O inimigo - irresponsabilidade. Ninguém explica por que a educação não dá certo
O inimigo número 1 da educação é a irresponsabilidade.
Não existe governança na educação. Ninguém é o responsável. Ninguém senta e explica por que a educação não dá certo. É possível explicar esse problema com uma analogia com o futebol. Todo mundo tem de apoiar a seleção. Mas há necessidade de eleger uma equipe técnica que vai fazer a seleção jogar bem. Esse conceito comezinho não existe no país. Todos acreditam piamente que com mais dinheiro investido na educação ela melhorará. É uma ideia miraculosa. Só acredita nela quem crê em mágica.
Vamos dar 10% para a educação ou outro percentual qualquer. Quais serão as consequências caso a educação não apresente resultados? A resposta é uma só: nenhuma. Estamos certos em aumentar as despesas com o ensino, mas o aumento de verbas tem de estar ligado à governança. A pergunta que se faz de imediato é: não seria o ministro da Educação o responsável por sua governança? Ele e todos os demais dizem que não, pois há descentralização. Que país é esse onde ninguém é responsável pelo maior desafio de todos? A descentralização na educação é ótima, mas se ela ocorre à custa de nenhuma governança, não faz sentido. É igual tentarmos colocar alguém na lua sem um projeto e sem governança. A nave não decolará. E dirão que faltou dinheiro para ela chegar a seu destino.
Há outro problema fundamental a ser resolvido na educação: você vai a um bairro pobre e encontra uma escola com ótimos resultados educacionais, mas a escola do bairro vizinho apresenta péssimos resultados. Uma coisa que poderia ser feita seria regular a autonomia de cada uma delas. A sua escola está bem? Ela terá autonomia. Vai mal? Isso deve mudar. Existe uma coisa que é a hierarquia do direito: acima do direito de autonomia da escola está o direito do aluno de aprender. O que você faz quando uma empresa apresenta maus resultados? Muda o gestor. Com a escola acontece o contrário. Ela apresenta resultados horríveis e ninguém diz: "Basta, vou trocar o diretor". Se tivermos uma grande tropa de bons diretores nas escolas, teremos um início de transformação real do ensino. Mas há uma questão que é chave, decisiva: como promover a difusão dos bons exemplos em um sistema estatizado em que ninguém tem incentivo para melhorar nada? A resposta óbvia é: com remuneração diferenciada e com destaques aos responsáveis pelos bons trabalhos na imprensa.
Um professor é diferente do outro, mas é tratado como se fosse igual. Como gerir uma "empresa" com centenas de milhares de funcionários, com qualidade variada entre eles, pagando o mesmo salário? Esse tipo de administração é arcaico e só serve para os sindicatos e para os funcionários que não apresentam bons resultados. Isso vai contra qualquer princípio básico de boa administração.
A aristocracia eleitoral e a corrupção como sistema de governo.
"Corromper os colégios eleitorais era coisa fácil. Estes colégios se compunham, em geral, de poucos eleitores; muitos deles contavam apenas com 200, dentre os quais um grande número de funcionários. Os funcionários obedeciam às ordens recebidas; quanto ao eleitor comum, compravam-no dando a seus protegidos, lojas de tabaco, bolsas nos colégios, ou então concedendo a ele próprio alguma importante função administrativa. Na Câmara, como nos colégios eleitorais, os funcionários eram muito numerosos: mais de um terço dos deputados - 184 de 459, em 1846 - eram prefeitos, magistrados, oficiais. O ministro os controlava alimentando a esperança de promoção. Para atingir a maioria, bastava de trinta a quarenta deputados. Desta forma, a corrupção constituiu-se como um sistema de governo, e inúmeros escândalos, no fim do reinado, provaram claramente que os subalternos praticavam o sistema tão bem quanto o primeiro-ministro". A.Malet e P.Grillet, XIX Siècle, Paris, 1919. Na época, Lamartine (célebre político e escritor francês conhecido por sua influência ao romantismo) chamou a atenção para os perigos de uma "aristocracia eleitoral". A Paris do início do século passado guarda alguma semelhança com o Brasil de 2015?
Conhecem a Revolução Francesa?
" O protestantismo...aboliu os santos no céu a fim de poder suprimir na terra os feriados a eles dedicados. A Revolução (Francesa) de 1789 foi ainda mais longe. A religião reformada havia conservado os domingos; os burgueses revolucionários achavam que um dia de descanso em cada sete era demais, e instituíram, no lugar da semana de sete dias, a década, para que houvesse um dia de descanso só a cada dez dias. E para enterrar de vez a lembrança dos feriados religiosos...substituíram no calendário republicano os nomes dos santos pelos nomes dos metais, plantas e animais". Paul Lafargue, "Die christliche Liebestätigkeit". Liberdade, Igualdade e Fraternidade deram o "charme". Mas...a verdade é bem mais complicada e complexa.
A verdadeira "Fraternidade" à la francesa.
"A questão dos pobres assumiu logo nos primeiros dias da Revolução o caráter de máxima gravidade e urgência. Bailly, que acabara de ser eleito prefeito de Paris com o propósito de aplacar a miséria dos operários, agrupou-os e formou uma massa - cerca de 18.000 pessoas - e os encurralou como animais selvagens na colina de Montmartre; aqueles que haviam tomado a Bastilha de assalto vigiavam os operários com canhões, segurando nas mãos as mechas acessas...Se a guerra não tivesse empurrado os operários das cidades e os camponeses desempregados e desamparados para o exército, e não os tivesse lançado às fronteiras, teria havido uma sublevação popular na França inteira". Paul Lafargue, "Die christliche Liebestätigkeit".
O Prêmio Nobel e o Danoninho que mata a fome em Bangladesh.
Bangladesh é um pequeno país que foi formado a partir do Paquistão. Tem um território do tamanho do Amapá e sua população é 220 vezes maior que o estado brasileiro. Conta com mais de 150 milhões de habitantes. Apenas 15% residindo nas zonas urbanas. É muito pobre. No ranking do IDH, índice criado pela ONU para medir o padrão de desenvolvimento das nações, Bangladesh ocupa a posição 142. Para piorar, cerca de 52% da população com mais de 15 anos não sabe ler e nem escrever e 56% das crianças com menos de 5 anos de idade sofrem com desnutrição.
Em 2005, um economista bengalês, Muhammad Yunus, propôs à Danone, uma das maiores empresas de alimentos do mundo, uma "parceria": criar um alimento capaz de suprir parte importante das necessidades nutricionais das crianças por um preço acessível. A Danone aceitou o desafio. Em 2007, as mães da cidade de Bogra, uma das mais pobres do país, passaram a comprar um iogurte fortificado por algo como R$ 0,20. Hoje são vendidos mais de 87.000 potinhos por dia nessa cidade. Yunus também é o famoso criador do banco de microcrédito Grameen nos anos 70 e que foi copiado no mundo todo - inclusive pela Prefeitura de Campo Grande e pelo Governo do Estado (geridos burocraticamente, nunca decolaram). Yunus foi o vencedor do Prêmio Nobel em 2006. Talvez a ideia do Danoninho que mata a fome seja melhor sucedida no Brasil.
Uma nova pesquisa sustenta que os robôs não roubam empregos.
As máquinas sempre despertaram o medo de que, em algum momento, substituiriam os seres humanos. Esse temor é algo real para milhões de trabalhadores que já perderam ou brevemente perderão seus empregos. De acordo com a consultoria McKinsey, 60 milhões de empregos no mundo serão substituídos por robôs até 2025.
Mas há estudos que dizem o contrário. Recentemente foi publicado o "Robots at Work" ("Os robôs no trabalho"), estudo realizado pelo Centro de Performance Econômica da London School of Economics que afirma que a ideia das máquinas como responsáveis por desemprego é insustentável. Eles analisaram 14 setores industriais de 17 países no período de 1993 a 2007. A conclusão deles foi: "Vimos que a adoção de robôs nas linhas industriais aumenta a produtividade, amplia o tamanho dos negócios e permite que os trabalhadores substituídos por robôs encontrem novas ocupações dentro das próprias empresas". Igualmente inesperada foi a constatação de que os trabalhadores, nessa transição, registraram uma elevação salarial, pequena, mas ainda assim positiva. Mas quando se examinam os subgrupos, percebe-se que os funcionários com baixa e média qualificação tendem a perder o emprego ou ser realocados para uma posição com remuneração pior. Enquanto os funcionários altamente qualificados são os que sempre conseguem os ganhos salariais embutidos na introdução de novas tecnologias.