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Em Pauta

O Brasil já pode eleger um nordestino, negro ou índia?

Mário Sérgio Lorenzetto | 20/04/2018 10:32
O Brasil já pode eleger um nordestino, negro ou índia?

O Brasil não é um país cordial. Uma recente pesquisa realizada pelo Ibope, encomendada por uma fábrica de cerveja, traçou o retrato do preconceito no país. O machismo é o preconceito mais percebido pelos brasileiros, foi conferido por 99% dos entrevistados. A discriminação racial - contra negros e índios - vem logo abaixo, atingiu o índice elevadíssimo de 97%. Isto é, brancos, negros e índios são quase unânimes em confirmar a existência do imenso racismo brasileiro.
Além disso, 45% respondeu já ter visto preconceito, mas a metade decidiu não reagir diante da situação. Quando há reação, as mulheres são as que mais agem: 60%. Já o preconceito contra os nordestinos é um guarda-chuva de preconceitos, começa com o ódio ao pobre, e continua com a intolerância contra índios e negros. Os mais "honestos", aqueles que admitem ser preconceituosos, são os residentes no sudeste: 21%.
Há bem pouco tempo o "sul maravilha" - sul, sudeste e centro-oeste, explodiu. A derrota de Aécio Neves foi entendida como o avanço dos nordestinos sobre a riqueza do sul maravilha. O ódio contra os nordestinos saiu das redes sociais e foi para a Avenida Paulista, onde se viam cartazes mostrando a ira contra as populações do Norte e Nordeste. E essas manifestações ainda não cessaram. Um dos maiores alvos é o Bolsa Família. Entendem que o Nordeste foi beneficiado porque 55% das pessoas que ganham até um quarto do salário mínimo - público alvo desse programa - estão naquela região.
A eleição de outubro não será apenas a disputa entre ideologias, será um encontro funesto com nossas diferenças e ódios.

O Brasil já pode eleger um nordestino, negro ou índia?
O Brasil já pode eleger um nordestino, negro ou índia?

O cérebro racista.

Tentando explicar o racismo, está em voga a tese de dois cientistas. Eagleman e Mlodinov são taxativos: "somos racistas por natureza". Nosso cérebro, inconscientemente, é capaz de agrupar objetos e pessoas em categorias. Essa ideia explicaria o racismo e outros comportamentos questionáveis, como a xenofobia.
Desde Freud, e mesmo antes dele, surgiram várias teses assemelhadas à de Eagleman e Mlodinov. Partem do pressuposto de que somos vítimas de nosso inconsciente. Algo assim como se não quiséssemos ser racistas, mas há um outro ser dentro de nosso cérebro que nos controla. Imagino que seja um extra-terrestre.
Há explicação para tudo. Desde por que mentimos ou agredimos, até por que somos egoístas, desde por que gostamos de gordura e açúcar, até por que nos apaixonamos. Agora, finalmente, sabemos também por que raios somos racistas. Pode parecer consolador ou conveniente saber que somos joguetes, gravetos impotentes nas mãos da natureza irracional. Mas, será mesmo bem isso?

O Brasil já pode eleger um nordestino, negro ou índia?

Pensamentos perigosos.

Há um teste simples. Na calçada, uma jovem pergunta qual o caminho até a rodoviária. A maioria dos passantes lhe dá a informação, somente uns poucos mal educados ou apressados seguem adiante, ignorando-a. Um pouco mais tarde ela retorna ao local para fazer a mesma pergunta. Com uma diferença: a jovem agora usa um chapéu de couro típico de nordestinos. O número de pessoas que agora ignora a jovem mais que duplica. Substitua o chapéu de nordestino por um cocar indígena. O teste terá resultados assemelhados. A causa, evidente, é uma só: preconceito.
Também existem testes usando sobrenomes típicos e fotos típicas. Tentam alugar apartamentos ou conseguir emprego. Os resultados são os mesmos: preconceito. Estão profundamente arraigados na memória, fazem associações negativas. Constroem o medo.

O Brasil já pode eleger um nordestino, negro ou índia?
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