Dos anos 40, textura de casarão é mistério que ninguém consegue desvendar
Na esquina da praça, na Rua 15 de Novembro, bem próximo à igreja. Onde se acorda com o sino e se vê ao abrir as janelas toda movimentação de uma cidade. A casa dos anos 40 tem uma textura diferente, que até hoje ninguém conseguiu descobrir a técnica utilizada.
O antigo sobrado virou morada da arquiteta Luciane Teixeira Santos e sua família há cinco anos. Em Corumbá, o Centro é dividido entre imóveis tombados e da área de entorno, onde a casa está. A reforma só pode ser feita com autorização da Prefeitura depois que o projeto, feito pela própria dona, foi aprovado. No dia a dia, a obra que levou em torno de dois anos para ser finalizada foi acompanhada de perto.
De início, a arquiteta nos conta que comprar o imóvel lhe assustou. Anteriormente a casa estava numa cor amarela forte que passava um aspecto um tanto sombrio. A paixão surgiu no decorrer da reforma e ao conhecer a parte de dentro, descobrimos a razão.
“Ela era de famílias de fazenda, uma casa dos anos 40, bem antiga, num estilo clássico”, apresenta Luciane. Por ser um imóvel antigo, a manutenção precisa ser quase constante, a cada seis meses a casa recebe uma atenção maior.
“Acaba tendo um pouco de umidade, precisa de mais manutenção do que uma casa nova”, compara.
Onde começamos a conversa, no escritório da arquiteta, o projeto original guardava uma garagem. “Era uma parte fechada, onde se deixava o carro para ir para a fazenda. Aqui em cima eram dois quartos dos empregos que transformei em quarto de hóspedes”, explica.
Por estar numa área de entorno de imóveis tombados, as características precisaram ser mantidas e a reforma teve duração de dois anos. “Trabalhamos sem perder as características, respeitando o estilo”, comenta Luciane. O resultado é uma mescla interessante entre o clássico, o rústico e o moderno.
Desde a fachada, a primeira coisa que chama atenção é a textura da casa. Em formas circulares e alto relevo, a gente tenta imaginar como foi feito tal trabalho e descobre que a resposta é um mistério que a casa guarda para si. “Ninguém conseguiu fazer igual, eu trouxe várias pessoas para ver, tem quem diga que é pata de cavalo ou que é feito com desentupidor de pia”, relata Luciane.
Na área de lazer, Luciane resgatou a antiga cerâmica Brosnan que no passado revestia parte da casa para fazer um detalhe na parede junto do gradio de um portão dos casarões do Porto. O revestimento, segundo a arquiteta, estava em vários cantos da casa, dando a entender que seriam algum dia usados.
Por dentro, o piso hidráulico continua a brilhar, na mesma coloração e tonalidade de quando foi colocado. A forma como está sugere também um planejamento da casa de acordo com o tamanho do piso. “A gente repara que fizeram a bordadeira do interior planejando com a casa, no tamanho do piso”, observa. De fato, o piso não tem recortes e pela qualidade preservada até hoje, Luciane acredita que veio de fora.
À época em que foi erguida, Corumbá recebia muitos arquitetos italianos, que podem ter concebido a ideia da casa.
A mesa de jantar encontrada na sala pertencia aos antigos donos. “Casa” com o estilo e ainda ficou sofisticada com a laca preta e o estofamento das cadeiras.
E não é de hoje que a Cidade Branca é quente. A arquitetura também nos revela a preocupação do projeto em manter a casa arejada. Na sala, além do pé direito ser duplo, várias janelas e portas levam a uma ventilação cruzada, para que o espaço recebesse circulação de ar e também vento.
A decoração interna seguiu sem perder a essência do estilo da casa. No lavabo, por exemplo, a arquiteta optou apenas por esconder os azulejos com papel de parede.
Na parte de cima, os dois quartos e o banheiro enorme foram transformados em três suítes. “É uma casa gostosa, as pessoas passam para tirar foto”, descreve a arquiteta e a gente, depois de um passeio pelos anos 40 até chegar aos dias de hoje, entende a paixão dela pela casa.