Goela abaixo, a garganta em época de ômicron
Nossa garganta é um lugar um tanto perigoso. Morremos asfixiados com mais facilidade do que qualquer outro mamífero, vimos há pouco em Manaus. Na verdade, não será exagero dizer que somos construídos para sufocar, coisa que é claramente um atributo estranho para se ter na vida - com ou sem covid, com ou sem moeda colocada na traqueia.
Um reino cheio de mistérios.
Olhe dentro de tua boca. Grande parte do que você vê é familiar - língua, dentes, gengivas, o poço negro no fundo dominado por esse curioso penduricalho conhecido como úvula. Mas nos bastidores, por assim dizer, há todo um importante aparato muscular e estrutural cujos nomes a maioria nunca ouviu falar: gênio-hioide, valécula, levantador do véu palatino. Como no caso de todas as outras partes de tua cabeça, a boca e a garganta são reinos de complexidade e mistérios. As amígdalas, por exemplo. Estamos familiarizados com elas, mas quantos de nós sabem exatamente sua função? Para falar a verdade, ninguém.
Engolimos 2 mil vezes por dia.
A palavra que os anatomistas usam para o ato de engolir é "deglutição". Fazemos isso o tempo todo - cerca de 2 mil vezes por dia ou uma vez a cada 30 segundos. Engolir é um negócio mais complicado do que costumamos imaginar. Quando você engole um pedaço de pizza, por exemplo, ela não cai simplesmente no teu estômago pela ação da gravidade, mas é empurrada por contrações musculares. É por isso que podemos comer e beber de cabeça para baixo. No conjunto, 50 músculos podem entrar em ação só para levar o pedaço de pizza dos teus lábios ao estômago, e eles devem executar suas funções em ordem exata, não podem pular uma só delas. Caso contrário.... lascou!
Lascou, engasgamos facilmente.
A complexidade da deglutição se deve em grande parte à posição da laringe na garganta, mais baixa em comparação com os outros macacos. Quando levantamos e aderimos ao bipedalismo - andar com duas patas - nosso pescoço ficou mais longo e reto e se moveu para um ponto mais central sob o crânio, e não atrás, como em outros primatas. Essas mudanças facilitaram nossa capacidade de falar, mas também aumentaram o perigo da "obstrução traqueal", engasgamos com relativa facilidade.
Ar e comida marcham pelo mesmo túnel.
Únicos entre os animais, mandamos nosso ar e nossa comida pelo mesmo túnel. A pequena estrutura chamada epiglote, uma espécie de alçapão para a garganta, é a única coisa que se interpõe entre nós e a catástrofe. A epiglote abre quando respiramos e se fecha quando engolimos o pedaço de pizza. É isso que faz a pizza ir em uma direção e o ar em outra, mas quando falha.... Pensando bem, é um quase milagre termos essa capacidade sem que precisemos prestar atenção sequer por um instante.
Bactérias e vírus, os vilões entram em cena.
A infecção da garganta causada por um vírus, inclusive o ômicron, costuma ser 20 vezes mais comum que a causada por uma bactéria. Quando acontece, a confusão está armada. Tanto vírus quanto bactérias adoram se multiplicar na área da garganta. O sistema imune reage. Está desatada uma inflamação. Se for causada por um vírus, o contra-ataque do nosso organismo acontece em toda a região. Quando a causa é uma bactéria, a batalha tende a ocupar pouco "terreno", só nas amígdalas e em seu entorno.
Bactéria ou vírus, quem sabe?
Fácil de diferenciar. Olhe tuas amígdalas no espelho. Se estiverem envolvidas por uma espécie de placa esbranquiçada, em verdade placa de pus, a infecção é bacteriana. Corra a um médico pois só antibiótico mata bactéria. Se for na garganta inteira, será uma infecção causada por vírus, como a ômicron. Fique de repouso, tome muito líquido (não vale cerveja), algum anti-inflamatório e uma pastilha para reduzir a dor.