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Educação e Tecnologia

Apostila ainda salva alunos e pais têm dificuldades para se envolver em estudos

Precariedade de lares desperdiça oportunidade de mais participação da família na educação dos filhos durante pandemia

Tainá Jara | 06/05/2020 06:30
Apostilas impressas disponibilizadas pelas escolas foram principal garantia de transmissão do conteúdo (Foto: Divulgação/Direto das Ruas)
Apostilas impressas disponibilizadas pelas escolas foram principal garantia de transmissão do conteúdo (Foto: Divulgação/Direto das Ruas)

A popularização dos smartphones mostrou-se insuficiente para auxiliar nas aulas a distância colocadas em prática durante pandemia do novo coronavírus. Consideradas itens analógicos diante das inúmeras novas tecnologias existentes, as apostilas impressas salvaram as disciplinas oferecidas nas escolas públicas de Campo Grande. A quarentena também não alterou outra relação que sempre foi problema nas escolas. A participação do pais na vida escolar, continua fraca.

Os educadores garantem que não faltou preocupação dos pais em buscar o material impresso disponibilizado pelas escolas. Mas, na maioria das vezes, limitou-se a isto a participação da família, durante o período de aulas em casa, estabelecidas desde o final do mês de março na rede municipal de ensino da Capital. Embora o período represente oportunidade para maior participação dos pais na educação das crianças, a interação não é verificada na prática.

De acordo com a diretora da Escola Municipal Hercules Maymone, no Bairro Nova Lima, região norte da Capital, Maria Nimer, o caderno foi entregue para mais de 90% dos pais. “Com a internet é complicado, mas com o material físico percebemos que a criança teve acesso ao conteúdo”, destacou. A escola atende mais de 1 mil alunos da Educação Infantil até o 9° ano do Ensino Fundamental.

Além de fatores como a necessidade dos pais continuarem a trabalhar fora de casa, mesmo quando a recomendação é o isolamento social, e a falta de familiaridade com as tecnologias, o acesso precário a internet se mostra um dos maiores desafios tanto para o aprendizado das crianças, quanto para maior participação dos familiares responsáveis.

Diretora da Escola Municipal Hercules Maymone, em Campo Grande, Maria Nimer (Foto: Kisie Ainoã)
Diretora da Escola Municipal Hercules Maymone, em Campo Grande, Maria Nimer (Foto: Kisie Ainoã)

A professora de Língua Portuguesa, Cida Martins, leciona na Escola Municipal Elipídio Reis, no Bairro Mata do Jacinto, e afrima que a dificuldade de interação entre escola e comunidade ficou ainda mais evidente durante a quarentena.

“Realmente, há a oportunidade de uma aproximação entre pais e filhos, mas precisamos ver que nós temos Ns realidades, infelizmente. Nós temos pais que vão a partir de agora aprender a estar com os filhos e vão poder vislumbrar pela primeira vez o que é participar. Outros não”, afirmou.

A professora de Língua Portuguesa, Cida Martins (Foto: Kisie Ainoã)
A professora de Língua Portuguesa, Cida Martins (Foto: Kisie Ainoã)

Na tentativa de ter maior aproveitamento de conteúdo pelos alunos, a professora transmite ao vivo videoaulas, que são disponibilizadas em grupo fechado, criado no Facebook. Embora considere o formato com maior capacidade de simular o cenário da sala aula, ela afirma que é não possível medir o aproveitamento da disciplina, já que as interações às vezes partem de no máximo três alunos, apesar do vídeo ter cerca de 40 visualizações.

 “Nós temos a modalidade a distância no Brasil, que funciona no terceiro grau, nas especializações, com alunos adultos, que tem uma autonomia diferente. Como lidar com isso com crianças e adolescentes que mal têm o equipamento em casa?”, questiona.

Limitado aos dados móveis – Prejuízo no aprendizado é quase inevitável diante a estrutura precária disponível nos lares dos alunos e da quebra direta do vínculo presencial entre aluno e professor.

Redes sociais como Facebook são mais acessíveis aos alunos por não utilizarem tantos dados móveis(Foto: Kisie Ainoã)
Redes sociais como Facebook são mais acessíveis aos alunos por não utilizarem tantos dados móveis(Foto: Kisie Ainoã)


Considerado o acesso limitado a dados móveis, a diretora Maria Nimer, optou por oferecer o conteúdo online preferencialmente pelo Facebook e o WhatsApp, pois, algumas operadoras oferecem gratuidade nestas plataformas.

“É preciso considerar que, às vezes, o único aparelho disponível na casa é o celular do pai. Então, dependendo, se eu for colocar um vídeo no YouTube, por exemplo, não vai abrir porque vai gastar todos os dados do pai. O WhatsApp e o Facebook são as duas redes mais acessíveis”, explicou a diretora.

Segundo ela, a situação é ainda mais complicada quando se têm muitas crianças criadas pelos avôs.

Ela destaca que muitos alunos demonstram mais familiaridades com as tecnologias, dos que os próprios pais. “A interação maior que a gente teve foram dos alunos”, explicou. A professora espera, no entanto, por mais participação dos pais nas atividades do segundo caderno que será disponibilizado pela Semed (Secretário Municipal de Educação).

Para aumentar o período de isolamento, a prefeitura resolveu antecipar as férias de julho. As aulas, que deveriam retornar no próximo dia nesta quarta-feira, agora ficam suspensas até 21 de maio.  A medida atinge 107 mil alunos da Rede Municipal de Ensino, entre Educação Infantil e Ensino Fundamental.

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