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Economia

"Antiga Petrobras", UFN3 estacionou entre marasmo rural e gigante da celulose

Fábrica de fertilizantes parou no tempo em meio à transformação do Estado em fazendas de eucaliptos

Por Gabriela Couto | 08/11/2023 19:35
Única placa indicando acesso a UFN 3, na margem da BR-158, após 23 km de Três Lagoas (Foto: Paulo Francis)
Única placa indicando acesso a UFN 3, na margem da BR-158, após 23 km de Três Lagoas (Foto: Paulo Francis)

A UFN3 (Unidade de Fertilizantes Nitrogenados III) em Três Lagoas, a 327 quilômetros de Campo Grande, teve mais um dia normal nesta quarta-feira (8). A data que marcaria a presença de autoridades da cúpula do governo federal para debater o futuro da obra se transformou em mais um dia de incerteza.

Com o cancelamento da agenda do vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB), presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, da ministra de Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, e do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, parte da infraestrutura que chegou a ser montada para receber a comitiva foi paralisada, assim como o projeto que não recebe nenhum tijolo desde 2014.

Tendas onde ficam dois guardas monitorando o acesso 24h; portão fica entre fazenda de eucaliptos e de pecuária (Foto: Paulo Francis)
Tendas onde ficam dois guardas monitorando o acesso 24h; portão fica entre fazenda de eucaliptos e de pecuária (Foto: Paulo Francis)

A informação dos dois seguranças que faziam o monitoramento 24h da entrada do acesso à usina é que no local está apenas um coordenador e a equipe de manutenção da instalação.

A reportagem não foi autorizada a entrar na construção que começa 5 km após o portão, montando entre uma fazenda de criação de gado e uma propriedade que investe em plantação de eucaliptos e que dá acesso a Sylvamo, fábrica de papel instalada no local.

No caminho até o portão da UFN3, uma pista duplicada da BR-158, que liga Três Lagoas a Brasilândia, mostra o cenário bucólico da zona rural.

Ônibus que transportam trabalhadores da Suzano, retornando da unidade Sylvamo no início da manhã desta quarta-feira (8) (Foto: Paulo Francis)
Ônibus que transportam trabalhadores da Suzano, retornando da unidade Sylvamo no início da manhã desta quarta-feira (8) (Foto: Paulo Francis)

Nos 15 minutos para percorrer os 23 km até a rotatória que indica a entrada da fábrica, é possível identificar um movimento frenético de ônibus da empresa Piracicabana. Cerca de dez veículos cruzaram com a equipe do Campo Grande News nas primeiras horas do dia, após levar os funcionários à sede da gigante da celulose, que fica um pouco antes da conhecida pelos três-lagoenses como "antiga Petrobras".

Antes de chegar até as fábricas, que estão em momentos diferentes, ainda é possível identificar o contorno ferroviários, várias plantações de eucaliptos, a construção da futura sede do Detran (Departamento Estadual de Trânsito) de Três Lagoas, estações da MS Gás e TBG, além do aterro sanitário da cidade.

Entrada da fábrica de celulose em Três Lagoas tem trânsito intenso de caminhões carregados de toras de eucalipto (Foto: Paulo Francis)
Entrada da fábrica de celulose em Três Lagoas tem trânsito intenso de caminhões carregados de toras de eucalipto (Foto: Paulo Francis)

Na rotatória - Mas, para entrar na rodovia, o que chama atenção são as casas improvisadas na rotatória, saindo da cidade. No local, mais de 450 famílias moram em barracos no chamado Assentamento 262.

Há cerca de cinco anos, várias pessoas que não tinham condições de moradia chegaram na região da Vila Maria. Segundo os moradores, o local era apenas mato e hoje se transformou no lugar de sossego de quem não tinha um teto para morar. "Eu só saio daqui se for para o cemitério ou para uma casa popular", explicou o baiano Constantino de Erei, 64 anos.

Moradia improvisada com lona e madeira dentro do Assentamento 262, ao lado da rotatória que faz o entroncamento da BR-262 com BR-158 (Foto: Paulo Francis)
Moradia improvisada com lona e madeira dentro do Assentamento 262, ao lado da rotatória que faz o entroncamento da BR-262 com BR-158 (Foto: Paulo Francis)

O vizinho dele, Reinaldo de Souza Targon, tomava café com o idoso e conversava sobre a vida, quando foi abordado pela reportagem. "Aqui temos energia, estamos abrindo nosso segundo poço artesiano para garantir água e estamos esperando a retomada da antiga Petrobras. Vou levar meu currículo lá. Vai ficar pertinho para eles buscarem a gente", acrescentou.

Outro morador, que não faz parte do assentamento, mas é vizinho ao local, também disse que aguardava a conclusão da obra. Seu Edivaldo dos Santos destacou que não conhecia a UFN3. "Onde vai sair essa usina?", disse surpreso.

Um das ruas em que mais de 450 famílias moram próximo a rodovia federal (Foto: Paulo Francis)
Um das ruas em que mais de 450 famílias moram próximo a rodovia federal (Foto: Paulo Francis)

Ao ser lembrado que se trata da fábrica iniciada pela Petrobras ele se recordou. "Ah, tinha uns russos que queriam continuar a obra. Eu tô desempregado, quem sabe agora eu consigo", disse esperançoso.

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