Vereadores rejeitam gays, mas lanchonete os contrata
Dificilmente passaremos por um mês no qual o prefeito de Campo Grande e os vereadores não estejam envolvidos em alguma baixaria. A "Baixaria de Julho" decorre das gravações sigilosas da Coffee Break que vazaram. Nelas, um grupo de vereadores faz blague de um ex-vereador que afirmam ser homossexual. Para além da opção sexual de cada um, fica patente a "dedicação" que os nossos vereadores devotam ao trabalho.
Enquanto eles se preocupam com a sexualidade alheia, uma rede de lanchonetes prefere contratar homossexuais. O proprietário da rede e o gerente não são homossexuais e nem se interessam pelo assunto. A preferência decorre da observação. Afirmam que os homens e mulheres gays não utilizam licença maternidade ou paternidade. Também não tem crianças para levar aos postos de saúde e aguardar o dia inteiro para receber um mero curativo, perdendo o dia de trabalho. Ainda afirmam que como as mulheres gays costumam auto administrar hormônios masculinizantes, ganham em força física mas continuam com a mesma gentileza feminina. Homofobia ou homofilia? Ociosidade ou trabalho?
Os Estados Unidos da Ansiedade e o Brasil Perdido.
Um dos países onde a desigualdade está mais acelerada são os Estados Unidos. Além da crise financeira, as perdas de empregos causadas pelas recentes transformações tecnológicas, incluindo a robotização, são os grandes responsáveis pelo aumento da desigualdade naquele país. A insegurança econômica resultante, sentida por milhões de famílias, transformou os EUA em "Estados Unidos da Ansiedade". Medicamento tarja-preta por lá está "escorrendo na água".
O sonho norte-americano de progredir através do "trabalho árduo e conformidade às regras" já não se sustenta, e meras correções da política econômica não resolvem os problemas de fundo. É necessário um reexame lúcido do papel do trabalho em nossas vidas.
A tese mais debatida nos EUA e na Europa é a de que as necessidades básicas dos cidadãos fossem satisfeitas com um "rendimento mínimo universal". Poderíamos deixar de nos preocupara com a mera sobrevivência econômica e, em vez disso, empenharmo-nos na antiga promessa da busca da felicidade. Ou pelo menos poderíamos pensar em arrumar um emprego que talvez não pague muito, mas seja verdadeiramente compensador. Parece radical, não é? Tem cheiro de comunismo? Também parece ser uma ideia inovadora. Mas, na verdade é a busca da saída do capitalismo. Essa ideia tem uma longa história e diversos admiradores altamente respeitáveis desde Thomas Paine e Adam Smith, chegando a Milton Friedman e Martin Luther King Jr.. Ela quase foi adotada pela administração Nixon e, mais recentemente, vem sendo debatida com entusiasmo em um dos maiores ícones capitalista: no Silicon Valley.
É claro que tema de tal envergadura não é debatido em nosso país. Se os EUA se tornaram o país da ansiedade, o Brasil é um país perdido. Estamos olhando para dentro do país sem nada enxergar do "outro planeta" chamando Terra.
Cresce o número de empregados que ganham menos que o mínimo.
Quase um em cada quatro brasileiros ganha menos que um salário mínimo. Esse é o resultado da PNAD - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio - recém elaborada. Ela mostra que em um ano a proporção de ocupados com remuneração inferior ao mínimo vigente (R$ 880), saltou de 19,4% para 23,5%. Outro dado é a queda da remuneração média do brasileiro. Em maio, a remuneração média foi de R$ 1.982, perda real de 2,5% em relação ao apurado no mesmo mês do ano anterior.
A fome é a pornografia da miséria.
Hoje, quase 800 milhões de pessoas passam fome no mundo. Quando alguém pensa em fome, pensa em cifras ou em porcentagem, não pensa nas pessoas que a sentem. É a pornografia da miséria. Assim, criam uma abstração, tiram o potencial de violência que está inscrita na fome humana.
A fome deixou de depender da capacidade humana de obter alimentos. Muito pelo contrário, anualmente, produzimos mais do dobro da comida necessária para alimentar todas as pessoas do planeta. O problema está na vontade política e nas práticas econômicas. Por exemplo, as operações que ocorrem no mercado de futuro de Chicago, não passam de pura "borbulha", pura especulação. É importante saber que nessa mesma Chicago, nos Estados Unidos, em torno de 500 mil pessoas vivem nos limites da fome, dependendo de cupons ou de benemerência.
O grande paradoxo da fome no século XXI é que ela não é um problema de pobreza, e sim de riqueza. Se existe tanta gente que não come é porque outros o fazem de maneira absolutamente desproporcional e injusta. A comida tem sua face caótica no mundo deste século. Muitos desnutridos estão nas sociedades ricas e muitas vezes, os obesos vivem nas sociedades pobres. E tem outra, os piores efeitos da insegurança alimentar não são as mortes por inanição. A obesidade mata muito mais. Há tantos outros paradoxos da fome. Como pode existir fome em um Brasil que produz alimentos em excesso para exportar e não alimenta os seus? É um exemplo claríssimo de que o problema não está na existência ou não do alimento, e sim como é distribuído. E não se deve entender distribuição como sinônimo de transporte. Seu verdadeiro sentido é econômico. Não é que não chegue verduras em certos lugares do país, é que existem pessoas que não tem dinheiro para comprá-las. Também é claro que ninguém é a favor da fome. Mas poucos estão dispostos a reorganizar a complexa estrutura que a mantem.