Marcos Trad e Pastor Dinho: muito barulho por nada
Após longa espera, o mundo político parece curvar-se à evidência e insistência de Marcos Trad. Desistirá do mandato de uma prefeitura em seríssimas dificuldades financeiras para concorrer ao cargo de governador. Procuram explicações para essa possível decisão na psicanálise, Trad estaria louco. A cena descrita pelo jornalista Dante Filho de um Marcos Trad em transe, ajoelhado aos pés do governador Azambuja, seria a prova final da necessidade de internação em algum manicômio. Ainda que creia nas palavras do jornalista, não acredito na sinceridade do ato de humilhação do Trad.
Pastor Dinho, de manda-chuva na Secretaria de Fazenda a guru do M. Trad.
Muitos perguntam de onde saiu esse tal de Pastor Dinho, tido como sustentáculo espiritual do Trad? Ele era o poderoso chefão da Secretaria de Fazenda do governo estadual. Comandava todos os fiscais e ATEs de então. De família evangélica, Pastor Dinho, nascido Gladstone Amorim, soube manter posição elevada na turbulência de uma vida feita na militância petista para a transição de um governo peemedebista. Sabe viver em dois mundos diametralmente opostos. Gladstone também fez faculdade teológica ligada aos evangélicos. Enfim, nascido e criado no meio religioso, tem a sagacidade de um político. Um guru de peso para um político de berço, muito distante de qualquer devaneio espiritual. Um bom professor de gestos e palavras usados nos rituais evangélicos.
Quem acredita no "Homem ungido por Deus"?
Ainda que as letras do Dante Filho nos deem uma cena fortíssima, a venda de uma imagem de evangelismo começou antes da corrida eleitoral para a prefeitura. M. Trad passou a vestir o figurino evangélico radical há anos. Um de seus irmãos leva essa mudança na chacota. Seus mais próximos sempre riem dessa performance de palco mambembe. Seu histórico não lhe permite conquistar credibilidade religiosa.
Da boca do canhão para a Lua.
Esse mesmo irmão conta que M. Trad muda de lado como poucos e usa como referência o futebol. De uma infância corintiana, por exemplo, passou a ser vascaíno, quando o time carioca jogava bem e o paulista estava mal. É um exagero histriônico acreditar no "Homem ungido por Deus". Equivale a ser lançado de um canhão para a Lua, criação de Júlio Verne. Simples explicação. A militância evangélica na política conquista muitos votos; a católica, nada acrescenta. Nada melhor que ser o chefão dos evangélicos, ungido por Deus, é claro.
Muito barulho por nada ou uma tragédia familiar?
A família Trad é conhecida jogadora de poker. M. Trad sabe do imenso risco de sua candidatura ao governo. Equivale a jogar todas as fichas tendo nas mãos um jogo entre pequeno e mediano. Também sabe que sua família conquistará o auge da fortuna ou despencará para um abismo onde crepitam o fogo e os tridentes dos demônios açulam as bundas dos pecadores e blefadores. Em poker chama-se all-in, tudo ou nada. Essa jogatina está mais para uma peça de Shakespeare. "Muito barulho por nada", narra uma história de traições e um mundo de crenças inacreditáveis. M. Trad está longe de ser um maluco, é um ator de teatro mambembe. Tem nas mãos dois pares baixos em uma mesa que indica um royal straight flush.