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Manoel Afonso

Nas pontes de Roma a lembrança de André

Manoel Afonso | 22/07/2018 11:59

NA EUROPA Dos países por onde tenho passado algumas observações. Em Paris os supermercados vão implantando caixas sem funcionários graças ao uso do cartão de crédito e do sistema de código de barras. Nos postos de cobrança de pedágio nas rodovias também não há qualquer funcionário onde o motorista paga com cartão de crédito ou outro especial sem sair do carro. Nos postos de combustíveis o mesmo sistema com o motorista fazendo o abastecimento após concluída a operação com seu cartão de crédito.

EM ROMA o motorista programa no parquímetro do quarteirão o tempo de uso da vaga, ao contrário da nossa capital. Na hora lembrei do nosso criticado sistema. Um amigo engenheiro francês, conhecedor da nossa realidade observou: “acabei de ir ao médico que cobrou o equivalente a R$ 120,00. O médico não tem secretaria na recepção. Por economia, é claro – diferente do cenário chic e caro dos consultórios de médicos no Brasil..

ENFIM... a economia nas mais diferentes atividades tende a incluir a dispensa da mão de obra para evidentemente baixar os custos, Ao ver essa realidade sem volta lembrei da Revolução Industrial na Inglaterra quando seus críticos diziam que a mão de obra seria dizimada. Lembrei também do Partido dos Trabalhadores e sindicatos defensores da manutenção dos cobradores de ônibus em Campo Grande. Evidente – estão na contramão das realidade.

BONS EXEMPLOS Lyon na França e a italiana Milão mostram porque encantam. A primeira – com menos de 400 mil habitantes – tem metrô subterrâneo e garagens também subterrâneas para desafogar o trânsito. Quanto a capital da moda tem ciclovias, metrô subterrâneo e o moderno trem de superfície movido a energia elétrica. A convivência entre os diferentes sistemas – pelo que percebi – é tranquila.

PROBLEMAS Mesmo na Suíça percebi que a questão dos imigrantes é delicada. Conversei com gente do Senegal, Bangladesch, Camarões, Nigéria e Índia. Senti pena deles; excluídos, humilhados. Na quinta feira assisti na Televisão da Itália um debate sobre o problema, O que fazer? Eles fazem bicos, topam serviços pesados e vendem produtos aos turistas em Veneza, Vaticano, Paris, Genebra, Roma e dormindo nas praças e debaixo das pontes. Sem renda e melhores condições só lhes restam o passaporte para o mundo crime. O Estado Islâmico de olho neles para cooptá-los.

PROBLEMÃO Uma amiga de infância residindo em Paris desde 1979 acompanha de perto o crescimento do espaço social e econômico da comunidade muçulmana formada por imigrantes de países árabes, alguns são ex-colônias. Disse-me: os muçulmanos conseguiram que o Governo cortasse a carne de porco da merenda escolar sob o argumento de as crianças muçulmanos seriam prejudicadas devido a proibição do consumo desta carne pela religião. O jeito foi optar por mais frango e peixe no cardápio.

PREÇOS “Quem converte o Real para o Euro não se diverte”. Essa máxima que vigora na política do turismo é verdadeira, mas também perigosa com o advento do cartão de crédito. Só para o leitor sentir o drama do brasileiro na Europa. Em Genebra um café custa R$28,00, em Paris uma garrafa pequena de água até R$10,00, em Roma uma bola de sorvete varia entre R$13,00 a R$17,00, uma refeição sem vinho varia entre R$150,00 a R$250,0, um copo duplo de suco de laranja R$20,00.

OS OLHOS do jornalistas são diferentes. Neste domingo fomos ao supermercado em Roma. Nenhum produto brasileiro. Nem a tal cachaça que insistimos endeusar. O coco não é da Bahia e sim da Tailândia. O abacaxi de Costa Rica, o tomate da Holanda, a laranja da Espanha, o limão da Argentina, a gengibre do Peru, a banana do Equador. Senti que estamos aquém das exigências do Mercado Comum Europeu. Nosso custo de produção é maior que dos concorrentes citados. Ou não?

INVASORES Antes foram os Mouros os Bárbaros e outros povos inimigos, Agora são os chineses que não poupam a Europa. Se não bastassem seus produtos nas lojas populares numa concorrência sem precedentes, eles comparecem nas filas dos museus, nas cidades e locais turísticos. Impossível não vê-los, em todos os cantos da Europa. Com a sua economia em alta eles lotam os aeroportos, lojas e restaurantes caríssimos gastando sem pestanejar. O poder de fogo dos chineses é tal que os avisos nos principais pontos de turismo também são dados no idioma Mandarim. Como o ex-chanceler norte americano Henry Kissinger previa – o gigante acordou..

A EXPRESSÃO lapidar do personagem Riobaldo “Eu quase de nada sei. Mas eu desconfio de muita coisa” - no livro Grande Sertão Veredas – de Guimarães Rosa – pode ser a guia ou referência pela grande maioria da população do nosso Estado neste episódio das prisões do ex-governador Puccinelli (MDB) e dos advogados André Puccinelli Junior e João Paulo Alves Novas prisões a mando da Justiça Federa que ganhou admiração crescente da opinião pública desde que a Operação Lava Jato desnudou ex-ministros, políticos poderosos e o ex-presidente Lula (PT) inclusive por crimes de corrupção - muitos deles na cadeia.

REPITO: Puccinelli será transformado em vítima mesmo não tendo sequer explicado os motivos ainda daquela primeira prisão? O cidadão comum acreditará na tese de que ele seria uma pobre vítima mesmo no MDB, que em nível nacional também está desgastado por envolvimento em corrupção. Na internet as ironias: Puccinelli, o ex deputado Edson Giroto (PR) e o empresário João Amorim planejando o futuro governo. Amorim é irmã da deputada estadual Antonieta Amorim – também do MDB e da linha de frente do ex-governador.

DETALHE Nenhum companheiro de Puccinelli ousou debater o mérito das razões que embasaram as investigações e as duas prisões. Eles se limitam a referências a atuação dele como gestor público e nada mais. Do senador Waldemir Moka (MDB) e da senadora e advogada Simone Tebet (MDB) também nem uma fala convincente. O MDB está sem rumo – Puccinelli ficou com o GPS do partido. Os seus companheiros estão órfãos, desnorteados. Puccinelli – nosso Sergio Cabral (ex-governador carioca)?

DE LONGE na terra de Puccinelli – lembrei-me dele ao ver pontes romanas centenárias ainda intactas. Mas não vou falar das pontes de papel do André que ruíram. Ele poderia fazer o estou fazendo – comemorando a chegada dos 70 anos em sua terra natal com a família. O mínimo nesta altura da vida. Quanta humilhação nesta exposição pública que atinge violentamente sua honra e de seus familiares inclusive? Faltou-lhe humildade ou bom senso para admitir que seu tempo já passou, como tudo na vida.

PERGUNTA-SE: E precisava disso aos 70 anos? Que presente macabro pelo seu aniversário recente. Não há sentença judicial que apague da memória o trauma da prisão. Não há como excluir esses episódios de sua biografia já manchada. Para piorar ele acabou arrastando pelo mesmo caminho seu filho, seu companheiro de cela pela vez segunda. Lamentável esse quadro! Se vivo ainda, o que seu pai diria disso?

HONRA É um patrimônio, um princípio de comportamento do ser humano que age baseado em valores inarredáveis como honestidade, dignidade, ética e outras características consideradas socialmente virtuosas. Recuperar a honra é uma tarefa hercúlea, quase impossível, segundo os pensadores e teólogos das mais diferentes correntes filosóficas. E pergunto – uma suposta volta ao poder limparia essa nódoa na imagem de Puccinelli até aqui desonrada? Eis a questão.

OAB-MS A opinião pública acompanha a sua luta em questões referentes a postura dos agentes público. Ainda recentemente tivemos o caso da campanha pelas eleições limpas, sem corrupção. E como esse episódio envolve – mais uma vez – o advogado André Puccinelli Junior, seria de bom alvitre questionar a posição da entidade através de seu Conselho de Ética sobre o caso dele e seu colega João Paulo Alves.

AFINAL...Já que também em nível nacional a entidade se posta como defensora intransigente dos direitos democráticos e dos mais pobres – aqui já deveria ter se postado publicamente para evitar dúvidas neste ano eleitoral daquela entidade. Afinal são dois profissionais aparentemente em conduta incompatível com a própria profissão. Eu disse aparentemente. Esse silêncio preocupa. Com a palavra o presidente da OAB-MS.

DELCÍDIO-1 Ainda que recupere todos os seus direitos para voltar a vida pública partidária conseguirá viabilizar sua candidatura em 2018? O que pesa não é apenas a questão jurídica. ´´É que ficaram no imaginário popular aquelas imagens fortes de sua prisão e todas aquelas notícias colocando-o como homem forte do PT e seu governo. Desassociá-lo de tudo isso é muito complicado. Ele tem consciência disso.

DELCÍDIO-2 O ex-senador Delcídio do Amaral (PTC) sabe bem que perdeu o espaço para voltar ao Senado. A saída seria a eventual candidatura a Câmara Federal ou mesmo à Assembleia Legislativa para se aproveitar dos votos ainda indecisos (que são muitos). Embora tenha saído do PT- será complicado se livrar do estigma de corrupção reinante no governo de Dilma Roussef (PT). Mas qual seria seu candidato ao governo? É a pergunta ainda sem resposta.

PONTO FINAL Embora essa prisão de Puccinelli fosse prevista, ainda outros fatos graves devem ocorrer até as eleições. Com a competência da Polícia Federal para investigar, as eventuais influências do MDB acabaram. Aliás o próprio presidente Michel Temer (MDB) também de saia justa. O que percebo é que os órfãos de Puccinelli querem se salvar nesta tempestade. Vamos ficar atentos ao próximo capítulo. Sigo a viagem rumo a Florença, Nice, Barcelona e Madri. A vida é bela. Até.

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