Candidatos denunciam falha na correção de prova da UFMS
Estudantes apontam falha na correção da redação, divergência de notas e alteração no gabarito oficial
Vestibulandos e professores procuraram a reportagem para denunciar irregularidades na correção do vestibular da UFMS (Universidade Federal do Mato Grosso do Sul) que aconteceu dia 4 de dezembro de 2022. O caso ganhou repercussão na internet após alunos e professores exporem falha na correção da redação, questões sem alternativa correta, divergência de notas e alterações no gabarito oficial.
O estudante Ulisses Galvão Ferreira Oliveira, de 20 anos, prestou vestibular para medicina e afirma que as questões 38 e 40 de física apresentaram “erros inadmissíveis”, enquanto as questões 37 e 39 tiveram as respostas corretas alteradas no gabarito definitivo.
“As questões de número 38 e 40 deveriam ser anuladas pois não apresentam resposta correta entre as alternativas. Contudo, anulou-se apenas a questão de número 40. As questões de número 37 e 39 tiveram as respostas alteradas. O gabarito preliminar publicado atribuiu as respostas corretas a essas questões. No entanto, o gabarito definitivo atribuiu como corretas alternativas que estavam erradas”, explica o estudante.
O estudante declara que se sentiu prejudicado, além de considerar a construção das questões confusa. “Acho que a prova foi mal elaborada e não teve uma revisão consistente das questões”, finaliza.
O estudante Reinold do Nascimento Freitas, de 27 anos, também prestou vestibular para medicina e tirou nota 100 na redação, que atua como um divisor de águas na hora de conseguir uma boa colocação na lista de aprovados. "Eu busquei ao máximo ir na exatidão do tema, alguma coisa deve estar errado na forma como eles orientam os corretores. Eu sei de alunos que obtiveram nota máxima mesmo cometendo vários desvios gramaticais".
Estudante de 20 anos, que optou por não se identificar, prestou vestibular para medicina e afirma que se sentiu prejudicada com a correção da redação. Para a estudante, não houve coerência e a banca não respeitou os requisitos de correção. “Há incoerências na correção, como por exemplo não ter seguido a estrutura do tema dissertativo sendo que fiz 30 linhas, 4 parágrafos e argumentei e dissertei, tendo como introdução, desenvolvimento e conclusão”, declara.
O caso foi parar nas redes sociais, onde a estudante afirma que professores e alunos estão debatendo o tema. “No Twitter tem muitos estudantes reclamando também, e há um vídeo de um professor reclamando. Sinceramente, nós vestibulandos estamos cansados dessa correção incoerente e o que desanima é que muitas vezes o recurso não é aceito", declara. A estudante entrou com recurso e está aguardando pelo processo.
A reportagem procurou professores que lecionam redação e física, para ajudarem a analisar os problemas levantados pelos vestibulandos. O professor João Francisco Medina Araújo, de 38 anos, ensina física em cursos preparatórios para vestibular e apontou incoerências na formulação das questões. “Eles estão formulando questões que as unidades de medidas estão erradas, não tem como resolver as questões, e às vezes, quando resolve, chega em resultados que não tem na alternativa”, explica.
Outra questão levantada pelos alunos, e explicada pelo professor, foi a divergência de notas e cálculos da média que não batem com o resultado final. "Existem algumas inconsistências que eu não consegui entender. Por exemplo, tem um setor onde fala a média por competência. Tem 15 questões de linguagem e a média por competência foi maior que 15".
Ele também comenta a respeito da alteração no gabarito oficial. "Algumas questões que eles [a Fapec] tinham mandado no gabarito preliminar, e que estavam certas, vieram no gabarito oficial com alternativa errada. Isso não pode acontecer, estamos falando do futuro dos alunos”.
O professor Hildegard Brum ensina redação em cursos de pré-vestibular e atua na área há mais de 15 anos. Ele aponta que os critérios de correção da redação foram confusos e atípicos, e a aplicação das notas "de um rigor injustificável".
O profissional ressalta que os critérios de correção usados pela UFMS são tradicionais e comuns em outros vestibulares, mas as redações que foram zeradas, que por critério do edital ficaram com nota 100, são injustificáveis. “Para a maioria dessas notas se aponta fuga de tema e/ou tipologia textual, porém, não se justificam essas atribuições, pois as redações trabalham o tema, mesmo que em alguns casos, de forma tangencial".
O professor finaliza relembrando que geralmente os vestibulares só atribuem nota zero às redações em casos de fuga total do tema.
Os alunos que se sentiram prejudicados podem entrar com recurso em caso de inconsistência no resultado preliminar. Os pedidos de recurso devem ser encaminhados ao site da Fapec e devem conter relatório e motivação entre 24 e 25 de janeiro.
A previsão é de que a avaliação dos recursos seja publicada no dia 6 de fevereiro, assim como o resultado final do Vestibular UFMS e da 3ª etapa do PASSE.
A reportagem procurou a assessoria da Fapec (Fundação de Apoio à Pesquisa, ao Ensino e à Cultura) para esclarecer as possíveis incoerências discutidas pelos vestibulandos e professores, e a Instituição informou que as questões 38 e 40 da prova de física foram encaminhadas à banca que concluiu pela anulação da questão 40 e manutenção da questão 38.
A assessoria também informou que "não houve mudança do gabarito oficial, além dos recursos procedentes, apenas um equívoco na divulgação do Gabarito definitivo que já foi sanado. De um modo geral, todas as reclamações dizem respeito à discordância, maior ou menor, com a correção das redações efetuadas pela equipe da Fapec. Nesse sentido, cumpre ressaltar que ela segue os critérios já mencionados, com o processo levando em conta o que diferencia a concepção de redação traduzida neles de outros processos seletivos. A nota foi calculada de acordo com o previsto no edital de abertura, o candidato deve multiplicar o número de questões que acertou por 2, logo a pontuação máxima por item é 30".
Matéria alterada25 de janeiro às 7h03 para acréscimo da resposta da assessoria.