Consumidor conseguia comprar pão e leite por R$ 1 quando surgiu nova moeda
Solução pôs fim à hiperinflação e devolveu poder de compra
Há 30 anos, no dia 1° de julho de 1994, entrava em operação o Plano Real, criado para a estabilização econômica do País. A recordação que fica daquele ano é: o que era possível comprar com R$ 1?
Se hoje a inflação acumulada em 3,93% já assusta, imagina em junho de 1994 quando foi registrado 4.922%, às vésperas do lançamento da nova moeda, segundo o Banco Central. A inflação finalizou 1994 com 916%, e já em 1995 atingiu 22%. Em 30 anos, a inflação acumula 708%.
Comparando esses momentos, com a chegada do Real, é visível que o poder de compra melhorou.
No entanto, sabe-se que ano após ano, com o aumento dos produtos que não acompanham o preço do salário mínimo, o poder aquisitivo também não está dos melhores, embora muito menos impactante no orçamento familiar do que do período que antecedeu o Plano Real.
Como era a vida ? – Em julho de 1994, o salário mínimo estava em R$ 64,79, e em dezembro passou para R$ 70, segundo dados do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos). Em 2024, o salário mínimo está em R$ 1.412.
Conforme publicações em jornais na época, o pão francês custava R$ 0,10; o leite entorno de R$ 0,70. Com isso, podia comprar dez pães ou um leite e três pães. Um pacote de arroz de 1 kg era R$ 0,64 e o feijão, R$ 1,11.
Comerciantes de Campo Grande relembram o “nascimento” da moeda. Nelson Fernandes dos Santos, está há 38 anos no mesmo ponto, localizado na Avenida Calógeras. Ele vende artigos de cozinha.
“Foi o que resolveu a questão da inflação. Antes era muito alta e veio para dar uma melhorada. Daqui para frente não sei o que pode acontecer, mas esse plano veio como água fria no fogo. O negócio é a gente trabalhar e ter fé, porque quem trabalha vence”, pontuou.
Ainda de acordo com Nelson, naquela época, ele já tinha o comércio e lembra que a inflação chegava a 40% todo mês.
O comerciante, Gilberto Labela Filho, de 50 anos, abriu um empório de produtos naturais há 1 ano. Antes, ele era funcionário neste mesmo segmento. “A inflação era muito alta, só que hoje, o dinheiro desvalorizou muito, antigamente 1 real era realmente 1 real agora vale 0,12. A inflação está menor, mas a insegurança é muito grande no mercado. As pessoas têm medo de gastar, a pandemia quebrou muita gente, as pessoas estão segurando e só compram o necessário. O plano foi muito bom, acredito que se fosse para eu abrir uma empresa antes do plano, eu não teria conseguido”, afirmou.
Nassif Asmar, de 56 anos, abriu uma loja de sapatos quando nasceu o Plano Real, há 30 anos. “O plano veio na hora certa, a inflação subia todo dia, ajudou bastante o povo. Naquela época eu comprava sapato por 10 reais em um dia, no outro, estava 20. Quem paga a conta é o consumidor, porque temos que acompanhar o preço, não adianta comprar caro e vender barato”, destacou.
De acordo com o economista, Enrique Duarte, a chegada do real controlou a inflação, mas gerou desemprego. “Com 84 centavos comprava 1 dólar, o real valia mais que o dólar quando ele surgiu. A maioria dos consumidores brasileiros compravam de fora, então, provocando um desemprego aqui e um emprego no estrangeiro. Essa foi uma das características da moeda valorizada, como naquele tempo do real”, explicou.
História do real – O plano começou a ser desenhado em 1993, quando o Ministério da Fazenda montou uma equipe para pensar em formas de acabar com a superinflação.
O planejamento passou por três fases. A primeira foi buscar o equilíbrio das contas do governo, como por exemplo, reduzir os gastos públicos; ajustar estruturas dos bancos estaduais e federais; e aumentar a receita com o combate à evasão fiscal e com a privatização de empresas públicas dos setores siderúrgicos e petroquímico.
A segunda fase, já em 1° de março de 1994, começou a utilização de uma moeda virtual, a URV (Unidade Real de Valor), junto com o cruzeiro real. Era uma unidade de conta, e não podia ser usada como meio de pagamento.
A URV deveria ser usada nos novos contratos firmados no País, enquanto os já existentes poderiam optar ou não pela conversão.
A terceira fase começou no dia 1º de julho, quando a URV foi transformada no real, uma moeda strictu sensu. Um real valia uma URV ou CR$ 2.750.
Foi estabelecido um teto para a taxa de câmbio, e também foram fixados limites máximos para o estoque de base monetária até março de 1995.
O Banco Central em conjunto com a Casa da Moeda do Brasil desenvolveu projetos gráficos para as cédulas do real nos valores de 1, 5, 10, 50 e 100. Já as moedas metálicas nos valores de 1, 5, 10 e 50 centavos, e 1 real.
A cédula de R$ 1, que não existe mais, tinha como gravura um beija-flor alimentando filhotes em seu ninho. A cédula de R$ 5 tem uma garça; a cédula de R$ 10 é estampada por uma arara. Para a nota de R$ 50, o animal escolhido foi uma onça-pintada. A nota de R$ 100 tem o desenho de uma garoupa, peixe marinho.
Em 2001, o real passou a ter notas de R$ 2, figurada por uma tartaruga marinha, e de R$ 20, representada pelo mico-leão-dourado. Elas entraram em circulação para facilitar o troco nas compras.
A escolha dos animais foi feita pelo público, por meio de uma pesquisa. A tartaruga marinha, que figura no reverso da cédula de R$ 2 e o mico-leão-dourado, que ilustra o reverso da cédula de R$ 20, foram as primeiras colocadas na enquete.
Além destas opções, as outras eram: lobo guará, tamanduá-bandeira e o jacaré-de-papo-amarelo. Todos animais da fauna brasileira que correm risco de extinção.
Todas as notas criadas têm padronização de um anverso, com a efígie da República, e cores diferenciadas por valor. No reverso, a escolha por animais presentes na fauna brasileira, que tem como objetivo promover a proteção da fauna e da flora brasileiras, além da preservação do meio ambiente.
A primeira família foi lançada no dia 1° de julho de 1994, substituindo o cruzeiro real. Em 2010, surgiu a segunda família, que representa a evolução do real, que inclui até a nota de R$ 200, mas que pouca gente viu.
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