Faça-se o dinheiro e ele foi feito. Mais que nunca, dinheiro é fé
O Campograndenews lança uma enquete sobre levarmos dinheiro em espécie nos bolsos. Por mais que pareça uma questão desimportante, em verdade, é fundamental. Há pouco vimos o Congresso aprovar a independência do Banco Central. O que há por trás dessa decisão? Mas a mais importante de todas é: qual é o futuro do dinheiro?
Dinheiro uma questão de fé.
O dinheiro é um ato de fé. Ao contrário do que pensamos, não são as Casas da Moeda suas maiores fábricas. Quem fabrica enormes quantidades de dinheiro são os bancos. A moeda, o dinheiro em espécie, é uma instituição muito frágil, não há nada que a respalde, salvo a confiança. E também é a menos debatida, apesar de ser um vazio. Nossa noção de dinheiro é muito parecida à de Deus. Mas o dinheiro, esse instrumento misterioso, que acompanhou a civilização desde a Mesopotâmia, agora entra em um processo de mudanças profundas e cheio de incógnitas. Incógnitas sem resposta alguma.
Bitcoin é só o início.
Bitcoin e outras criptomoedas, que nasceram como meio de pagamento, mas se converteram rapidamente em meios especulativos, constituem tão só um início titubeante. Em alguns anos, quase todo o dinheiro poderá ser digital. Talvez só reste o "dinheiro do pobre", aquele que de tão pouco, não pode sofrer qualquer tipo de taxação bancária ou governamental. Isso criará um mundo diferente. O interessante é que nenhum especialista no mundo se atreve a dizer como ele funcionará.
Até há pouco era negócio de chato ou malandro.
Há apenas quatro anos, aqueles que propunham as moedas digitais e bitcoins, eram considerados chatos ou malandros. Agora, os Bancos Centrais da Europa, dos EUA e da China fazem ensaios com elas. O dos Estados Unidos está indo além, assinou um termo de cooperação com o MIT pra estudar com profundidade o que fazer com as moedas digitais e bitcoins.
Calma com andor, a oposição às moedas digitais.
Mas a oposição. A aposta é grande. O risco é altíssimo. É um território desconhecido. A comparação que fazem é com os celulares. De início, pensavam que era apenas um telefone que fazia outras coisas. Mudou tudo, foi a lugares impensáveis. Basta imaginar que destruirá os bancos. Muitos se alegrarão. Mas não é tão simples. Qual a resposta, quem pagará a dívida pública e privada que ultrapassa 360% do PIB mundial e que está nas mãos dos bancos?
É possível destruir os bancos?
É possível imaginar um mundo sem bancos? Dois banqueiros, sob o pseudônimo de Jonathan McMillan, descrevem esse mundo no livro "O Fim dos Bancos". Tem versão em português e custa R$35. Também há o "Adiós a los bancos", de Fernandez Ordoñes. Fazem uma boa ficção científica da destruição bancária universal.
A relação entre fé e dinheiro.
Essa questão está clara há muito tempo. No século XVI, quando aportavam portugueses e espanhóis nas costas brasileiras, a Ordem de Malta enfrentou o custo de sua guerra com os turcos substituindo suas moedas de prata por moedas de cobre com a inscrição: "Non aes est fides". Tradução: "não é o cobre, é a fé ". Não é casual, que o governo dos EUA, decidiu em 1956, em plena Guerra Fria, que o lema nacional seria "In God we trust", "Em Deus confiamos". E que cada cédula de dólar, levaria dai em diante, esse lema bem visível: Deus e a moeda como símbolos últimos da coesão social.
O homem-Deus vem aí?
O dinheiro nos separa do trabalho e da imposição da matéria. Nos faz mais livres. O homem com muito dinheiro se sente livre e onipotente. E aí entram os mega milionários, como Bezos e Elson Musk e seus namoros com as criptomoedas, o dinheiro privado, livre de qualquer relação com as nações, como fetiche último do homem-Deus. Mais importante, entra o Facebook, esse "país" com mais habitantes no mundo - tem quase 3 bilhões de usuários enquanto a China não tem nem a metade. O Facebook pode dedicar-se aos negócios que hoje estão dentro dos bancos? Pode criar plataformas de empréstimo de pessoa a pessoa? Sem duvida, destruiria os bancos do dia para a noite. Se não for o Facebook, pode ser o WhatsApp? Há inúmeras plataformas que fazem negócios bancário. Em um ano - 2020 para 2021 - esses negócios pularam de US$ 20 bilhões para US$ 120 bilhões. É aceitável que uma corporação como o Facebook conheça nosso dinheiro e dívidas? Já entregam tudo de mão beijada, só falta a privacidade do dinheiro.