Diante de demora no repasse de doses, maioria teme faltar vacina
Com escassez de doses, má administração na vacinação pode atrasar imunização no Estado
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Durante alguns dias nas últimas semanas, Campo Grande tem tido dificuldade na continuidade da vacinação contra a covid-19 por falta de doses. Mesmo com expectativa que nova remessa chegue hoje (29), muitos moradores têm relatado medo dos perigos dessa falta de imunizantes.
A cozinheira Maria Aparecida dos Santos, de 60 anos, lembra que já tomou a 1ª dose e que aguarda com receio pela 2ª. "Fico com um pouco de medo de não ter a 2ª ou demorar demais. Mas peço para Deus ajudar, tem que ter fé que vai dar tudo certo mesmo com o medo. Quero me garantir com a vacina, é importante", comenta.
O porteiro Luis Carlos Rodrigues Ramires, de 65, corrobora com essa visão e relata que demorou muito antes de tomar a 1ª dose. "Eu mesmo tentei três vezes antes de conseguir tomar essa dose, se continuar desse jeito é difícil, perigoso não conseguir a outra", diz.
Fico com medo sim, tem demorado para vir mais vacinas e a gente não sabe como vai continuar", teme Luis.
O medo dos dois não é algo único. Conforme enquete do Campo Grande News, maior parte (69%) dos respondentes dizem temer a escassez de vacinas. Vale ressaltar que a demora na aplicação da 1ª e 2ª dose - necessárias para garantir total eficácia prevista - pode acarretar em redução na proteção, bem como no surgimento de efeitos colaterais não estimados.
Além disso, também há relatos de pacientes que tomaram doses de vacinas de fabricantes diferentes - prática também não recomendada.
A imunologista e professora da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) Inês Tozetti explica que a má administração da campanha de imunização pode gerar uma série de resultados não desejados. "Quando uma forma de administração é estabelecida para uma vacina [tempo entre as doses, por exemplo], foi realizado um estudo com acompanhamento clinico e laboratorial para obter o máximo de proteção e consequentemente o mínimo de efeitos colaterais".
"Alterar esse esquema, por si só, já poderia incorrer em alteração da eficácia da vacina ou surgimento de efeitos colaterais não desejados", comenta.
Retomada - Mato Grosso do Sul recebe hoje o 15º lote de vacina contra coronavírus enviado pelo Ministério da Saúde, com mais de 66,9 mil doses. Em entrevista concedida ao Campo Grande News no início da semana, o titular da SES (Secretaria Estadual de Saúde), Geraldo Resende, havia mencionado preocupação caso o recebimento de imunizantes demorasse. "Faltam muitas doses da Coronavac para completar o ciclo da imunização, a fase D2, que é a 2ª dose [...] estamos ansiosos, assim como a população”, comentou.
A dona de casa Cleuza Rodrigues dos Santos, de 60 anos, sente essa ansiedade pelo momento em que vai se proteger contra a covid-19 por meio de imunizante. "Dá um pouco de medo de ter falta de organização e complicar para conseguir tomar. Isso sim, mas não pensando que as vacinas podem faltar. A gente fica um pouco ansiosa, mas é só isso".
A corretora Marilei Baicere, de 65 anos, diz não temer a escassez de vacina agora que a campanha de imunização já teve início. "Não tenho medo, acho que se já começou a vacinar a tendência é que continue sem problemas. A maior dificuldade era começar mesmo, então estou tranquila. Até porque a gente precisa continuar se cuidando depois da vacina, não é só vacinar que acabou, é mais uma etapa".
Mesmo com a possibilidade de demora entre as duas aplicações, bem como de outros imprevistos, é quase consenso entre especialistas de saúde que a vacina ainda assim deve ser administrada para tentar garantir máximo de proteção. A imunologista Inês Tozetti recomenda que não se deixe de aplicar em data futura, independentemente de qual vacina seja. "Sempre se indica que é melhor tomar a segunda dose fora do tempo previsto, que não tomar. Mais uma vez quanto a essa doença, tudo é muito novo e somente acompanhando que se vacinou e que poderemos ter conclusões", finaliza.
Conforme o vacinômetro elaborado pelo governo estadual, Mato Grosso do Sul aplicou ao menos uma dose em mais de 17% de sua população, de pouco mais de 2,8 milhões de habitantes. Além disso, cerca de 7,6% encontram-se imunizados, já que receberam as duas doses.