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Em Pauta

Marina Silva – afinal de contas, o radicalismo sustentável está evaporando?

Mário Sérgio Lorenzetto | 21/08/2014 08:08
Marina Silva – afinal de contas, o radicalismo sustentável está evaporando?

O perfil dos candidatos:

Marina - o radicalismo sustentável está evaporando?

Não há dúvida, a candidatura de Marina é um sério risco para a reeleição de Dilma. O perigo de uma derrota de Dilma que era tênue com Eduardo e Aécio, tornou-se a concretização da terceira via tão sonhada por muitos empresários. Menos os do agronegócio. O mercado deixou de temer a eleição de Marina Silva. Ela cercou-se de alguns economistas que não assustam e passou a assumir um discurso que está sendo entendido como "correto", em favor da estabilidade, dizem.

Defendeu o retorno da política econômica ao tripé que a sustentava e que a atual gestão do Ministério da Fazenda permitiu entrar em parafuso. "Reafirmamos o compromisso de manter o superávit primário, o câmbio flutuante, a meta da inflação e a autonomia do Banco Central", declarou a candidata tão logo migrou para o PSB, no ano passado. No início de agosto deste ano, porém, Marina já estava com uma visão diferente: “Nossa posição é de que o Banco Central tem de ter autonomia. Porque sem ela não há como dar conta daquilo que queremos recuperar que são os instrumentos da política econômica".

Um de seus principais assessores, Eduardo Giannetti, advogou a candidatura de Marina como "solução natural" e, novamente, tranquilizou os empresários ao dizer que "na área econômica, o PSB é igual ao PSDB".

Se um governo Marina não assusta os mercados, também não os empolga. E há preocupação com as relações que ela manterá, caso eleita, com o próprio PSB e com o Congresso. Resta o agronegócio como obstáculo principal. O pragmatismo de Marina com o empresariado será transferido para o seu principal adversário? Teremos uma "Carta aos Brasileiros do Agronegócio" sustentada por Marina?

A acreana, historiadora, de 56 anos que iniciou sua carreira política como coordenadora da Central Única dos Trabalhadores – CUT -, virou o símbolo da luta ambientalista no Brasil e fora dele. De simples vereadora chegou ao posto mais alto possível - o de colocar em risco a permanência petista no governo depois de ver o seu partido - Rede - naufragar na desorganização. Temos terceira via, queiram ou não.

Marina Silva – afinal de contas, o radicalismo sustentável está evaporando?
Marina Silva – afinal de contas, o radicalismo sustentável está evaporando?

O Ministério Público Federal do Pará e o "Acordo Verde dos Grãos"

Compradores de soja do Estado do Pará assinaram um documento com o Ministério Público Federal - MPF - e o governo do Estado no qual se comprometem em não comprar grãos de propriedades que tenham desmatado ilegalmente florestas. A iniciativa, chamada de "Acordo Verde dos Grãos", visa a impedir que a expansão das lavouras de soja ocorra de modo insustentável. A expansão das lavouras de soja naquela região é prevista em decorrência da nova malha de transporte que está sendo construída.

A tentativa do acordo dos grãos é replicar o programa "Carne Legal" da pecuária, que amarrou um comprometimento da indústria de assegurar a procedência dos bovinos. O instrumento de fiscalização acordado pelas partes que assinaram o acordo será o CAR (Cadastro Ambiental Rural). Só será comprada soja de propriedade que tiver o CAR.

No Mato Grosso do Sul, o desmatamento não é tão preocupante quanto no Pará, inclusive porque a grande derrubada de árvores em nosso estado ocorreu muito tempo antes das leis de proteção ambiental. Mas ainda há muitas áreas sendo desmatadas. Não seria de bom senso replicar os dois programas do Ministério Público Federal em nossas terras e construir mais um obstáculo aos "motosserras gananciosos"?

Marina Silva – afinal de contas, o radicalismo sustentável está evaporando?
Marina Silva – afinal de contas, o radicalismo sustentável está evaporando?

O papel do lítio na indústria automotiva e o inovador ônibus chinês

Ainda há espaço para o etanol da cana-de-açúcar. Em 2012, a indústria automotiva norte-americana vendeu 500 mil veículos que utilizam bateria de lítio - o carro elétrico. A venda desse tipo de carros representava, naquela época, mais de 3% de seu mercado de automóveis. Já é comum encontrar pontos de energia nas portas dos hotéis nos EUA. Na China, em 2013, venderam 125 mil veículos elétricos de baixa velocidade, um aumento de 68% em comparação com o ano anterior. A China planeja substituir parte importante de seus veículos movidos a petróleo por elétricos. A projeção da demanda mundial de carbonato de lítio, em outras palavras, começa a ocupar espaço. Em 2012, a demanda de lítio estava em 150 mil toneladas aproximadamente e se projetava uma demanda de mais de 300 mil toneladas até 2020.

Os maiores compradores de lítio são os EUA, a Alemanha e a China. BYD é um fabricante chinês de ônibus elétricos. É tido, inclusive nos EUA, como muito mais avançado que seus competidores - traz uma inovação - o motor está nas rodas. O motor nas rodas torna obsoleto o sistema de transmissão, reduz o peso, aumenta o espaço e gera energia exatamente onde se necessita: nas rodas. Os ônibus da BYD tem um raio de ação de mais de 250 km nas zonas urbanas ao receber somente uma carga de energia elétrica. É muito superior a qualquer outro ônibus. Começaram a ser vendidos nos EUA, na Europa e na América do Sul. No Brasil não há notícia. Sem dúvida, serão parte do sistema de transporte público em muitas cidades importantes no mundo.

Também há um dado que não receba a atenção dos brasileiros - 85% das reservas mundiais de lítio estão localizadas na Bolívia, Argentina e Chile. Juntos, brevemente, poderão regular preços tal como os produtores de petróleo o fazem. A China já avançou e começará a produzir baterias na Bolívia em um projeto conjunto.

O avanço do etanol da cana-de-açúcar, além da politicagem que o vem envolvendo nacionalmente há mais de 20 anos, não conquistou os espaços europeus que prometia. Os adversários de nossa tecnologia utilizaram um discurso do "grande guia genial dos povos" Fidel Castro para dinamitar a entrada do etanol em campos europeus. Fidel disse que a cana-de-açúcar ocuparia os espaços dos alimentos. Um discurso falacioso.

Marina Silva – afinal de contas, o radicalismo sustentável está evaporando?
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Duas mentiras financeiras que precisam ser evitadas

Já ficou com aquela sensação de estar diante de uma oferta boa demais para ser verdadeira? Pois é, os vendedores de ilusão são criativos e nunca param de agir. A mais conhecida delas é o título de capitalização. Alguém no teu banco dirá que é investimento. O principal atrativo desses títulos é o sorteio. Tem sorteio de tudo: carros, motos, casas e até de dinheiro. Todavia, a rentabilidade não vale a pena. Bem claro, se você acredita ter tanta sorte para ganhar um dos prêmios vá jogar na loteria e invista bem seu dinheiro.

Além da péssima rentabilidade, quando ocorre, a liquidez também é limitada. Veja bem, se você tiver um contratempo e tiver de usar seu dinheiro aplicado em títulos de capitalização não poderá. O percentual disponível para resgate varia de acordo com o passar dos meses e a opção de tirar alguma coisa só começa depois de 12 meses.

A outra mentira com que você frequentemente tromba é a compra com "juro zero". Pense no preço atual de um produto qualquer. Diante do cenário econômico nacional, você acredita que esse produto terá o mesmo preço daqui a 12 meses? Isso se aproxima do impossível. A inflação eleva, constantemente, os preços das mercadorias e serviços. Quando alguém apresenta uma oferta de "juro zero", na prática está dizendo o seguinte: o preço total do produto já embute nossas expectativas de juros nos próximos meses. Novamente bem claro, o tal produto sem juros tem juros sim e sempre é muito elevado. Ou seja, há margem para desconto ao optar pelo pagamento à vista. Pechinche.

Marina Silva – afinal de contas, o radicalismo sustentável está evaporando?
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Minas terrestres na América do Sul, problema oculto ou ignorado?

Quando alguém faz cara de espanto ao ouvir que a América do Sul é o campeão de vítimas de minas terrestres no mundo, o fotógrafo de guerra Vinícius Souza não fica mais surpreso pela ignorância do interlocutor ao problema. Ao contrário, desejaria receber R$ 1 a cada repetição da cena. “Estaria milionário”, resume. O fotógrafo de guerra, juntamente com a esposa, Maria Eugênia Sá, denunciam uma situação que passa despercebida para a maioria da população, principalmente aos brasileiros acostumados a associar minas aos conflitos no Oriente Médio ou África ou Ásia. O maior número de vítimas deste tipo de artefato, contudo, fica na Colômbia. Somente em San Carlos, no departamento de Antioquia, o governo colombiano registrou 10.957 vítimas no período de 1990 a 2014.

Conforme Vinícius Souza, são quatro novas vítimas todos os dias. A Colômbia está em segundo lugar na quantidade de pessoas mutiladas por minas terrestres, ficando atrás, somente do Afeganistão. Para os que ficam em dúvida sobre o porquê da instalação dos artefatos em um lugar impensável para a maioria, a resposta é simples: nos anos 80, pelas Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e pelo Exército de Libertação Nacional, nos últimos anos, porque os campos para o plantio de drogas necessitam de proteção. Ainda que seja um desafio enfrentar a engrenagem que move a máquina do tráfico na América do Sul, o governo colombiano em cooperação com o Peru, Chile a Argentina iniciou em maio deste ano pesado trabalho para a remoção dos artefatos. Nos últimos anos, 200 mil minas foram retiradas.

A empresa contratada para retirar os equipamentos foi a Projetos Estratégicos Consultoria, do México, país que também vive sob o jugo do tráfico de drogas, tendo o cartel Zettas como o principal agente deste tipo de crime. Dados do governo colombiano apontam que, das vítimas, 80% não sobrevieram, 6,3 mil eram militares e 4,1 mil civis. Entre os civis, os mais penalizados estão na área rural. Em 4 de abril deste ano, a representante colombiana na ONU (Organização das Nações Unidas) Emma Mejía, fez um comunicado sobre o problema para marcar o Dia Internacional de Alerta sobre Minas Terrestres e Assistência à Desminagem. Nem pareceu, porque o problema, embora seja colocado como uma dos mais importantes para a segurança dos países, ainda é praticamente ignorado.

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