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Em Pauta

No cheiro da erva: a invasão gaúcha na fronteira do MS

Por Mário Sérgio Lorenzetto | 22/04/2024 08:50
Campo Grande News - Conteúdo de Verdade
Imaginem 300 mil gaúchos chegando hoje em nossas fronteiras com o Paraguai. Haveria um colapso. O caos tomaria conta da região. Foi o que aconteceu por volta de 1.900. Uma primeira leva de 10.000 gaúchos, nos anos finais do século XIX; seguida de outra, com sete mil nos anos iniciais do XX. Dezessete mil gaúchos chegaram na região. As guerras de brancos por terras explodiram.


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Uma fotografia do MS dessa época.

Mato Grosso do Sul era um lugar quase desabitado. Em seus 357 mil quilômetros quadrados, viviam tão somente 71mil habitantes, brancos e indígenas. Eram manchas populacionais. Uma pequena aldeia indígena ali, um pequeno povoado de brancos acolá. A conta é de cinco pessoas em cada quilômetro quadrado. Apenas oito cidades com populações que variavam de setecentas a menos de duas mil pessoas. Era mato de todos os lados. Nos campos da Vacaria - região de Jardim a Nova Andradina - e nas fronteiras do Paraguai, a terra era fértil e começava a ter essa qualidade propagandeada. E havia a erva-mate. Hoje, é inacreditável, o cultivo da erva-mate era quase monopolizado por uma fazenda de 5 milhões de hectares denominada Mate-Latanjeira, um investimento originário da Argentina. Com a chegada do êxodo gaúcho, a população pulou para 88.000. Só podia fomentar guerras.


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Eles vinham da guerra.

A fotografia do Rio Grande do Sul desse período nos mostra armas para todos os lados. Havia uma guerra entre governistas - chamados Pica-pau e rebeldes - denominados Maragatos. Na primeira grande batalha, com milhares de mortos, os Maragatos perderam. Refluíram para uma guerra de guerrilhas. Guerreando diariamente, em locais diferentes, venceram inúmeras batalhas: no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e chegaram até em Curitiba. Mas Floriano Peixoto enviou suas tropas. O Corta-Cabeças, alcunha de António Moreira Cesar, comandante dessa tropa, derrotou definitivamente os Maragatos. Os derrotados, nada lhes restando, senão a morte, viajaram por um longo percurso, um êxodo. A pé, a cavalo ou em carretas puxadas por bois, entraram na província de Missiones, na Argentina, seguindo até a cidade de Posadas. Atravessaram o rio Paraná, alcançando Encarnación, no Paraguai e entraram no Mato Grosso do Sul por Ipebum, atual Paranhos. Desde ali, esparramaram-se pela fronteira até Bela Vista. Poucos de lá saíram para outras cidades. As disputas por ervais não cessaram por muitas décadas. A Mate-Laranjeira grande inimiga, quase sempre vencia. Saíram da guerra, tiveram de enfrentar inúmeras batalhas. Viveram uma história mais de guerreiros que de fazendeiros. Foram aguerridos, formaram a ossatura da região.
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