Tsiolkovsky, camponês, sem escola, o pai dos foguetes
Em 1881, Konstantin Tsiolkovsky enviou à Sociedade Físico-Química da Rússia um trabalho científico em que descobria as propriedades cinéticas dos gases. Os gases podem mover objetos. A resposta da entidade não foi a esperada por Tsiolkovsky, dizia que o estudo era muito interessante e mais nada. A história dessa anedota ilustra como foi - e ainda é - a insólita trajetória de quem conseguiu converter uma origem muito humilde, de uma pessoa que nem sequer teve acesso à escola, para chegar a uma ilustre carreira científica. Três anos de escola fundamental foram suficientes para quem é considerado nos meios científicos como o pai dos foguetes, da astronáutica em geral e da exploração espacial.
Como quinto irmão de uma família que vivia na zona rural com dezoito filhos, todos sustentados pelo insignificante salário do pai guarda-florestal, não parecia que o pequeno "Kostia" - apelido familiar de Konstantin - estivesse destinado a ser um dos maiores nomes da ciência mundial. De fato, quando fez dez anos, contraiu escarlatina e todos, inclusive o médico, acreditaram que havia chegado o seu fim. Sobreviveu, mas pagou o preço com uma surdez que o retirou da escola. Nem essa limitação e nem a morte prematura de sua mãe, conseguiram derrotá-lo. Se converteu em um autodidata e conseguiu convencer seu pai que o enviasse a Moscou quando fez 16 anos.
Na capital da Rússia, tampouco ingressou na escola. Em seu lugar, recluiu-se em uma grande biblioteca onde se entregou ao estudo das ciências. Anos mais tarde recordaria que gastava todo o dinheiro enviado pelo pai em livros, material e reativos químicos, alimentando-se apenas de um pedaço de pão ao dia. Mas o verdadeiro alimento que obteve foi para sua mente. Como tantos outros de sua época, inspirou-se nos livros de Julio Verne para imaginar viagens ao espaço.
Ao contrário de todos, Tsiolkovsky fez algo mais do que apenas sonhar. Calculou que o canhão proposto para por Verne para levar um homem à lua, mataria seus ocupantes por causa da aceleração. Baseando-se na física newtoniana de ação e reação, definiu o que chamaram de "fórmula da aviação". Calculava o aumento da velocidade de uma nave em função da variação da massa de combustível e do impulso do motor. Tsiolkovsky havia inventado o foguete.
"PRIMEIRO PROJETO DE NAVE ESPACIAL DE TSIOLKOVSKY"
Os inventos de Tsiolkovsky estavam muito adiantados para seu tempo.
Durante o resto de sua prolífica carreira, que chegaria a mais de 400 trabalhos científicos escritos, o máximo que conseguiu foi o humilde salário de professor de matemática na cidade de Kaluga, a 200 quilômetros de Moscou. Ali sua casa e centro de operações era uma mísera cabana de madeira, onde criou sua família isolada da comunidade que o considerava um inventor louco. Mas ele nunca desistiu.
Tsiolkovsky continua sendo um quase desconhecido. Mas foi esse gênio que, além do foguete, inventou os trajes pressurizados que possibilitariam o homem andar na lua, os propulsores espaciais e foguetes de três fases, as esclusas que separam as partes de um foguete, a cabine de comando do foguete e uma longa lista de dispositivos espaciais e aeronáuticos. Também é de Tsiolkovsky o cálculo da velocidade de escape da gravidade terrestre.
"DESENHO DE PESSOAS OLHANDO ESTRELAS POR UMA JANELA DE UMA NAVE ESPACIAL"
Baseados na ideias e cálculos de Tsiolkovsky - imensamente adiantadas para seu tempo, pois faleceu em 19 de setembro de 1935 - engenheiros como Werner Von Braun e Sergei Korolev construíram a realidade da corrida espacial travada entre os EUA e a URSS. Nem o nazista Von Braun ou o comunista Korolev deram as devidas honrarias para o pobre professor, ainda que os soviéticos tenham lhe outorgado o título de gênio. Durante muito tempo, Von Braun e Korolev foram considerados os pais da astronáutica. Ossos e usos dos extremismos ideológicos ou apenas falta de caráter? Só há pouco tempo a NASA e a Agência Espacial Federal Russa reconheceram o valor de Tsiolkovsky.