Jolival transformou castigo de mãe em arte e aceita qualquer pagamento
Jolival só precisa de quatro tonalidades de tinta e dos dedos para transformar qualquer superfície em arte. Em menos de cinco minutos, o artista de rua pinta paisagens em azulejos de encantar os olhos pela rapidez e ainda assina com caligrafia bonita.
É na frente da Igreja Perpétuo Socorro, às quartas-feiras, que ele tenta mostrar o seu trabalho e até sugere o preço, de R$ 20,00, por cada azulejo, mas recebe o dinheiro que o cliente quiser pagar. "A arte não tem preço, eu digo meu valor simbólico, mas a pessoa paga o que o coração dela mandar", explica Jolival Martins de Oliveira Neto, de 27 anos.
O gosto pelo desenho surgiu na infância, mas ele aprendeu a caprichar na caligrafia e nos traços depois de receber um castigo da mãe. "Sempre gostei muito de desenhar e observava os artistas de rua. Mas isso tudo foi um castigo de mainha, porque eu faltava na escola".
Jolival conta que chegou a ficar um ano longe da sala de aula sem que a mãe soubesse. "Faltei quase o ano inteiro e o carinha da assistência social foi até na casa da minha mãe contar que eu não estava estudando".
Ele jura que se arrependeu e pediu desculpas à mãe, mas ela não se deu por vencida. "Eu fui pedir para brincar e ela chegou com dois cadernos gigantes de caligrafia. Fiquei fazendo até a letra ficar bonita", diz.
Com o tempo, Jolival resolveu ir à ruas. "Decidi sair de casa, queria conhecer o mundo". Nascido na Bahia, já passou por São Paulo e Rio de Janeiro. E depois de ver uma fotografia de Bonito, se apaixonou pelo Estado. "Um camarada me mostrou aquela beleza toda e eu falei que ia conhecer o lugar".
Em Campo Grande, há 2 anos, ele vive na Pousada Casa dos Artistas, na Rua dos Barbosas. Pintando nas ruas, ele diz que consegue pagar a diária de R$ 35,00 para ter onde dormir.
Mas nem sempre é fácil, comenta. "Dou bom dia e as pessoas não respondem, se eu estou na rua, tem gente que aperta o passo e segura forte o bolso. O preconceito é duro".
Sem telefone, longe de casa e com roupas surradas, a distância do conforto não parece incomodar Jolival. "A gente acostuma e a liberdade da rua não tem nada que pague. Na rua aprendi falar inglês e a me virar em qualquer lugar. E quando você consegue alegrar uma pessoa com a sua arte, isso é maravilhoso".
É por isso que ele diz fazer questão de contar a história da privada, que até hoje lhe emociona. "Encontrei uma privada em um túnel do Rio de Janeiro, quebrei em quatro pedaços e fiz uma pintura. Passei por uma família na rua e mostrei meu trabalho, eles ficaram encantados", lembra. Ao passar o chapéu, Jolival diz que veio a surpresa. "Contei o dinheiro e eles me deram R$ 1,8 mil, foi o maior dinheiro que já ganhei na vida", lembra, com sorriso gigante e acreditando que história da privada é a prova que arte nenhuma tem preço fixo.
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