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Artes

Herdeiro da TAM, artista mostra o que ficou da relação com os aviões

Thailla Torres | 15/02/2017 12:00
Obras usam objetos descartados, a maioria, peças aeronáuticas. (Foto - Alcides Neto)
Obras usam objetos descartados, a maioria, peças aeronáuticas. (Foto - Alcides Neto)

Com trabalho leve e solto, as esculturas gigantes do artista plástico Marcos Amaro, 33 anos, é um reflexo do passado que ganhou novo significado. Depois de perder o pai, Rolim Amaro, fundador da TAM, em um acidente aéreo, Marcos caminhou com as esculturas para de desfazer traumas e sentimentos ruins. 

Artista desde que se entende por gente, ele diz ter se encontrando na sensibilidade ao longo dos anos. Assim, ficou conhecido como o jovem que abriu mão dos negócios para investir na arte. Depois que o pai faleceu em 2001, Marcos herdou parte da TAM e comprou a rede de Óticas Carol por R$ 40 milhões. Quatro anos depois, mesmo com talento para os negócios, vendeu a marca por quase o triplo do valor que havia pago.

O trabalho de Marcos está intimamente ligado a sua história. (Foto - Alcides Neto)
O trabalho de Marcos está intimamente ligado a sua história. (Foto - Alcides Neto)

Com maior parte do tempo dedicado às artes, na simpatia Marcos analisa ter muito mais satisfação hoje do que nos tempos de executivo. A escolha veio em um momento importante, depois de superar cobranças e com a vontade de dar um novo significado a sua história.

"Quando você se dedica à parte executiva, você acaba seguindo uma série de padrões. Se eu decido reformar uma loja, não adianta apresentar algo original ao consumidor que ele vai se assustar. Já na arte, não há esse limite, ela é transgressora por natureza, precisa ser rebelde e apresentar algo que vai além do cercadinho. E como estrategista, eu não poderia me dar a esse direito antes", explica. 

No período de transição, Marcos passou por cima das cobranças. "A medida que você faz essa passagem, você tem uma liberdade de criar muito maior.  É claro que existe uma cobrança, de ter uma carreira de sucesso e autorrealização, e isso foi muito característico desde minha infância. Então, eu tive que passar por isso, para tirar esse peso. Foi a arte que me ajudou a ter satisfações na minha vida com as coisas do dia a dia", detalha.

Com obras enormes, as esculturas de Marcos trazem um pouco do cotidiano a Campo Grande, em exposição no Marco (MUseu de Arte Contemporânea). Cada objeto trás à tona acontecimentos do passado. A fuselagem de um avião que foi descartado ou de um acidente, asas, bancos e engrenagens. Tecidos e pedaços de uma camisa que remetem aos personagens que utilizaram. Tudo é coletado por Marcos para ser ressignificado nas obras.

Detalhes de asa de avião virou um dos trabalhos em exposição. (Foto - Alcides Neto)
Detalhes de asa de avião virou um dos trabalhos em exposição. (Foto - Alcides Neto)
Colchão e parte da fuselagem. (Foto - Alcides Neto)
Colchão e parte da fuselagem. (Foto - Alcides Neto)
Escultura com asa de avião. (Foto - Alcides Neto)
Escultura com asa de avião. (Foto - Alcides Neto)

"Por isso meu trabalho tem muito a ver com a minha história, acabo inserindo a tragédia nele como forma de sublimação. Como forma de dar um novo significado à história do meu pai. Apesar de estar intimamente ligado com a arte, porque eu sempre desenhei, meu trabalho escultórico foi posterior ao acidente e veio para dar um sentido à minha vida", detalha.

As obras de Marcos fazem com que o espectador lide com a imaginação e a criação, como maneira de contemplar as coisas do cotidiano de maneira mais leve. "A minha poética é da natureza cotidiana, tem a função da subjetividade, portanto, ela não tem uma utilidade, é contemplar as coisas com outro viés", sugere.

As produções surgem conforme o tempo. "Não é diário, até porque quando eu vou para o ateliê, consumo e muito energia, porque é o corpo físico trabalhando, no coletar objetos, ir ao ferro velho, fazer aplicação. Então, é um trabalho que toma tempo e o seu corpo vai junto. Por isso, não tenho uma forma certa de fazer", diz. 

Campo Grande é a primeira cidade fora de São Paulo que recebe a exposição de Marcos. Ele, que também é dono de fazenda no Mato Grosso do Sul, já conhecia a cidade e ressalta que Campo Grande tem estrutura para grandes exposições. "Achei interessante, porque conheço a artista plástica Ana Ruas, que me sugeriu essa mostra e o museu tem uma estrutura muita generosa. Mesmo em São Paulo, às vezes é difícil ter espaços tão bacanas para o artista trabalhar dessa forma. Geralmente, os espaços são menores".

Partes de uma fuselagem. (Foto - Alcides Neto)
Partes de uma fuselagem. (Foto - Alcides Neto)
Esculturas chegam a ter 5m. (Foto - Alcides Neto)
Esculturas chegam a ter 5m. (Foto - Alcides Neto)

Exposição 4 Mostras, 4 Artistas - Além de exposição de Marcos Amaro, a mostra coletiva do MARCO tem trabalhos de Katia Canton, Alessandra Rehder e Ana Ruas.

Na fotografia, é o olhar crítico da paulista Alessandra Rehder que faz presença. Ela viajou o mundo em busca de culturas remanescentes, preocupada, principalmente, com a infância subtraída pelo isolamento provocado por uma geografia sócio econômica e política desumana. Além da paisagem humana, ela apontou a câmera também para a natureza, com foco nas questões ambientais.

O olhar e a arte de Alessandra já passaram por comunidades de culturas isoladas da Indonésia, Tailândia, Vietnã, Brasil, Filipinas, Papua Ocidental, Índia, Jamaica e Turquia. O que diferencia o trabalho da jovem artista da documentação é o emprego de um vocabulário plástico construído em consonância com o título da exposição.

Na pintura, destaque para uma gaúcha radicada há vinte anos em Mato Grosso do Sul. Ana Ruas pesquisa na série Floresta Encantada imagens retiradas da natureza e do imaginário infantil, ora preenchendo pequenas telas, ora cobrindo um grande painel, como o de 5 metros que contou com a coparticipação de crianças que frequentam seu ateliê.

Já a artista e pesquisadora paulista Katia Canton, utiliza suportes diversos como a pintura, o desenho, a gravura, as instalações sonoras e a poesia para criar atmosferas que revisitam criticamente a ideia do lúdico, do frágil, do feminino, da natureza de sonhos, das questões internas e da brincadeira. A série Casa dos Contos de Fadas faz menção às ressonâncias desses conceitos.

A exposição 4 Mostras, 4 Artistas fica aberta até o dia 26 de março no Museu de Arte Contemporânea,  que fica na Rua Antônio Maria Coelho, 6000, no Parque das Nações Indígenas.

O horário de visitação é das 7h30 às 17h30 e no fim de semana, das 14h às 18 horas.

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Alumínio, assento de avião e madeira, são alguns dos elementos de cada escultura. (Foto - Alcides Neto)
Alumínio, assento de avião e madeira, são alguns dos elementos de cada escultura. (Foto - Alcides Neto)
Exposição fotográfica da Alessandra Rehder. (Foto: Evelise Couto)
Exposição fotográfica da Alessandra Rehder. (Foto: Evelise Couto)
Ilustrações da artista Katia Canton. (Foto: Evelise Couto)
Ilustrações da artista Katia Canton. (Foto: Evelise Couto)
Exposição Ana Ruas. (Foto: Evelise Couto)
Exposição Ana Ruas. (Foto: Evelise Couto)
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