Três experiências fazem paraplégicos voltar a andar
O suiço David Mzee sofreu um acidente esportivo em 2010. Ficou paraplégico. Todavia, voltou a dar alguns passos, sem ajuda humana. O aparente milagre é uma das novas técnicas que, depois de funcionar em ratos e em macacos, chega aos humanos. Uma equipe capitaneada pelo neurocientista Grégoire Courtine, da Escola Politécnica de Lausanne, na Suíça, implantou eletrodos na medula espinha de Mzee e de outros dois pacientes paraplégicos, um neozelandês e outro suíço.
Como funciona a técnica suíça?
Essa estimulação elétrica peridural - no espaço entre a dura-mater e a parede do canal raquidiano - somadas a sessões de reabilitação quase diárias durante cinco meses, fez com que os três pacientes começassem a caminhar novamente, com ajuda de muleta ou andador. David Mzee foi mais longe. Em apenas uma semana depois de começar os exercícios, deu os primeiros passos.
A equipe suíça não estimula a medula espinhal de maneira contínua. Funciona graças a sensores colocados nos pés dos pacientes e um programa especial de informática que envia impulsos elétricos para facilitar os movimentos voluntários residuais, imitando os sinais elétricos do cérebro. A estimulação se realiza com a precisão de um relógio suíço.
A estimulação elétrica se realiza no lugar e nos momentos adequados. E isto facilita a reativação das conexões nervosas que restem na medula espinhal lesionada. Os três pacientes recuperaram, em maior ou menor medida, o controle voluntário dos músculos de suas pernas, inclusive sem a estimulação elétrica depois de algum tempo. Os resultados dessa pesquisa foram publicados ontem na revista "Nature".
Grégoire Courtine criou a empresa GTX para desenvolver um dispositivo simples que permita aos pacientes levar a cabo a reabilitação em qualquer lugar, mesmo distante de um hospital.
As pesquisas norte-americanas.
Em 24 de setembro, a equipe da neurocientista Kristin Zhao, da Clínica Mayo de Rochester, anunciou que um homem de 29 anos - que tinha ficado paraplégico em 2013 - foi capaz de andar 100 metros com a ajuda de um andador e estimulação elétrica contínua em sua medula espinhal, depois de mais de 25 semanas de sessões. Na mesma data, o grupo da neurocirurgiã Susan Harkema, da Universidade de Louisville, publicou a pesquisa que permitiu a dois pacientes paraplégicos andar alguns passos depois de 15 a 85 semanas de reabilitação e estimulação elétrica contínua.
Os três estudos mostram que podemos deixar de ver as lesões medulares como uma barreira eterna entre o cérebro e os músculos. A reativação das conexões nervosas sugere com total clareza que a medula espinhal pode ser recuperada.
Levanta-te e anda, ratinha.
O vídeo é assombroso. Uma ratinha paraplégica, com a medula espinhal completamente partida em duas, caminha com tranquila fluidez por uma esteira e inclusive, salta obstáculos. Erguida sobre suas patinhas traseiras graças a um arnês - conjunto de cintas unidas entre si - que funciona como uma mãe que ajuda seu filho a caminhar, é capaz de dar mais de 1.000 passos, durante 25 minutos, sem uma só falha.
Os movimentos do roedor não são voluntários. As cinco ratinhas protagonistas do experimento são como marionetes movidas por fios invisíveis que, em verdade, são dois eletrodos flexíveis que transmitem impulsos elétricos sob sua medula espinhal. Esse foi o primeiro passo na pesquisa de Lausane, na Suíça. Os humanos paraplégicos poderão saltar obstáculos como conseguiram as ratas.