Na Antônio Maria Coelho, antiga pensão é casa de freiras com direito a capelinha
Desde 1938 que a casa da Antônio Maria Coelho, quase esquina da Rui Barbosa, abriga freiras da congregação Instituto Irmãs de Jesus Adolescente. Comprada quando ainda era uma pensão, o imóvel mantém as mesmas características da época na fachada e reserva por dentro a história das irmãs pelas paredes, móveis e até mesmo no piano que nunca mais foi tocado.
Por curiosidade que o Lado B parou ali e pegou carona com uma irmã que fazia uma visita. Quem olha de fora não tem ideia do tamanho do terreno que depois das salas, dormitórios e escritórios, ainda sedia uma capelinha e um museu dedicado à memória do fundador, Dom Vicente Bartolomeu.
As portas de madeira da fachada são as mesmas previstas na planta inicial da casa. Na frente do imóvel, a única alteração veio com as janelas, quando as de madeira não puderam mais ser restauradas.
“Nós nunca ficamos sabendo de quem era. Era uma pensão que foi comprada em 1938 para ser a congregação que estava iniciando em Campo Grande”, conta a superiora, presidente do Instituto, irmã Maria Rodrigues Leite, de 60 anos.
À época, além de Mato Grosso ser um só estado. A sede da diocese era Corumbá. “A Irmãs de Jesus Adolescente nasceu aqui em Campo Grande, somos da família salesiana, mesma raiz dos salesianos e filhos de Maria Auxiliadora”, apresenta a irmã.
Com 19 freiras pelo Estado ligadas à congregação, a casa graciosa da Antônio Maria Coelho funciona como sede administrativa e ainda ponto de apoio. O que explica quando a quantidade é muito maior que as quatro freiras residentes. “Quantas já passaram por aqui? Nossa... Centenas. Hoje somos em quatro, mas tem dia que são 10”, explica Maria.
A última reforma foi na mão da administração anterior. Foram eles que escolheram o rosa da fachada e as variações das paredes internas. E talvez o que nos tenha mais chamado atenção seja justamente o detalhe junto ao rosa.
Faixas dos dois lados brincam com o verde através de ornamentos de argamassa e gesso, arquitetura típica do ecletismo. “Não mexemos em nada, sempre se manteve. O que há de diferente são só as janelas, mas ela é uma fachada das casas antigas de Campo Grande”, enfatiza a presidente.
O hall onde acontece a conversa inicial é o primeiro ambiente quando as portas se abrem. Nele estão cadeiras de madeira, daquelas pesadas, de 50 anos atrás. “O interessante é que como era uma pensão, a mesma distribuição de cômodos aqui deste lado, de lá é igualzinho”, descreve a irmã.
Maria Rodrigues Leite veio para Campo Grande em 1976 e na casa rosa está – nesta última temporada – desde 2012.
Na segunda sala, ao lado, chamada de “espera”, o piano quando aberto chega até a se espichar. Há anos ninguém o manuseia. Isso porque a irmã que tocava, Melquiades Dias, está com Alzheimer. “Hoje nem temos mais facilidade ou tempo para aprender”, justifica a irmã.
Na casa e fora dela, cada uma tem as suas obrigações. As orações diárias começam 6h20 da manhã. Maria dá aulas de Língua Portuguesa em dois colégios.
Pelas paredes, quadros estampam a imagem de quem fez a história da congregação, desde o fundador, até as superioras escolhidas pelas freiras da congregação para assumirem a presidência durante seis anos.
Ao fundo, o anexo veio nos anos 70, com uma pequena capela e mais recentemente, o museu em homenagem a Dom Vicente Bartolomeu. São fotos, óculos, livros, roupas e documentos do religioso. “Tentamos reunir as coisas mais importantes dele. Este sapato, por exemplo, deve ter sido usado muito pouco, porque ele gostava mais de sandálias tipo franciscana”, explica a irmã.
A capelinha tem missas especiais. Para o dia a dia, pela proximidade com as igrejas, as freiras assistem a programação fora dali. “O que essa casa passa? Quem conhece sabe que são das irmãs”, ressalta sobre a fama na região.
Curta o Lado B no Facebook.