Trump é a "sandália Croc" da política
A política e a moda são a mesma coisa. São a expressão da identidade e seu papel na sociedade. Podem pensar em Trump em termos de moda. Ele é igual às sandálias Croc. Sabem o que são? São objetivamente feios. Antes que fossem populares eram feios, e depois voltaram a ser. Mas quando eram populares todo mundo os levavam. Trump é a mesma coisa que as Croc. É uma estética objetivamente horrorosa, mas as pessoas sucumbem à moda. As pessoas adotam uma estética e quando vê as fotos no futuro se arrependem profundamente.
Este o pensamento de Christopher Wylie. Um jovem canadense vegano e gay, como ele mesmo se define. Foi ele quem criou o arsenal que propiciou as vitórias do Brexit, de Donald Trump e da nova direita italiana. Arsenal montado à partir dos dados privados coletados no Facebook. Para cada pessoa enviavam mensagens certeiras de acordo com os perfis que todos entregam ao Facebook.
O escândalo está armado. As vitórias de Trump, Brexit e da direita italiana estão sob suspeição.
A empresa que criou essa mudança nos rumos eleitorais está no Brasil. Sem dúvida alguma está, neste momento, apostando suas fichas e seu imenso arsenal de informações em alguma candidatura da direita. Seu proprietário, Robert Mercer, é um multimilionário que não precisa ganhar dinheiro. Colocar US$15 milhões por ano na Cambridge Analytica não é nada para ele. O que lhe interessa é moldar narrativas que favoreçam as novas direitas do mundo, inclusive as brasileiras. O trabalho deles, tal como os dos marqueteiros de Lula, é enganar os eleitores. A mentira - "fake news" - como principal arma política. Não duvidem, a Cambridge Analytica têm enormes condições de eleger o próximo presidente do Brasil. As invasões já não são feitas com metralhadoras, criam as condições culturais para o enfrentamento. A guerra pertence aos inteligentes. A Cambridge Analytica é ultra-inteligente. Enquanto Lula fala para mil petistas no sul do país, usando chavões do passado e fazendo discursos genéricos, a Cambridge Analytica fala para um milhão de eleitores de acordo com suas vontades, aspirações e temores individuais.
Após escândalo Facebook mudará.
Foi uma semana terrível para o Facebook. Começou no sábado com a revelação de que a Cambridge Analytica havia comprado os dados de pessoas do mundo todo e, assim, determinado o resultado de eleições na Inglaterra, nos Estados Unidos e, provavelmente, na Itália. O Facebook perdeu 40 bilhões de euros em 48 horas. O movimento #deletefacebook ganhou corpo e milhões de pessoas abandonaram o site. Mark Zuckerberg foi alvo de duras críticas pelos vários dias que esteve em silêncio. Entretanto, o diretor executivo do Facebook falou pela primeira vez e, além de ter pedido desculpas pela ganância absurda, revelou algumas novidades que chegarão à essa rede nas próximas semanas: passará a fazer auditoria para que não suceda o mesmo que ocorreu com a Cambridge Analytica, limitará ou cortará por completo o acesso de alguns aplicativos a seus dados, os aplicativos só conseguirão acessar tua foto, nome e endereço eletrônico. No geral o Facebook continuará igual aos olhos das pessoas. As medidas anunciadas serão um reforço na área de segurança e privacidade dos dados.
Os jovens contra as armas sacode os Estados Unidos.
Milhões de jovens foram às ruas nos Estados Unidos. Era uma massa diversa na idade, raça e valores. O movimento contra as armas conseguiu sua maior mobilização pela primeira vez. Não contou com políticos nem organizações estruturadas. Afinal quase todo político que defende o armamento recebe dinheiro da Associação Nacional do Rifle.
O trauma pela morte de 14 estudantes e 3 adultos pelos tiros de um ex-aluno da escola de Parkland, na Flórida, traumatizou os jovens. São pelo menos 18 anos de massacres repetitivos. Tiveram início no distante 20 de abril de 1999 no denominado "Massacre de Columbine". O parlamento sempre negou qualquer mudança nas leis.
Na maior manifestação de todas que ocorreram no sábado, em Washington, Emma González, um dos ícones nascidos da tragédia de Parkland, ficou mais de quatro minutos em um imponente silêncio. Quando chegou aos 6 minutos e 20 segundos, voltou a falar. É o lapso de tempo que Nikolas Cruz, o atirador de 19 anos, esteve matando quem via pela frente na Escola Secundária Marjory Stoneman Douglas, em 14 de fevereiro.
A imprensa norte americana está comparando as atuais manifestações com as que ocorreram nos anos 60 contra a Guerra do Vietnã. Aquelas produziram uma paz fingida. Os EUA tiveram dificuldades para levar suas armas pelo mundo. O povo as repudiava. Elas retornaram com força após o 11 de setembro terrorista.
No Brasil impera o caos. Armados ou desarmados se entricheiram cotidianamente. Não há Columbine ou Parkland, mas há favelas, aquele lugar onde os políticos resolveram decidir eleições.