Nada de ‘mãezinha’: revoltas maternais viram tirinhas com Marina
Artista resolveu criar uma série de tiras sobre o tema e a 1ª foi sobre a perda da identidade na maternidade
“Um dos fenômenos mais medonhos - e bregas - que acompanham a maternidade: o roubo do nome. Obs: meu nome não é mãezinha”, introduz a artista Marina Duarte em sua primeira tira sobre as tragédias cômicas que integram a maternidade. Desde a revolta por ser chamada de “mãezinha” e perder o direito ao nome até a romantização da maternidade como um todo, não faltam temas para ironizar e gerar um humor trágico que fazem refletir.
Quem vê as tiras sabe que a revolta está presente e, nas palavras de Marina, não dá para ser diferente. Há sete anos, ela se tornou mãe pela primeira vez e, hoje, criando dois meninos, o que não faltam são histórias.
“Há várias coisas no cotidiano materno que às vezes são romantizadas e isso me traz um pouco de incômodo desde sempre. Resolvi começar a botar para fora a partir dessa série: Muita T(r)eta em que eu mantenho o ‘r’ entre parênteses para fazer também alusão à ‘muita teta’”, explica Marina.
Já com assuntos prontos e que foram sendo acumulados no decorrer dos últimos sete anos, a ideia é compartilhar e fazer refletir sobre situações como a amamentação, como as dinâmicas de parentalidade são diferentes para homens e mulheres. Enfim, casos aleatórios que também aconteceram com Marina e que ganharam um olhar a partir das tiras.
Acreditando no potencial da arte sequencial, Marina argumenta que é possível se discutir algo bastante sério, como é o caso da despersonalização e o direito à identidade, a partir dos quadrinhos e das tiras.
Trazendo isso para a prática, ela explica sobre a primeira tira publicada em relação ao tema “mãezinha”.
“Eu estava com esse roteiro pronto há um tempão e, na semana passada, aconteceu um episódio de eu afirmar meu nome várias vezes e rolar essa abordagem me chamando de mãezinha. É uma revolta que eu tenho desde que pari. Vemos isso principalmente na escola, em ambientes hospitalares e parece que, nesse momento, a gente vai ser só mãe do paciente e isso passa a ser nossa identidade”.
Situações como essa costumam ser subconscientes e há uma normalização generalizada.
Nesse sentido, Marina destaca que o interesse em fazer a série é também abordar as formas com que mães vão perdendo a identidade, vão sendo fragmentadas. Isso considerando que há pouco tempo a maternidade passou a ganhar espaço de discussão, já que muito seguia e segue permanecendo “escondido” no âmbito pessoal.
“Acredito muito no potencial da arte sequencial, dos quadrinhos, para explorar situações com temas mais densos e complexos. Às vezes, visualizar eles de outras formas pode agregar outro valor a esses debates que já são feitos. Você pode enxergar de outra forma através do viés cômico porque, ao mesmo tempo que tem esse viés crítico que o humor carrega, tem um motivo por trás, estamos elevando essas situações no lugar do ridículo”.
E, para além do tema da maternidade, Marina tem atuado com a produção de artes que fazem refletir há um bom tempo. Desde trabalhos desenvolvidos em conjunto à Revista Badaró, que cria jornalismo em quadrinhos, até produções próprias como o “Vozes Invisíveis” (uma reportagem em quadrinhos sobre vivências de mulheres lésbicas, bissexuais e transexuais de Campo Grande), não faltam diálogos.
Além da parte jornalística, a artista também já participou de trabalhos ficcionais e sempre publica em suas redes sociais (@marinailustrando). Inclusive, para quem gosta de quadrinhos e tiras, a dica é segui-la e também acompanhar outros artistas como Fred Hildebrand, Dudu Azevedo, Grifo, Fábio Quil, Anderson Barboza.
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