Gado criado com floresta "salva" solo e gera renda extra
Com sombra no rebanho, o gado sente menos calor e automaticamente não consome muita energia
O sistema silvipastoril, que é o consórcio da criação de gado com florestas, é uma alternativa para o produtor que deseja aliar duas economias na mesma área. Por meio do sistema, a renda pode ser obtida com a comercialização de madeira e carne.
De acordo com o engenheiro agrônomo Valdemir Antônio Laura, pesquisador da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) Gado de Corte, em Campo Grande, a implantação do consórcio garante maior produção de carne e ajuda na conservação do solo e da árvore, evitando erosões, principalmente as causadas pela chuva. Com isso, a pastagem deixa de ser degradada, se tornando fértil e protegida por folhas.
Já o presidente da Reflore/MS (Associação Sul-Mato-Grossense de Produtores e Consumidores de Florestas Plantadas), Junior Ramires, esclarece que no sistema silvipastoril, a madeira é comercializada como subproduto para quem a consorcia, juntamente com a pecuária.
Um modelo interessante e que pode ser usado nesse sistema é a separação de áreas dentro da mesma propriedade. Segundo Junior, existem produtores que plantaram 4 mil hectares de pastagens com uma determinada quantidade de cabeças de gado. Foram separados mil hectares, arrendados para que uma empresa plantasse a floresta. Resultado: foi gerada renda extra.
Com sombra no rebanho, o gado sente menos calor e automaticamente não consome muita energia. Outro aspecto interessante nesse sistema é que há diminuição no consumo de água, que cai até 20%. Uma vaca costuma beber cerca de 50 litros de água por dia e pelo sistema, ela poderá beber dez litros a menos.
Dados de pesquisas feitas em outras regiões em que o consórcio é implantado apontam que a fertilidade do gado é alterada, resultando em taxas significativas de prenhes, aumento da libido do touro, interferência no cio das fêmeas e até mesmo no peso dos bezerros.
No entanto, antes da junção do gado com as árvores, é necessário que o agricultor plante a floresta, geralmente usando o eucalipto, que é a espécie florestal que cresce com mais rapidez. A partir de um ano, o gado já pode ser colocado na área.
O eucalipto é uma árvore que recicla bastante o ambiente, sendo adubada só até o segundo ano de plantio. Após esse processo, existe uma ciclagem dos próprios nutrientes dessa árvore, que acabam a nutrindo. A matéria orgânica gerada, teoricamente é melhor do que uma matéria orgânica de espécies gramíneas, por exemplo.
As árvores de eucalipto são sustentáveis e se o produtor cortá-las em idade adulta (entre seis e sete anos), automaticamente conseguirá empreender a ciclagem dos nutrientes. Esse processo é equilibrado e não retira matéria alguma do solo, apenas insere. Pela cobertura, o nutriente que a planta devolve é mais vantajoso à plantação de florestas do que de pastagens.
Para que o sistema silvipastoril seja eficaz, é necessária a plantação de quantidade adequada de árvores, afinal, se for plantado um número muito grande, a produção pode cair e prejudicar o pasto e em casos de plantio de poucas árvores, haverá menos sombra. O recomendado é que antes da chegada do gado, as árvores estejam medindo 8 centímetros de diâmetro. Caso contrário, os próprios animais destroem a árvore.
A quantidade de gado na área depende do tamanho do pasto. No entanto, o sistema permite de 200 a 300 árvores por hectare, que é um número suficiente para preencher o sombreamento.
A colheita do eucalipto, por exemplo, acontece entre seis e sete anos. Mas se o mercado estiver em queda, a árvore pode continuar plantada no local a custo zero, só engrossando. Automaticamente o valor dela aumentará.
Atualmente, para o plantio de um hectare de floresta pura de eucalipto, o pecuarista teria de investir de R$ 2,5 mil a R$ 3 mil por hectare, num espaço com 1,3 mil árvores plantadas. Se forem plantadas 400, o custo aproximado cai para R$ 1,2 mil.
Produções - O pecuarista Francisco Maia, presidente da Acrissul (Associação de Criadores de Mato Grosso do Sul), começou a desenvolver o sistema há três anos, tendo colocado o gado na área há um ano e meio.
Maia classifica o sistema como sustentável e acrescenta que os lucros com a produção são variados, já que a madeira serve para produzir energia, ser vendida a indústrias moveleiras e também a usinas.
Em sua propriedade, o Rancho Cayman, o sistema é desenvolvido em aproximadamente 500 hectares.
Em proporções maiores, numa área de 1,4 mil hectares destinada única e exclusivamente ao sistema silvipastoril, o diretor do Grupo Mutum, Geraldo Mateus Campos Reis, começou sua produção há quatro anos.
Na fazenda Ilha da Mata, em Ribas do Rio Pardo, onde o sistema é implantado, a criação do gado com árvores permite a entrada de capital mais cedo. A informação é do pecuarista Moacir Reis, filho de Geraldo.
Para ele, manter o gado com outra fonte de renda se torna mais rentável, mesmo que os lucros sejam obtidos em longo prazo. Antes de o produtor implantar o sistema em sua propriedade é necessário que se informe, buscando profissionais adequados do setor para que executem o consórcio.
Com terras altamente férteis, Mato Grosso do Sul vem se destacando no cenário do sistema silvipastoril por começar a engatilhar suas primeiras produções. E parece estar dando certo.