Entre tijolos e cimentos, pedreira faz da marca sua empresa: a "Construcida"
Ela não anda, desfila pelo canteiro de obras. O receio de passar entre os homens ficou no passado depois que Cida conseguiu um espaço lá dentro. O trabalho é pesado, mas Aparecida Siqueira Lima, de 43 anos, não reclama. A ex-auxiliar de cozinha, agora pedreira, entrou no que era visto como tradicional reduto masculino da construção civil e faz um marketing de chamar atenção na cidade de Anastácio. Da construção saiu a "Construcida".
“Queria inovar, sair do ramo de restaurante e lanchonete, trabalhar por conta própria”, conta. Cida foi em busca de cursos oferecidos pela Secretaria de Assistência Social do município e o que chamou atenção dela, logo de cara, foi o “A Mão que Constrói”, pelo nome e também pelo futuro garantido. A prefeitura ia iniciar a construção do Residencial Cristo Rei e a empreiteira precisava de mão-de-obra qualificada e com certificação para construir mais de 800 casas. Foi aí que a Secretaria criou o projeto para preparar trabalhadores.
Com muita disposição e responsabilidade, Cida saiu do curso e colocou seu desejo em prática. Hoje ela já acumula participação em muitas construções de Anastácio. Defeito ou qualidade, ela conta que gosta é de trabalhar sozinha. “Sou detalhista, gosto de fazer do meu jeito, às vezes você arruma alguém pra ajudar e não sai do jeito que a gente quer, então faço eu mesma”, brinca.
Longe do salto e da maquiagem, pelo menos no expediente, Cida começou a saga por clientes sem muita ajuda. Mas o boca a boca na cidade logo deu à ela a oportunidade de trabalhar na casa de um agente penitenciário, curioso para ver o trabalho da pedreira. “Precisava erguer um muro, um amigo me falou da Cida, achei curioso, mas resolvi apostar. Mulheres são mais detalhistas, mais limpas, organizadas, mais econômicas com o material. Eu acreditei no trabalho dela e não me arrependi, ela fez tudo sozinha!”, relata Luiz Carlos Albres Cintra, de 48 anos.
Trabalho feito e confiança conquistada, do muro ela partiu para o barracão de bailes da chácara da família de Luiz. “Eu coloquei piso por piso aqui nesse lugar. São 220 m² e me orgulho de chegar aqui, ver as pessoas dançando”, conta orgulhosa.
Com o olhar feminino e caprichoso, ela já ganhou espaço na cidade e mostrou faceira ao Lado B várias obras que têm sua mão e fez questão de mostrar a casa que ergueu sozinha. “Essa casa tem meu suor, fiz com muito carinho, só não coloquei o telhado e não fiz a fiação elétrica, nesse caso tem que ser alguém especializado na área, sei até onde posso ir”, disse.
Há quem acredite que trabalhos braçais não trazem sucesso profissional e financeiro, contudo, Cida é a prova do contrário. Cida já conquistou o tão sonhado carro. “Quando eu trabalhava como auxiliar de cozinha, andava de bicicleta, sonhava em ter um carro. Agora consegui adquirir um do jeito que eu queria, não é zero, mas é completo, uma pick-up onde eu posso passear e levar meus apetrechos de trabalho”, contou.
E a mulher não para por aí. Já formalizou sua pequena empresa a “Construcida”, se tornou microempreendedora individual e o próximo passo é formar uma equipe só de mulheres. “A profissão de pedreiro já é bem puxada para um homem que tem muito mais força que uma mulher. É muito bom noticiar sobre mulheres que se destacam em raras profissões”.
Além do sorriso e da felicidade, “Construcida” guarda bonitas palavras de gratidão pela oportunidade oferecida no curso. Para a primeira-dama, à frente da pasta de Assistência Social da cidade, ela chegou até a fazer poema:
“...Dona Cynthia a primeira-dama
também não para de trabalhar
promovendo cursos e ajudando todos que querem estudar.
Com isso a cidade está crescendo
Vai se transformando o lugar
É disso que a gente precisa
De emprego e trabalhar...”
*Giselli Figueiredo é jornalista em Aquidauana e Anastácio, amiga, leitora e colaboradora do Lado B.