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Economia

Três Lagoas sobrevive a duas crises apostando na volta das grandes obras

Enquanto propaganda ostenta otimismo, empresários avaliam que em curto prazo não se supera as duas crises: a doméstica e nacional

Aline dos Santos, enviada especial a Três Lagoas | 30/08/2015 08:43
Queda na arrecadação reduziu a capacidade de investimento em Três Lagoas. No detalhe, uma das lagoas que dá nome ao município. (Foto: Vanessa Tamires).
Queda na arrecadação reduziu a capacidade de investimento em Três Lagoas. No detalhe, uma das lagoas que dá nome ao município. (Foto: Vanessa Tamires).
Rede Nova Estrela tem três supermercados na cidade e amplia lojas. (Foto: Vanessa Tamires)
Rede Nova Estrela tem três supermercados na cidade e amplia lojas. (Foto: Vanessa Tamires)

A abrupta paralisia das obras da fábrica de fertilizantes da Petrobras, a UFN3, deixou um rastro de dívidas e descrédito em Três Lagoas. Enquanto outdoor ostenta clima de otimismo, com referências aos futuros bilhões que vão aportar no município a partir de ampliação de empresas como Cargill, Fibria e Eldorado, empresários se mostram reticentes e avaliam que em curto prazo não se supera as duas crises: a doméstica e nacional.

Com as finanças impactadas pelo aperto econômico em 2008, o empresário Joaquim Alves Nunes Filho decidiu trocar Minas Gerais por Mato Grosso do Sul e o ramo de madeireira por hotelaria. “Sai procurando outro negócio e soube da expansão da celulose. No começo foi muito bom”, relata.

Mas o tempo de casa cheia chego ao fim no ano passado no Hotel Veredas. Ele viu a ocupação despencar de 95% para 40% e teve que demitir cinco dos nove funcionários. O empresário não tinha contrato com a UFN3, mas atendia terceirizados. A média de 80 hóspedes caiu para 20. “O segundo semestre de 2014 só decepcionou”, diz.

Para o empresário, apesar das obras de ampliação, o ritmo de negócios não é mais o mesmo. “Antes, tinha vendedor que ficava a semana toda. Agora fica um dia só e logo vai embora”, afirma Joaquim.

No ramo de supermercado, o consumo se readequou as dimensões de uma cidade de 113 mil habitantes que perdeu do dia para noite os milhares de trabalhadores da população flutuante. “A venda voltou para a realidade da cidade. O ramo de supermercado sentiu um pouco, mas a alimentação não tem como parar”, afirma o diretor comercial da rede Nova Estrela, que tem três lojas na cidade e uma em Andradina (interior de São Paulo) e 500 funcionários.

A empresa, que nasceu de uma beneficiadora de arroz, aposta no crescimentos e faz a ampliação dos supermercados.

Na BR-158, eucalipto toma o horizonte. (Foto: Vanessa Tamires)
Na BR-158, eucalipto toma o horizonte. (Foto: Vanessa Tamires)
“O segundo semestre de 2014 só decepcionou”, diz Joaquim, que investiu em hotelaria. (Foto: Vanessa Tamires)
“O segundo semestre de 2014 só decepcionou”, diz Joaquim, que investiu em hotelaria. (Foto: Vanessa Tamires)
Em hotel, ocupação de leitos caiu de 95% para 40%. (Foto: Vanessa Tamires)
Em hotel, ocupação de leitos caiu de 95% para 40%. (Foto: Vanessa Tamires)

A amistosa relação dos comerciantes com o consórcio UFN3, formado por Sinopec Petroleum Brasil e Galvão Engenharia, virou uma acirrada briga na justiça por R$ 36 milhões, valor cobrado por 156 empresas.

“Criou-se um impacto social muito grande, desemprego na cidade, muitas empresas tiveram que mandar funcionários embora. As atividades das empresas que estavam direcionadas para a UFN 3 paralisaram e algumas fecharam”, afirma o presidente da Associação Comercial e Industrial de Três Lagoas, Atílio Carlos D'Agosto.

Num curto espaço de tempo, a cidade se viu sem oito mil trabalhadores e com paralisação de investimentos. As dívidas do consórcio com os comerciantes foi cobrada por meio de ação civil pública, proposta pelo MPE (Ministério Público do Estado), e a Justiça determinou o bloqueio do valor nas contas da Petrobras.

“Nós conseguimos provar, oficialmente, que a Petrobras era corresponsável pela divida dos locais, que ela atuava diretamente na negociação”, afirma Atílio. O pagamento depende de julgamento de recursos no TJ/MS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul).

A expectativa é que a chegada de novos projetos, mensurados em R$ 17 bilhões,ponha fim à dolorida entressafra de investimentos. “O cenário favorável é concreto. A cidade já tem especulações de negócios, estão vindo empreiteiras, movimenta a cadeia comercial, alojamentos, alugueis de casas, prestadoras de serviços. Três Lagoas sente a crise, mas absorve melhor porque não depende de um único setor”, analisa o presidente da associação comercial.

O município tem mais de sete mil empresas. “O empresário de Três Lagoas está muito mais preparado para atender a demanda e muito mais ciente de que não pode viver somente dos grandes empreendimentos”, salienta Atílio.

Segundo presidente da associação comercial,  cidade se viu sem oito mil trabalhadores e com paralisação de investimentos. (Foto: Vanessa Tamires)
Segundo presidente da associação comercial, cidade se viu sem oito mil trabalhadores e com paralisação de investimentos. (Foto: Vanessa Tamires)
"A multiplicação das duas grande industrias de celulose vai nos dar muito fôlego, já nos dá muita esperança”, diz prefeita. (Foto: Vanessa Tamires)
"A multiplicação das duas grande industrias de celulose vai nos dar muito fôlego, já nos dá muita esperança”, diz prefeita. (Foto: Vanessa Tamires)
Do asfalto da BR-158,  só se avista as placas de fábricas de fertilizantes. (Foto: Vanessa Tamires)
Do asfalto da BR-158, só se avista as placas de fábricas de fertilizantes. (Foto: Vanessa Tamires)
Outdoor convida para investir em Três Lagoas. (Foto: Vanessa Tamires)
Outdoor convida para investir em Três Lagoas. (Foto: Vanessa Tamires)

Procura-se R$ 1 bilhão – Localizada na BR-158, a fábrica de fertilizantes está 82% pronta. Mas do asfalto só se avista as placas e guarita de segurança, que controla o acesso. O terreno foi doado e o prazo de conclusão é de cinco anos, sob risco de o poder público retomar a área.

“Mas eles vão acabar. Estivemos reunidos na sexta-feira passada [dia 14], uma convocação a pedido da senadora Simone Tebet (PMDB), e vieram os responsáveis pela UFN3. Estão em busca de um sócio, o que falta na verdade lá para acabar é um bilhão de reais. Perto do que já foi investido é muito pouco , já foram R$ 4,5 bilhões”, afirma a prefeita Márcia Moura (PMDB).

Segundo ela, o planejamento para a cidade também foi impactado pelo contingenciamento de recursos do governo federal e redução de repasse do FPM (Fundo de Participação dos Municípios). “As pessoas dizem Três Lagoas é uma cidade rica, que não precisa. Mas somos uma cidade que hoje arrecada R$ 23, R$ 24 milhões por mês. Quase que não está sobrando para eu investir, praticamente nada, enfatiza a prefeita.

Se o cenário fosse estável, a previsão da prefeitura era arrecadar R$ 30 milhões por mês. Contudo, a expectativa de um novo ciclo de prosperidade também chegou à administração municipal. “Ouso dizer que Três Lagoas, no setor crítico do Brasil, econômica e financeiramente falando, ouso dizer que é a única que está recebendo empreendimento de R$ 16 bilhões. A multiplicação das duas grande industrias de celulose vai nos dar muito fôlego, já nos dá muita esperança”, afirma Márcia Moura.

No primeiro trimestre do ano Três Lagoas teve receita líquida de R$ 128.169.614,75. Em 2014, o total em doze meses foi de R$ 340.207.769,72.

Representante da celulose, Fibria vai expandir produção em Três Lagoas. (Foto: Vanessa Tamires)
Representante da celulose, Fibria vai expandir produção em Três Lagoas. (Foto: Vanessa Tamires)
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