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JULHO, QUARTA  17    CAMPO GRANDE 17º

Artes

Gentil faz da casa uma obra de arte, pintando até frutas no pé

Na Vila Planalto, o artista plástico transformou lar e se diverte como menino até hoje

Aletheya Alves | 02/01/2023 07:01
As paredes da casa de Gentil são parte do artista, que vive suas criações a todo momento. (Foto: Henrique Kawaminami)
As paredes da casa de Gentil são parte do artista, que vive suas criações a todo momento. (Foto: Henrique Kawaminami)

Quase não acreditei quando Gentil da Silva Menezes resolveu fazer graça e se equilibrar em um pé só a quase 2 metros de altura do chão. Se misturando com as cores espalhadas por toda casa, o artista plástico de 80 anos se divertiu com a reação e fez questão de mostrar que o amor pela arte é isso: felicidade de uma vida.

Morador da Vila Planalto, o artista chega a se perder em meio à longa história que divide com cada peça que já criou. De praça pública em Rochedo até imagens para asilo de Campo Grande, Gentil conta que são inúmeros os espaços com suas mãos.

Por acaso, encontrei a casa do artista graças às imagens que se espalhavam por seu quintal. E quem observa o lar percebe imediatamente que as décadas dedicadas a criar pássaros de madeira, pinturas, estátuas e miniaturas não diminuíram o gosto de Gentil. Isso porque o amor pelas criações jorra em cada detalhe.

Ali, tudo é colorido. O pedaço de madeira usado para apoiar instrumentos, as prateleiras da cozinha feitas por ele e até as paredes se tornaram quadros abertos graças ao encantamento do senhor que por vezes parece um menino.

“Você vê a água nascendo, ela vem descendo, aí tem a casa, o mangueirinho, o balancinho, os ipês e até um canavialzinho lá no fundo. Você faz umas coisas que você vive”, conta Gentil sobre a pintura que toma a parede da cozinha.

Cores se espalham por todos os cantos em conjunto às obras. (Foto: Henrique Kawaminami)
Cores se espalham por todos os cantos em conjunto às obras. (Foto: Henrique Kawaminami)
Miniaturas fazem parte do acervo criado por Gentil e remetem ao imaginário pantaneiro. (Foto: Henrique Kawaminami)
Miniaturas fazem parte do acervo criado por Gentil e remetem ao imaginário pantaneiro. (Foto: Henrique Kawaminami)
O artista destaca que pensa em cada detalhe e pequenas panelas ilustram isso. (Foto: Henrique Kawaminami)
O artista destaca que pensa em cada detalhe e pequenas panelas ilustram isso. (Foto: Henrique Kawaminami)

Sem divisões entre os espaços de criar e o restante da casa, cada pedaço é especial. Com apenas três cômodos, a residência do artista mistura as chaves, os cupinzeiros esculpidos, miniaturas, pratos e cama, esta também toda colorida.

E, fazendo um tour pelas produções artísticas, Gentil solta a frase “mas o que eu gosto mesmo é disso aqui” de minuto em minuto. “Mas não lembro bem como comecei, de certo comecei a brincar e fui indo”, diz sobre o começo da narrativa.

Antes de trabalhar com artes plásticas, o então menino foi criado na roça e seus primeiros trabalhos foram como mestre de obras na cidade. “Já trabalhei muito, a base aérea toda tem minha mão. Sou filho daqui de Campo Grande, fui mestre de obras e depois trabalhei como carpinteiro”, detalha.

Talvez a partir da carpintaria é que Gentil tenha levado o gosto pela arte adiante e desde então nunca mais parou. Sem identificar uma técnica específica ou delimitar seu campo, ele conta que gosta de fazer de tudo.

“Eu já mexi com barro, com madeira, com concreto. Já fiz vasos de todos os tamanhos, berrante de plástico que funciona, pássaro do Pantanal, pintura em parede. Mas o que gosto mesmo é disso aqui, João-de-barro”, diz, definindo por último, que seu “gosto mesmo” são as casinhas dos pássaros.

Casas de João-de-barro compõem uma das paredes. (Foto: Henrique Kawaminami)
Casas de João-de-barro compõem uma das paredes. (Foto: Henrique Kawaminami)
Pássaros como tuiuiús estão presentes em árvores recriadas por Gentil. (Foto: Henrique Kawaminami)
Pássaros como tuiuiús estão presentes em árvores recriadas por Gentil. (Foto: Henrique Kawaminami)
Galhos com casas de joão-de-barro fazem moldura para frase "sou um escravo do silêncio". (Foto: Henrique Kawaminami)
Galhos com casas de joão-de-barro fazem moldura para frase "sou um escravo do silêncio". (Foto: Henrique Kawaminami)

Do lado de fora, as paredes da casa receberam casinhas do pássaro, mas todas feitas por Gentil. “É que meu mestre é ele, o João-de-barro, ele que me ensina. Tá ouvindo o som dele? Tá cantando por aqui”, enquanto o bicho realmente cantava enquanto voava sobre o abacateiro do quintal.

Além das casinhas feitas de barro, o lar do pássaro também está dentro da casa, mas em dois desenhos que servem como moldura para outra frase do artista: “sou escravo do silêncio”. Questionado sobre o motivo das palavras, Gentil explicou que é seu sentimento quando se dedica a criar.

“Quando estou aqui fazendo minhas coisas, fica assim [...] o silêncio. Então é isso que significa”, detalha o homem.

De volta ao lado de fora, pedaços de madeira se espalham entre outras criações e equipamentos usados para os trabalhos. Garças em cima de vasos, busto com óculos de sol e, claro, muitas cores.

Inclusive, as cores são parte tão intensa de Gentil que nem mesmo os abacates da árvore resistem. “Eu faço essas brincadeiras, aí pintei todos eles para ficar colorido também. Vou fazendo essas coisas, mas não é nada sério não. Acho que por isso sou feliz, porque essas coisas pequenas é que são as melhores. É isso aí. Sou meio criança”.

Nem mesmo antigo moedor de arroz resistiu às cores de Gentil. (Foto: Henrique Kawaminami)
Nem mesmo antigo moedor de arroz resistiu às cores de Gentil. (Foto: Henrique Kawaminami)
Busto com óculos escuros e cabelo com telha se mescla entre as criações. (Foto: Henrique Kawaminami)
Busto com óculos escuros e cabelo com telha se mescla entre as criações. (Foto: Henrique Kawaminami)
Artista recriou a si mesmo em tamanho real e até os abacates da árvore foram coloridos. (Foto: Henrique Kawaminami)
Artista recriou a si mesmo em tamanho real e até os abacates da árvore foram coloridos. (Foto: Henrique Kawaminami)

Confira a galeria de imagens:

  • (Foto: Henrique Kawaminami)
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