Pecuária e bagunça climática, um debate com muitas armadilhas
A era dos extremos climáticos começou. Só não enxerga quem trocou a máscara contra a covid por vendas nos olhos. Cegueira ideológica ou gananciosa. Secas extremas e inundações afligem milhões. Incêndios gigantescos nunca vistos. O calor extremo mediu 54 graus no Canadá, uma das geladeiras do mundo. Também está destruindo o permafrost, a terra congelada eternamente, da Sibéria. Há algumas diretrizes climáticas que já não suscitam dúvidas, abandonar o uso do petróleo, gás e carvão é uma delas. Todavia, o debate climático sempre trás consigo a questão da pecuária, do "pum" da vaca. Essa é uma questão cheia de armadilhas.
Tudo começou com o informe da FAO de 2006.
O impacto ecológico das fazendas de gado não começou agora. Foi em 2006, quando um informe da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura - FAO - intitulado "Livestocks long shadow" - algo como "Longa sombra da pecuária", lançou uma mensagem e uma cifra concreta - a pecuária era responsável por 18% das emissões globais de gases que causam a atual bagunça climática. Dizia ainda que essa era uma cifra superior à soma de todo o transporte mundial.
A FAO muda a percentagem.
Enquanto o público e os jornais reagiam com aplausos ou vaias, segundo as inclinações de cada um, outros especialistas em climatologia reagiram com estupefação: aquele dado não era o mesmo com que trabalhavam. Os autores do informe da FAO foram obrigados a admitir o erro. As emissões da pecuária somam 5%, enquanto as emissões do transporte mundial ultrapassam 14%.
A confusão continua.
Mas esse reconhecimento de erro por parte da FAO foi pouco anunciado nos jornais. Poucos o leram. Estava plantado uma confusão que ainda persiste. Certas organizações ativistas continuam utilizando a cifra errônea original. Difundem o medo e a intolerância para com a pecuária por receio ou oportunismo.
A divisão entre os animais de criação.
Outro erro, admitido pela FAO, é o de não dividir a poluição das vacas e dos outros animais de criação. A verdade é que as vacas ficam com 70% (dos 5% da pecuária) das emissões da pecuária de qualquer animal de criação, aos porcos corresponde 7%, as ovelhas entram com 4,5% e as galinhas com 1,5%. A conta refeita é de 3,5% de emissão de gás para as vacas e não de 5%, como muitos continuam alardeando.
400 milhões morreriam de fome sem a pecuária.
Como não leram o informe da FAO completo, deixaram de ver que diz: "o gado é o sustento essencial e a principal fonte de proteínas para a metade das quase 800 milhões de pessoas que vivem na extrema pobreza, sua eliminação aumentaria a insegurança alimentar e a desnutrição". São quase 400 milhões de pessoas que morreriam de fome no mundo se a criação de animais deixasse de existir. Mas, não resta dúvida, a carne vegetal e a de laboratório tomam espaço da carne de vaca a cada dia.