Regresso ao maio 68. A insubmissão permanente
Brilhou o maio de 68. Alguns pensaram que ele se apagou. Os setenta Ainda viram suas luzes libertárias. Os oitenta foram um longo túnel sombrio. Nunca acabou.
A geração de 68 foi ao poder em todos os países. Integraram-se nos poderes, político, midiático e intelectual. Fizeram de suas gestões do capitalismo o resultado possível de sua revolução. No Brasil, o ápice de 68 só ocorreu nos anos Fernando Henrique Cardoso.
Passaram-se os anos. Agora temos um mundo que deixou de sonhar com uma vida melhor. Um mundo em crise. Expostos a seus limites. Um mundo que namora um passado bem distante de guerras e matanças. Deixamos 68 de lado e miramos nos anos 40, anos de nazismo e fascismo. A geração que pilotou o mundo pós 68 está desaparecendo e, com ela, se vão as mudanças. O que passou para as sementes de 68 não terem dado os frutos plantados? Cresce uma má erva. A erva que foi escancarada em 68. O movimento contra a guerra mostrou de forma contundente que os mortos são sempre nossos enquanto os benefícios da indústria de armas são sempre deles.
Toda revolução será fagocitada e, depois, vendida.
Comunismo, maio de 68, hippies, rock and roll... o sistema engole todo aquele que lhe inflige algum dano. É sua forma de sobreviver. A revolução mais duradoura, por ter modificado radicalmente nossas vidas, iniciada em 1968 nas universidades de Paris, denunciava o consumismo é o mercantilismo, acabou fagocitada por esse mesmo mercado.
Durante 6 semanas de 68, estudantes, artistas e trabalhadores livres de seus sindicatos, tomaram as universidades e as ruas francesas. Um de seus inúmeros marcos foram os cartazes. Produziram algo como 500 tipos de cartazes e, dessas matrizes, saíram algo como 10 mil cópias. A polícia invadiu a Universidade de Belas Artes, onde eram produzidos esses cartazes. Alguns foram salvos da fogueira. São esses cartazes que deram início à "Street Art", a arte das ruas que invadiu o mundo com suas pichações e grafismos.
Os cartazes de 68 estão na moda na Europa e nos Estados Unidos, os originais estão sendo vendidos por mais de três mil euros. Essa é uma revolução que nunca morre, sempre ressurge.
Maio de 68, a revolução das maneiras.
Meio século depois, o maio de 68 continua com suas vitórias e feridas expostas. O 68 foi um movimento heterogêneo, desordenado e exposto a contradições. Sua mais importante bandeira,"sejamos realistas, peçamos o impossível", dissolveu, evaporou.
O 68 transformou as relações de autoridade, descobriu a noção de juventude em seu peso social e escancarou as portas para o feminismo. É desse maio que emergiu com força a consciência das minorias, a concepção solidária da tolerância, a liberdade sexual e a autonomia do indivíduo na gestão de sua moral.
Não era egoísta. Colocou na parede os governantes paternalistas e coercitivos. Denunciou à exaustão toda forma de totalitarismo. Mostrou o ridículo fervor dos nazistas e dos comunistas. Reclamava a liberdade.