O reverso das histórias mais populares
Muito do que aprendemos na escola está errado. A história contada por muitos está eivada de desinformação. Manipulações grosseiras vem sendo cometidas. Vejamos o que de fato aconteceu em alguns momentos importantes do nosso passado.
A escola conta: O carnaval brasileiro é uma festa popular espontânea.
Nas festas populares do Brasil Colônia, as pessoas saiam às ruas para jogar água e bola de cera umas nas outras. Homens se vestiam de mulher, outros se vestiam de padre e simulavam missas bem-humoradas... Enfim, um caos. Ainda hoje, o carnaval é essa festa desorganizada.
Mas a verdade é: O desfile de carnaval é uma invenção de Vargas.
O que hoje conhecemos como desfile de carnaval foi uma invenção política dos anos ditatoriais de Vargas. O presidente se inspirou nas manifestações organizadamente pelo italiano Benito Mussolini: trajeto definido com antecedência, divisão em blocos temáticos e ritmo. Aquilo que era uma festa espontânea, virou um evento controlado.
A escola conta: Canudos era uma comunidade igualitária.
Antônio Conselheiro, líder espiritual que fundou a comunidade de Canudos, no final do século XIX, era como Che Guevara: criou uma sociedade de direitos iguais e sem propriedade privada. Foi esse espírito de liberdade que levou os 25 mil moradores a superar a miséria e vencer três missões do Exército brasileiro.
Mas a verdade é: Canudos tinha muita desigualdade social.
A maior luta travada por Antônio Conselheiro era contra os impostos. A comunidade que ele criou era mais aberta e liberal do que se imagina. Comerciantes circulavam livremente e não pagavam impostos e nem taxas. Com isso, a cidade ganhou habitantes e classes sociais díspares. Alguns empresários, como Antônio Vilanova e Joaquim Macambira, enriqueceram vendendo tudo que fosse possível.
A escola conta: Lampião defendia os pobres.
Virgulino Ferreira entrou para o cangaço para vingar o assassinato de seu pai. Por duas décadas do século passado, foi o homem mais temido do sertão e do Brasil. Mas Lampião defendia os pobres e atacava os ricos. Nos anos 70, o famoso (e equivocado) historiador britânico Eric Hobsbawn, chegou a classificar o cangaceiro brasileiro como um "bandido social", ao lado do inglês Robin Hood e do norte-americano Jesse James.
Mas a verdade é: Lampião liderava uma gangue de crime organizada.
Lampião não lutava contra coronéis em defesa dos pobres. Ele liderou um grupo, que hoje se assemelha aos narcotraficantes das favelas cariocas e da nossa fronteira, com forte senso de hierarquia e suas próprias noções de justiça. Ele não era rival dos ricos em geral, o mito de que odiava ricos vem do ataque à fazenda da Baronesa de Água Branca, uma senhora de mais de 90 anos. O "herói do sertão" até gostava de ser bem tratado e paparicado por alguns ricaços do sertão. Vivia exibindo com orgulho as joias que deles ganhava (de muitos ricos, Lampião tomava à força). Lampião construiu uma rede de alianças com os ricos de várias cidades do nordeste.