsonaro? Foi usufruindo desse vale-tudo que retornamos à fragilidade da democracia. Vale tirar dinheiro dos cofres públicos para vencer eleições. Vale denunciar até a última geração dos candidatos... só não vale debater educação, saúde e segurança. É por essa e outras que os atuais candidatos não despertam esperanças. São os mais fracos de toda nossa história democrática. Para aqueles oficiais e soldados havia uma serenidade simples em receber ordens. Depois de uma carreira, era um alívio entregar o leme e deixar que civis guiassem o país. A retidão existe de muitas formas. E mais morte virá antes que essa noite escura acabe.
Eles ajeitaram seus quepes e alisaram seus paletós, fortificaram-se mentalmente para as novas tarefas inerentes a uma democracia. Aquelas noites faziam parte de uma missão muito maior: uma cruzada pela honradez.

Eram todos os generais assassinos?

Negacionismo: "Não houve ditadura no Brasil" e nem Holocausto alemão.

Ursula Haverbeck é uma senhora de 88 anos. Apelidada de "vovó nazista", a idosa foi sentenciada várias vezes por refutar o extermínio de judeus perpetrado pelos nazistas. Ela afirma que é a "maior mentira da história" e que nada é verdadeiro nas câmaras de gás de Auschwitz. Para esse tipo de pensamento extremado, foi criado um conceito denominado "negacionismo".
Essa é uma escolha deliberada de negar a realidade como forma de escapar de uma realidade desconfortável. O negacionismo é uma rejeição de conceitos básicos, incontestáveis, em favor de ideias radicais. Via de regra é utilizado por aqueles que visam tão somente interesses próprios mesquinhos, mas há aqueles que praticam o negacionismo como forma de defesa de pensamentos perturbadores.
Para todos aqueles que negam a ditadura brasileira há outro conceito a ser refletido: obscurantismo. É a pratica de deliberadamente impedir que os fatos ou detalhes de algum assunto se tornem conhecidos. Muitos querem restringir o acesso do povo ao conhecimento.

Eram todos os generais assassinos?

Ecos de um passado distante de autoritarismo.

O principal debate que o Brasil vem travando nos últimos anos diz respeito à nossa eterna tendência autoritária. Colocar militares que professam essa tendência no centro da vida política não é novidade. Pelo contrário, tivemos dois militares concorrendo à presidência logo após a Segunda Guerra Mundial. Ainda que muitos não desejem enxergar, os militares ao longo de nossa história estiveram divididos em correntes autoritárias e democráticas.
Após muito titubear, o Brasil enviou tropas para combater o nazi-fascismo. Getúlio Vargas o ditador que acabou optando pelo lado das forças democráticas mundiais, anteriormente, havia negociado com Hittler a construção de uma usina siderúrgica pela empresa Krupp em solo brasileiro. Roosevelt, presidente dos EUA, respondeu construindo a usina de Volta Redonda, no Rio de Janeiro. Com a venda de borracha e aço para os aliados, o Brasil fez um caixa de US$700 milhões, o equivalente a muitos bilhões de dólares atuais.
Com os ventos pós-guerra favoráveis à democracia, a ditadura getulista ruiu. Havia a necessidade de novas leis e de novos políticos. As eleições escolheram parlamentares para escrever uma nova Constituição é um presidente democrata. Para a Assembleia Constituinte a representação partidária foi: o PSD, um dos braços do getulismo, obteve 54% dos votos; a UDN, oposição a Getúlio, ficou com 28% e o PTB, o partido dialeto de Vargas, com tão somente 7% dos votos.
Na disputa eleitoral para a presidência, o PSD em aliança com o PTB lançou o general Eurico Gaspar Dutra. A UDN Respondeu com outro militar lançando o brigadeiro Eduardo Gomes. Com a vitória na guerra, os militares atingiram o ápice do poder no país. Todos queriam ser militares, padres ou funcionários do Banco do Brasil. O general Dutra venceu as eleições com 55% dos votos. Ambos eram autoritários. O lado democrático do militarismo teve pouquíssimos votos.
O governo Dutra adotou medidas repressivas contra sindicatos e quaisquer tentativas de organizações populares. Interviu em nada menos que 200 sindicatos, a quase totalidade dos existentes no país. Asfixiou a imprensa e impediu organizações sociais de existirem.

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