Exposição mostra horrores do fogo que devastou Pantanal em 2020
Obras estão disponíveis no Memorial do Homem Pantaneiro durante o Festival América do Sul Pantanal
Como parte do Festival América do Sul Pantanal, o Memorial do Homem Pantaneiro promove exposição fotográfica, lançamento de livro e exibição de filmes até domingo (29). No espaço, o público pode conferir o projeto Pantanal+10, com a exposição “Céu e Inferno em Terras Alagadas”, que retrata o bioma e sua destruição nos últimos anos, especialmente a devastação causada pelo incêndio que atingiu o Pantanal em 2020. Os registros são do fotógrafo José Medeiros, que também lança um livro de mesmo nome. A entrada é gratuita.
Tragédia - Medeiros documenta o Pantanal há 30 anos e se surpreendeu com os estragos causados pelo fogo, pela ação do homem e pela seca na planície alagada em 2020 e 2021.
"Retratar o Pantanal dessa forma foi uma das coisas mais tristes que eu já fiz, e olha que já fotografei muito por aí. Mas documentar esse grande incêndio, esse fogo descontrolado, foi muito impactante. Eu também estava combatendo o fogo, não apenas registrando, fui para o front, bem no olho do furacão, e era uma coisa insana. Não tinha controle desse fogo, costumo falar que parecia que ele brincava com a gente", relata o fotógrafo ao Campo Grande News.
“Nunca me deparei com uma seca tão grande na região nesses últimos anos. A luta pela sobrevivência é constante, muitos não conseguem”, afirmou em suas redes sociais ao exibir fotos dessa realidade. As fotos dele rodaram o Brasil e o mundo em 2020 expondo a gravidade dos incêndios que assolaram o bioma.
De acordo com o fotógrafo, o livro "Céu e inferno em Terras Alagadas” é a primeira publicação do projeto Pantanal+10, um projeto de longo prazo cuja primeira etapa está apresentada na exposição, com foco na retratação da destruição do Pantanal ocorrida em 2020 causada por incêndios e o período de seca em 2021.
Missão - "Estando lá (no incêndio), percebi que precisava fazer com que essa realidade ecoasse, daí veio essa ideia de trabalhar esse projeto Pantanal +10 para documentar o Pantanal durante 10 anos, registrar o que foi essa grande seca e mostrar o que está acontecendo com o Pantanal, o que temos feito com ele, como a gente está caminhando", detalha Medeiros.
Hoje (27), amanhã (28) e domingo (20) também será exibido o documentário “Fogo e Fé”, um curta-metragem produzido por ele com depoimentos dos pantaneiros sobre esses acontecimentos que foram classificados como a maior tragédia ambiental no Pantanal. As exibições serão sempre às 18h30.
Livro - Além do documentário, o fotógrafo também promove seu livro “Céu e Inferno em Terras Alagadas”. O lançamento da obra acontece hoje, às 19h30, e dá a oportunidade para que os visitantes levem para casa alguns dos retratos da exposição.
Emoção - Para o fotógrafo, ver de perto o que aconteceu com o Pantanal em 2020 foi assustador. "Imagina você andar nesse silêncio. Depois do fogo, vem um silêncio, um silêncio enorme. Aí você começa a andar por essas cinzas e começa a encontrar animais. De repente você se depara com um jabuti queimado, que até parece o capacete de um soldado no chão porque parece cenário de guerra. É um cenário de guerra", narra.
"Você anda mais um pouco e vê um jacaré que morreu de boca aberta, morreu como se estivesse soltando um grito de socorro. Uma árvore morreu queimada e chegou a envergar, como se quisesse dizer: deu pra mim, consegui chegar até aqui, não consegui ir além disso pela ignorância humana", compartilha Medeiros.
Para ele, a exposição e o livro são iniciativas para que mais pessoas conheçam a realidade da planície alagada. "Esse trabalho é para que mais pessoas se envolvam com o Pantanal, mais pessoas sejam pantaneiras. O Pantanal não é só para quem nasce lá, é quem escolhe ele, é para quem escolhe defender esse lugar. Que a gente possa contagiar mais pessoas com isso", finaliza.
Onde - O Memorial do Homem Pantaneiro, uma iniciativa do IHP (Instituto do Homem Pantaneiro), fica no prédio Vasquez & Filhos, na Ladeira José Bonifácio, 171, no Porto Geral, em Corumbá. Até domingo, o público pode visitar o espaço das 16h às 21h.
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