A insustentável leveza da empatia
Um típico final de semana desse que aqui lhes escreve é composto por treinos de corrida, pedalada, leitura e um bom filme. E em um domingo qualquer, eu tive a oportunidade de assistir ao filme "O pior vizinho do mundo", estrelado por Tom Hanks. E que filme!! Sensacional! É uma obra que flutua entre a leveza da comédia e uma série de questões profundas: reconciliação, desesperança, saudade, amor (ou a falta dele), intolerância, respeito, individualidade, amizade, entre outros. Como um autêntico canceriano, me emocionei muito, mas uma cena em particular me chamou a atenção: o salvamento de uma pessoa que cai nos trilhos do trem. Nessa passagem do filme fica evidente a crítica aos adolescentes, mais preocupados em registrar o salvamento do que ajudar; contudo, o final do filme, mostra Otto, personagem vivido por Tom Hanks, curvando-se gentilmente ao engajamento dessa nova geração que sabe utilizar mídias sociais para o bem. Essa obra mostra, com maestria, a linha tênue entre o virtual e o real, prevalecendo o equilíbrio, e a empatia é um degrau muito importante para que isso possa acontecer.
Mas o que toda essa história tem a ver com empatia? Como educador, eu sempre prestei muita atenção nas reações e expressões corporais dos meus ex-alunos e hoje como palestrante, eu continuo observando... Na minha palestra “Histórias de um transplantado”, além de contar a minha história, eu também falo sobre a importância de doação de sangue, medula óssea e órgãos; e do posto de orador eu consigo captar os olhares do meu público e percebo que uma minoria mantém um olhar indiferente, demostrando impaciência, e para tentar atingir esse público de olhar blasé eu criei o projeto Atitude Sangue Bom, que nada mais é do que a prática da empatia.
Mas o que é empatia? Empatia é a capacidade que uma pessoa tem de sentir e se colocar no lugar de outra pessoa, como se estivesse vivendo a mesma situação. A partir da empatia é possível entender os sentimentos e as emoções do outro.
É comum ouvirmos sobre o poder de ter empatia para compreensão da outra pessoa e manter relações saudáveis. Mas... o que é ter empatia, mesmo? É me colocar no lugar do outro? É concordar com ele? É ficar em silêncio e não responder? São tantos pensamentos que podemos nos afastar do que é importante. O que realmente buscamos em ter empatia é: aumentar as chances de compreender e ser compreendido. A empatia é sobre compreender a outra pessoa, enquanto a simpatia é sobre compartilhar um sentimento com o (a) outro (a).
Os reflexos positivos da empatia na infância não se limitam apenas a aspectos sociais. A criança empática aprende com mais facilidade, tem melhor rendimento escolar, é consciente, comunicativa, alegre e entende melhor sobre seus sentimentos e das outras pessoas.
Quando praticamos a empatia, executamos uma das funções mais importantes de nossa inteligência, o reconhecimento e compreensão de nossos próprios sentimentos e os de outras pessoas. Assim, como num processo natural e orgânico, estimulamos a reciprocidade e receptividade em nossos círculos de convívio, além de promovermos nossas habilidades de comunicação. Estudo recente (2019) de Giselle Pessoa da UFPB, sob a orientação da professora Shirley Simeão, especializada em terapia cognitivo-comportamental, indica falta de empatia nos adolescentes. O estudo foi premiado no Seminário Internacional de Habilidades Sociais, no início deste mês, em São Luís, no Maranhão.
De acordo com a pesquisa, 42,6% dos jovens apontam déficit de empatia e 31,1% mostraram ter alguma dificuldade no desenvolvimento de relações afetivas. A insuficiência nesses aspectos cognitivos e afetivos, segundo as pesquisadoras, pode resultar em dificuldades de interação social.
A compreensão da empatia em diferentes grupos de pessoas, incluindo os jovens, é um assunto complexo e pode variar de acordo com diversos fatores. É importante lembrar que generalizar sobre a juventude como um todo pode levar a estereótipos e simplificações excessivas.
Existem várias possíveis razões pelas quais algumas pessoas podem parecer ter menos empatia, independentemente da idade. Alguns pontos a serem considerados incluem:
1) Desenvolvimento e maturidade emocional: a empatia é uma habilidade que se desenvolve ao longo do tempo e com experiências de vida.
2) Excesso de exposição à tecnologia: a crescente dependência da tecnologia e das mídias sociais podem influenciar a forma como os jovens se relacionam com os outros. O uso excessivo de dispositivos móveis pode afetar a capacidade de se conectar emocionalmente com os outros e dificultar a leitura das emoções e necessidades dos demais.
3) Pressões sociais e culturais: a pressão para se enquadrar em determinados padrões sociais e culturais pode influenciar o modo como os jovens interagem e demonstram empatia. Fatores como competição, individualismo e hierarquias sociais podem influenciar o comportamento e atitudes dos jovens.
4) Falta de educação emocional: a educação emocional desempenha um papel importante no desenvolvimento da empatia. Infelizmente, nem sempre recebemos o ensino adequado sobre como lidar com nossas próprias emoções e entender as emoções dos outros. A falta de habilidades emocionais pode dificultar a empatia.
Promover a empatia requer esforços individuais e coletivos. Isso pode incluir educação emocional, incentivo ao voluntariado, diálogos abertos e construtivos sobre a importância da empatia e a valorização do cuidado e preocupação com os outros. Cada indivíduo é único e a empatia pode ser cultivada ao longo da vida por meio de experiências, educação e reflexão contínua.
E se vocês ainda têm dúvida dos benefícios da empatia, fiquem com a frase da professora canadense Anita Kovak: "A empatia é a força mais poderosamente perturbadora do mundo, só fica atrás do amor."
(*) Carlos Alberto Rezende é conhecido como Professor Carlão.