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Artes

Com arte por todos os lados, grupo “inaugura” obra emperrada há 13 anos

O maior símbolo de obras abandonadas de Campo Grande ganhou cores neste fim de semana

Thailla Torres | 09/12/2019 07:23
Grupo levou arte, gastronomia, música e discussões para local abandonado. (Foto: Henrique Kawaminami)
Grupo levou arte, gastronomia, música e discussões para local abandonado. (Foto: Henrique Kawaminami)

O último sábado (7) foi dia em que artistas entraram no inacabado Centro Municipal de Belas Artes dando origem a primeira Bienal do Centro do Mundo. O lugar que de certa forma, se tornou icônico, por nunca ter tido um projeto que vingue até o final, foi “inaugurado” com diversas manifestações artísticas.

Havia um varal de roupas, uma mesa de livros, pinturas feitas ao vivo, exposição, lambe-lambe em grande proporção, música, projeções, arquitetura, fotografia, performances, com direito a reivindicação para o uso do edifício, a liberdade da arte e a do ser humano.

A ocupação foi coordenada em conjunto por artistas. Pagou-se apenas um valor simbólico de R$ 5,00 como espécie de manutenção, para garantir gerador, luz, caixas de som e divulgação.

Lambe-lambe em grande proporção foi colocado em vários cantos. (Foto: Henrique Kawaminami)
Lambe-lambe em grande proporção foi colocado em vários cantos. (Foto: Henrique Kawaminami)
Pintura e frases foram feitas também. (Foto: Henrique Kawaminami)
Pintura e frases foram feitas também. (Foto: Henrique Kawaminami)
Teve exposiçao fotográfica. (Foto: Henrique Kawaminami)
Teve exposiçao fotográfica. (Foto: Henrique Kawaminami)

O maior símbolo de obras abandonadas de Campo Grande atravessou o dia em cores e sons de diferentes. O lugar que virou teto para quem não tem onde morar ganhou um cantinho verde com jardim feito pelos próprios artistas.

Embora o cheiro de urina e fezes estivesse por todo canto, quem chegou cedo cuidou da limpeza e recolheu boa parte do lixo que havia espalhado pelos ambientes dos mais de 4,3 mil metros quadrados de área construída.

Até que chegasse o dia previsto para a ocupação, foram meses de incentivo da professora de fotografia Patrícia Osses, que nasceu em São Paulo, lugar que tem mais tempo e tradição nesse tipo de movimentação urbana. “A vontade e a necessidade de se expressar existe. Quando a gente faz essa proposição e tem todo esse movimento como resposta, é visível que já existe toda uma vontade. Eu sempre acho que é muito fácil provocar onde você estiver”, explicou.

Reivindicar ao edifício seu próprio uso, com pessoas realmente fazendo arte, foi o que motivou Ana Julia Montagna, de 21 anos, a participar da ocupação e colorir o espaço com uma instalação feita de crochê. “Eu vim do interior. Não sabia que existia esse lugar até saber da movimentação. Esse lugar deveria estar funcionando como espaço de arte há muito tempo, do jeito como está hoje, com gente se movimentando e fazendo arte em tempo real”.

Patrícia é professora que deu forças a iniciativa coletiva. (Foto: Henrique Kawaminami)
Patrícia é professora que deu forças a iniciativa coletiva. (Foto: Henrique Kawaminami)
Pablo, morador que há 1 ano vive no local.  (Foto: Henrique Kawaminami)
Pablo, morador que há 1 ano vive no local. (Foto: Henrique Kawaminami)

E não faltaram críticas e reflexões através de performances, como a de Glauber Portman chamada “Não alimente o bicho”, que fala do corpo de uma transexual danificado de forma abusiva.

Sobre ocupar com arte e vida o abandonado Centro de Belas Artes, o morador de rua Pablo da Silva Matos, de 37 anos, defende que o significado da ocupação sem ação, é morto. “A arte sem ação não existe. Não adianta vir aqui e tentar tirar os moradores, pedir para que não haja sujeira e depredação se não cuidar do espaço com uso dele. Hoje pra mim esse lugar que se tornou minha casa está sendo inaugurado de verdade”, explica o morador que veio de Salvador.

Para quem nunca entrou em uma ocupação antes, por paradigmas ou mitos, valeu à pena conhecer. “Eu vim para observar. Às vezes, a gente acha diferente ou não concorda com esse tipo de ação porque associa com vandalismo, mas quando entrei aqui fiquei surpresa”, explicou a dona de casa Marilza da Rocha, de 52 anos, moradora da região que ainda não tinha colocado os pés na obra que a décadas virou “vizinha”.

Grupo passou sábado transformando o prédio. (Foto: Henrique Kawaminami)
Grupo passou sábado transformando o prédio. (Foto: Henrique Kawaminami)
 Performances chamaram a atenção. (Foto: Henrique Kawaminami)
Performances chamaram a atenção. (Foto: Henrique Kawaminami)
Ação ganhou nome de primeira Bienal do Centro do Mundo. (Foto: Henrique Kawaminami)
Ação ganhou nome de primeira Bienal do Centro do Mundo. (Foto: Henrique Kawaminami)

Histórico – A obra começou há 26 anos, no governo de Pedro Pedrossian, e seria uma rodoviária. Atravessou administrações e inacabada, em 2007, decidiu-se que ali seria local de cultura orçado em R$ 35 milhões. O senador Nelsinho Trad (PSD), à época prefeito, conseguiu do Ministério do Turismo R$ 8,3 milhões – valor que foi repassado em duas parcelas, uma em 2008 e outra em 2010. Na avaliação da atual administração, R$ 10 milhões já foram gastos.

A obra tem cerca de R$ 8 milhões frutos de dois convênios federais. Do dinheiro que já foi investido até agora, R$ 6 milhões são verbas federais e R$ 1,5 milhão do município. Dos 14 mil metros quadrados, somente 2 mil foram requalificados.

Os R$ 4,5 milhões avaliados, até agora, para concluírem a estrutura são recursos provenientes do Ministério do Turismo e de um financiamento com a Caixa Econômica Federal. A obra está parada desde 2012, e abandonada, virou moradia de quem não tem casa.

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Além de novos sons, arquitetura ganhou cores. (Foto: Henrique Kawaminami)
Além de novos sons, arquitetura ganhou cores. (Foto: Henrique Kawaminami)
Glauber falou sobre o abuso ao corpo das transexuais. (Foto: Henrique Kawaminami)
Glauber falou sobre o abuso ao corpo das transexuais. (Foto: Henrique Kawaminami)
Ocupação reuniu jovens e adultos. (Foto: Henrique Kawaminami)
Ocupação reuniu jovens e adultos. (Foto: Henrique Kawaminami)
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