Três meses de busca frustrada por vaga em escola expõe luta de mães de autistas
Após meses de insistência, coordenadora de escola particular disse que havia vaga para a criança
Ensino inclusivo é o desafio de toda mãe de criança com algum tipo de necessidade especial. Infelizmente, a auxiliar administrativa Jenifer Alves de Almeida, 33 anos, descobriu o quanto esse desejo é complicado ao tentar matricular a filha na "escola dos sonhos" de Helena, hoje com 6 anos, diagnosticada com TEA (Transtorno do Espectro Autista). A experiência se tornou "traumática".
A mãe conta que passou três meses insistindo por uma vaga para a filha, no primeiro ano do Ensino Fundamental, na escola do Sesc, em Campo Grande. As conversas começaram em outubro, mas quando chegou o momento de realizar a matrícula, Jenifer foi informada que não havia vaga para a criança.
A auxiliar recebeu um e-mail dizendo que uma vaga estava reservada para a Helena só na última quinta-feira (28). No dia seguinte, na sexta-feira (29), ela levou toda a documentação da criança até o Sesc para efetivar a matrícula, mas foi surpreendida. A coordenadora da escola disse que as vagas estavam destinadas aos alunos que já estudavam na instituição, portanto, não havia vagas para ingresso no ano de 2024 e que no momento não havia vaga para a Helena.
Jenifer questionou a respeito das reservas para alunos com necessidades especiais, mas a mulher disse que não havia vaga exclusiva para este público e que “ela não tinha como fazer isso, porque isso aí já era com a direção e a direção era daquele jeito”, conta a mãe.
As justificativas não convenceram e levaram Jenifer a acreditar que o motivo real é preconceito e falta de estrutura para receber autistas.
As escolas não querem ter gasto com uma pessoa especializada [em atender] crianças com autismo. O autista ele requer muito a sua atenção e a sua paciência, então a gente entende que numa sala com 20 crianças, uma professora só não vai dar conta, precisa de um auxiliar”, explica Jenifer.
Experiência traumática - Jenifer relata que entrou em contato com a escola em seis de outubro de 2023, para tirar dúvidas sobre a matrícula e se havia professores auxiliares disponíveis, pois se tratava de uma criança com espectro autista.
A auxiliar passou a acompanhar a lista de espera para o ingresso de novos alunos e fazia contato frequentemente com a escola para saber sobre a vaga, porém, a instituição sempre pedia para ela aguardar.
Durante a conversa com a reportagem, Jenifer relatou que nesses três meses nunca teve dúvidas de que poderia matricular a filha na escola.
Eles pediam para eu ter calma, que ia chegar a minha vez, mas nunca chegava a minha vez. Minha sobrinha se matriculou, tinha pessoas lá fazendo outras matrículas, ou seja, tinha vagas, só para a Helena que não”, denuncia a mãe.
Jenifer relata que quando chegaram à escola para fazer a matrícula, a filha se apaixonou pelo local e criou expectativas que não podem mais ser atendidas. A mãe explica que a criança tem dificuldade em lidar com mudanças e que será necessária muita conversa para explicar para Helena que ela não irá mais estudar no local prometido.
“Foi uma experiência traumática. Quando a gente chegou naquela escola, a Helena achou tudo lindo, maravilhoso. Ela perguntou o que era, e eu falei ‘é sua nova escola, filha’. E ela ficou apaixonada. Ela está contando para todo mundo sobre a nova escola dela, e hoje eu não vou mais levar ela pra lá”, lamenta Jenifer.
Dificuldades - Jenifer relata que é muito difícil encontrar escolas que ofereçam boa estrutura e profissionais capacitados para atender crianças com autismo. Segundo a mãe, as instituições não estão preparadas para atender crianças que necessitam de atenção redobrada.
Após a experiência frustrante, a auxiliar desistiu de procurar uma escola privada e optou por deixar a filha na escola pública, onde já existe uma vaga garantida. Helena está deixando o ensino infantil para ingressar no primeiro ano do Ensino Fundamental.
Eu estou preocupada, porque ela está saindo da creche e indo para a escola. Então é um mundo totalmente diferente para ela. Tivemos uma situação em que a Helena foi excluída de tudo na escola. Tiraram ela do recreio, do balé. Eu fico muito triste, muito chateada pela dificuldade que a gente tem referente a uma criança autista”, finaliza a mãe.
Em nota, o Sesc afirmou que não negou atendimento para a mãe, mas que não pode garantir a vaga para Helena, "por uma questão legal, para não exceder o número de alunos permitido em sala de aula", pois todas as vagas para a turma do Ensino Fundamental 1 da instituição já estão preenchidas. Conforme a nota, no caso da vaga pretendida, o número máximo de alunos é de 20 por sala.
"Existe uma deliberação do Conselho Estadual de Educação de MS, que trata sobre o assunto. Essa normativa prevê que as escolas devem ter quantidades específicas de alunos por turmas para garantir o direito dessas crianças ao melhor atendimento", diz a nota, em referência a deliberação CEE/MS N.° 11.883.
Apesar de questionada, a instituição não mencionou nada a respeito do e-mail que Jenifer recebeu, informando que uma vaga na escola estava reservada para a filha.
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