O segredo da dexametasona, o remédio que salva vidas na UTI
A história da dexametasona começa em 1941. Tem algo a ver com os litígios de espiões durante a guerra. A espionagem norte-americana recolheu falsas informações de que submarinos alemães estavam realizando missões secretas para adquirir na Argentina glândulas supra renais de vacas. Delas, extrairiam hormônios esteroides que aumentariam a resistência de seus pilotos de caças e de tanques. Nada disso estava ocorrendo, em verdade, os alemães estavam comprando dos japoneses pervertim, uma anfetamina que aumenta a capacidade de concentração e impede a sonolência... e vicia. Os alemães compraram milhões de comprimidos dessa droga. Ao descobrirem o erro, as autoridades norte-americanas fixaram como meta conseguir a síntese artificial de outro hormônio - a cortisona.
Conseguiram realizar a síntese, mas não sabia o que fazer com o medicamento.
Um químico de 26 anos, Lewis Sarett, conseguiu resolver sintetizar a cortisona em 1944, com um método revolucionário. Sabiam que a cortisona não tinha o mesmo efeito do pervetim, mas não sabiam para o que esse hormônio serviria. Dois cientistas - Philip Hench e Edward Kendall - decidiram provar a cortisona em uma mulher com artrite reumatoide, considerada então, como uma das doenças mais cruéis e incapacitantes. A paciente melhorou em apenas três dias de tratamento. Os dois cientistas ganharam o Prêmio Nobel de Medicina de 1.950.
A cortisona provocava delírios.
Durante algum tempo, a cortisona foi considerada como um medicamento anti-inflamatório milagroso. Mas tinha consideráveis efeitos adversos, provocava delírios em alguns pacientes. Em 1.957, Lewis Sarett voltou ao laboratório. Sintetizou uma nova versão, mais segura, mais barata e 35 vezes mais potente que a cortisona. Nascia a dexametasona. Esse medicamento não serve para matar o coronavírus. Mas ele reduz substancialmente a reação inflamatória tresloucada que surge em muitos enfermos de covid e pode matar. A dexametasona é o melhor encontrado até agora. Não é uma bala de prata. Mas uma enorme pesquisa feita pela Universidade de Oxford mostrou que ela reduziu a mortalidade dos enfermos submetidos a ventilação mecânica - intubados - de 41% para 29%. E quando combinada com o tocilizumab, reduz em 50% a mortalidade dos enfermos internados em UTI.