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Em Pauta

Se macaco tiver o talento dos papagaios, vira ministro

Mário Sérgio Lorenzetto | 14/07/2017 07:11
Se macaco tiver o talento dos papagaios, vira ministro

Moralistas franceses. Essa é uma categoria de escritores que caiu em desuso, apesar do moralismo, pelo menos o brasileiro, estar no cume. Jean de La Fontaine, Rochefoucauld, Jean de La Bruyeré, Nicolas Chamfort e séculos depois, Antoine de Saint- Exúpery. É de Chamfort, um pessimista inveterado, a pérola: "Se os macacos tivessem o talento dos papagaios, deles certamente se fariam ministros". Autor de teimosa independência, Chamfort acabou se matando, tais os desgostos que teve de suportar.

Os livros dos moralistas franceses tiveram vida e fama até meados do século passado, quando a influência antes universal da língua francesa começou a ser desbancada pelo inglês, bem como a construção de um "mundo imoral" no fim da Segunda Guerra., um mundo mais permissivo.

Se macaco tiver o talento dos papagaios, vira ministro

Moralistas, pero no mucho

Como sempre, aqueles que se arvoram proprietários da moral e dos bons costumes, escondem outra faceta. Os dois mais famosos - La Fontaine e Saint-Exupéry (Saint-Ex, como é denominado pelos franceses) - gastavam mais do que podiam. Ambos foram forçados a recorrer muitas vezes a parentes e amigos, pedindo empréstimos vultosos para se livrar de enrascadas. La Fontaine nasceu rico, mas morreu pobre, seu dinheiro se esvaiu em mesas de jogos. ele já era um cinquentão aclamado por seu talento satírico quando não teve alternativa, ao se ver sem teto em Paris, a não ser ir morar com uma "amiga" de posses, em cuja casa viveu quase vinte anos. Sain-Ex, por sua vez, gastou a rodo com carros de luxo. Passava a maior parte de seu tempo "flanando", fazendo coisa alguma, em bares e restaurantes. Torrava ganhos e empréstimos em refeições principescas com caviar e champanhe.

Outra semelhança entre os dois principais moralistas está no desenvolvimento de seus escritos. Além das fábulas infantis, La Fontaine, escreveu também, grande quantidade de contos eróticos, ou "licenciosos", como então se dizia. Amores ilícitos, tendo freiras, padres e virgens nos enredos concebidos para debochar das normas da sociedade. Do mesmo modo, os primeiros livros de Saint-Exupéry - "Voo noturno" e "Terra dos Homens" - ambos premiados pouco depois do lançamento, deram-lhe os momentos de glória e os ganhos consideráveis que lhe permitiram viver em grande estilo. A celebridade e os ganhos crescem com seus livros sobre aviação. Só em 1942, quando estava em N.York, refugiado da guerra, Saint-Exupéry recebeu a proposta de escrever um livro para crianças. Assim nasceu " O Pequeno Príncipe", cujo avassalador sucesso o autor não viu, já que morreu no ano seguinte.

Excêntricos no comportamento, avessos a leis que são transitórias, indiferentes às convenções que são tão mutáveis, esses moralistas não só escreviam como não agiam, mas fizeram o mundo sorrir... e erotizar.

Se macaco tiver o talento dos papagaios, vira ministro

Preparando para o Juízo Final

Eles passam o dia fazendo preparativos para um terremoto, uma pandemia, uma bomba atômica ou para o colapso do governo com uma guerra civil. São chamados de "sobrevivencialistas", a prática de se preparar para o colapso da civilização. Há gente com muitas ideias diferentes para sobreviver ao Juízo Final. Alguns compram partes de ilha e constroem bunkers, outros, adquiriram apartamentos em um antigo silo de bombas atômicas, convertido em um complexo subterrâneo de 15 andares com apartamentos de luxo, capaz de abrigar 75 pessoas por até 5 anos.

Em grupos privados de internet, sobrevivencialistas trocam dicas sobre máscaras de gás, helicópteros, motos, armas e alimentos. Marcam encontros, promovem jantares e fazem planos. Tem de tudo, desde gente estocando bitcoins e outras cripto moedas, até um pessoal interessado em obter passaportes clandestinos e providenciar casas de féria que são convertidas em refúgio.

Ao longo dos anos, se preocupam cada vez mais com a estabilidade política e o risco de distúrbios em larga escala. Cenários sem lei. Acreditam que a vida contemporânea repousa em um consenso frágil. O país funciona, a moeda têm valor, pode haver uma transferência pacifica de poder - não passam de credos, funcionam apenas porque acreditamos que funcionam.

O sobrevivencialismo vem crescendo. O canal National Geographic detectou esse crescimento e estreou o programa "Doomsday Preppers" (Preparadores do Juízo Final), um reality show que retratava pessoas se aprontando para o que chamavam de SHTF - "Shit Hits The Fan" (Quando a Merda Chega ao Ventilador). O episódio de estréia atraiu mais de 4 milhões de telespectadores e virou a série mais popular da história do canal. Uma pesquisa nos EUA, mostrou que 40% da população acredita que investir na armazenagem de mantimentos ou na construção de um abrigo nuclear é melhor do que contratar um plano de aposentadoria. Se todos vivessem no Brasil, já teriam bunkers, alimentos, motos, armas e demais apetrechos para o Juízo Final, pois nele sobrevivemos diariamente. Todo dia é dia de Apocalipse no Brasil.

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