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Educação e Tecnologia

Três meses de busca frustrada por vaga em escola expõe luta de mães de autistas

Após meses de insistência, coordenadora de escola particular disse que havia vaga para a criança

Por Idaicy Solano | 02/01/2024 16:24
Três meses de busca frustrada por vaga em escola expõe luta de mães de autistas
Jenifer, ao lado da filha Helena, de seis anos, durante entrevista (Foto: Alex Machado)

Ensino inclusivo é o desafio de toda mãe de criança com algum tipo de necessidade especial. Infelizmente, a auxiliar administrativa Jenifer Alves de Almeida, 33 anos, descobriu o quanto esse desejo é complicado ao tentar matricular a filha na "escola dos sonhos" de Helena, hoje com 6 anos, diagnosticada com TEA (Transtorno do Espectro Autista). A experiência se tornou "traumática".

Três meses de busca frustrada por vaga em escola expõe luta de mães de autistas
Em contato com a insituição, Jenifer informou que a filha possuia laudo de TEA (Foto: Arquivo Pessoal)

A mãe conta que passou três meses insistindo por uma vaga para a filha, no primeiro ano do Ensino Fundamental, na escola do Sesc, em Campo Grande. As conversas começaram em outubro, mas quando chegou o momento de realizar a matrícula, Jenifer foi informada que não havia vaga para a criança.

A auxiliar recebeu um e-mail dizendo que uma vaga estava reservada para a Helena só na última quinta-feira (28). No dia seguinte, na sexta-feira (29), ela levou toda a documentação da criança até o Sesc para efetivar a matrícula, mas foi surpreendida. A coordenadora da escola disse que as vagas estavam destinadas aos alunos que já estudavam na instituição, portanto, não havia vagas para ingresso no ano de 2024 e que no momento não havia vaga para a Helena.

Jenifer questionou a respeito das reservas para alunos com necessidades especiais, mas a mulher disse que não havia vaga exclusiva para este público e que “ela não tinha como fazer isso, porque isso aí já era com a direção e a direção era daquele jeito”, conta a mãe.

As justificativas não convenceram e levaram Jenifer a acreditar que o motivo real é preconceito e falta de estrutura para receber autistas.

As escolas não querem ter gasto com uma pessoa especializada [em atender] crianças com autismo. O autista ele requer muito a sua atenção e a sua paciência, então a gente entende que numa sala com 20 crianças, uma professora só não vai dar conta, precisa de um auxiliar”, explica Jenifer.

Três meses de busca frustrada por vaga em escola expõe luta de mães de autistas
E-mail que Jenifer recebeu da escola Sesc Horto, informando que a vaga de Helena estava reservada e precisava ser efetivada (Foto: Alex Machado)

Experiência traumática - Jenifer relata que entrou em contato com a escola em seis de outubro de 2023, para tirar dúvidas sobre a matrícula e se havia professores auxiliares disponíveis, pois se tratava de uma criança com espectro autista.

A auxiliar passou a acompanhar a lista de espera para o ingresso de novos alunos e fazia contato frequentemente com a escola para saber sobre a vaga, porém, a instituição sempre pedia para ela aguardar.

Três meses de busca frustrada por vaga em escola expõe luta de mães de autistas
Print de conversa com a secretaria da escola mostra insutência de mãe pela vaga (Foto: Arquivo Pessoal)

Durante a conversa com a reportagem, Jenifer relatou que nesses três meses nunca teve dúvidas de que poderia matricular a filha na escola.

Eles pediam para eu ter calma, que ia chegar a minha vez, mas nunca chegava a minha vez. Minha sobrinha se matriculou, tinha pessoas lá fazendo outras matrículas, ou seja, tinha vagas, só para a Helena que não”, denuncia a mãe.

Três meses de busca frustrada por vaga em escola expõe luta de mães de autistas

Jenifer relata que quando chegaram à escola para fazer a matrícula, a filha se apaixonou pelo local e criou expectativas que não podem mais ser atendidas. A mãe explica que a criança tem dificuldade em lidar com mudanças e que será necessária muita conversa para explicar para Helena que ela não irá mais estudar no local prometido.

“Foi uma experiência traumática. Quando a gente chegou naquela escola, a Helena achou tudo lindo, maravilhoso. Ela perguntou o que era, e eu falei ‘é sua nova escola, filha’. E ela ficou apaixonada. Ela está contando para todo mundo sobre a nova escola dela, e hoje eu não vou mais levar ela pra lá”, lamenta Jenifer.

Dificuldades - Jenifer relata que é muito difícil encontrar escolas que ofereçam boa estrutura e profissionais capacitados para atender crianças com autismo. Segundo a mãe, as instituições não estão preparadas para atender crianças que necessitam de atenção redobrada.

Após a experiência frustrante, a auxiliar desistiu de procurar uma escola privada e optou por deixar a filha na escola pública, onde já existe uma vaga garantida. Helena está deixando o ensino infantil para ingressar no primeiro ano do Ensino Fundamental.

Eu estou preocupada, porque ela está saindo da creche e indo para a escola. Então é um mundo totalmente diferente para ela. Tivemos uma situação em que a Helena foi excluída de tudo na escola. Tiraram ela do recreio, do balé. Eu fico muito triste, muito chateada pela dificuldade que a gente tem referente a uma criança autista”, finaliza a mãe.

Em nota, o Sesc afirmou que não negou atendimento para a mãe, mas que não pode garantir a vaga para Helena, "por uma questão legal, para não exceder o número de alunos permitido em sala de aula", pois todas as vagas para a turma do Ensino Fundamental 1 da instituição já estão preenchidas. Conforme a nota, no caso da vaga pretendida, o número máximo de alunos é de 20 por sala.

"Existe uma deliberação do Conselho Estadual de Educação de MS, que trata sobre o assunto. Essa normativa prevê que as escolas devem ter quantidades específicas de alunos por turmas para garantir o direito dessas crianças ao melhor atendimento", diz a nota, em referência a deliberação CEE/MS N.° 11.883.

Apesar de questionada, a instituição não mencionou nada a respeito do e-mail que Jenifer recebeu, informando que uma vaga na escola estava reservada para a filha.

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