Redução de gás natural vindo da Bolívia preocupa governo de MS
Governador Eduardo Riedel diz que Estado já sente os impactos desde agosto, com queda na arrecadação
A redução do volume de gás natural produzido na Bolívia para abastecer Argentina e Brasil, produz impactos econômicos desde agosto em Mato Grosso do Sul, que é um dos principais canais de distribuição.
Durante evento de inauguração do Centro de Múltiplo Uso em Campo Grande neste domingo (8), o governador Eduardo Riedel (PSDB) revelou que o Estado registrou queda de arrecadação nos últimos meses relacionada à crise do gás boliviano. "Nós tivemos em agosto e setembro, talvez, os piores meses em arrecadação. É fruto da internalização do gás, pela diminuição do volume", afirmou.
Alegando reservas esgotadas, as autoridades bolivianas pedem ajuda do Brasil para reverter o problema, com parceria para melhorar a infraestrutura e retomar o volume ideal de produção. Riedel defendeu "uma posição estratégica" da Petrobras, que fará diretamente as negociações, e ressaltou que a situação "impacta muito Mato Grosso do Sul".
"Existe a necessidade de investimento na Bolívia para ampliar a extração de gás e o Brasil vai ter que tomar uma decisão estratégica em relação a como lidar com situação, por meio da Petrobras, [pensando nos Estados] e na retomada do volume de gás natural", disse o governador.
R$ 100 milhões - Foi esse o valor em ICMS que Mato Grosso do Sul já deixou de arrecadar somente este ano, segundo Riedel, devido à queda da "internalização" de gás no Estado. "É sinal de alerta e nós estamos acompanhando, mas com a confiança de que os bolivianos vão retomar seu volume original, até porque o Brasil precisa", disse.
Neste cenário, citou também o gás natural do pré-sal, que seria uma saída para o País, mas ainda não está totalmente "internalizado", e defendeu a inclusão do combustível na matriz energética de maneira mais expressiva.
"Ajuda no meio ambiente, ajuda no balanço de carbono em relação a outros combustíveis fósseis e o da Bolívia é uma grande oportunidade, já que a infraestrutura está pronta e o gás está à disposição", disse o governador.
UFN3 depende do gás - Eduardo Riedel disse ver na conclusão da fábrica de fertilizantes UFN3, em Três Lagoas, uma das principais saídas para aumentar a arrecadação de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) em Mato Grosso do Sul. Restabelecer o volume de gás natural é fundamental para a fábrica atender a expectativa.
"Ter a retomada do volume mais alto de gás natural, será fundamental por estarmos com [as obras da] UFN3 prestes a retornar. Serão mais de R$ 2 milhões de m³ por dia [em consumo de gás natural pela fábrica]. Seria muito bom se a gente pudesse viabilizar toda essa estrategia de aumento de gás para trazer como consequência a arrecadação maior no Estado", falou.
As obras da fábrica estão paradas há oito anos. Cerca de 80% do cronograma já foi concluído. O Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) vai destinar recursos do Governo Federal para o término e entrega.
Gasoduto - O mercado de gás começou a ter relevância no Brasil a partir da construção do Gasbol (Gasoduto Bolívia-Brasil), em 1997. Com o crescimento da produção nacional, o produto aumentou a participação na matriz elétrica para 12,8% até 2022.
O gasoduto começa em Santa Cruz de La Sierra (Bolívia) e vai até Canoas (RS), cortando 135 municípios nos Estados de Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A extensão total é de 3.150 km, sendo 600 quilômetros no canal sul-mato-grossense.
Pelo duto eram importados até 33 milhões m³ de gás por dia. Até junho deste ano, a MS Gás, empresa de Mato Grosso do Sul distribuía o volume equivalente a 10% (3 milhões de m³) de todo o gás importado da Bolívia.