Para amigos, “Chico se encantou num tuiuiú e alçou voo para longe”
Chico, criador do Grupo Acaba, foi sepultado na tarde desta quarta-feira com música e lembranças
Nesta tarde (19), em Campo Grande, amigos e familiares se despediram de Francisco Saturnino de Lacerda Filho, o Chico, criador do Grupo Acaba. O sepultamento no Parque das Primaveras foi ao som de sucessos do grupo que o artista criou.
A caminho do sepultamento, integrantes tocaram e cantaram “Pássaro Branco” e “Ciranda Pantaneira”, canções que levaram a identidade sul-mato-grossense para o mundo.
Depois das últimas homenagens com músicas do grupo, o amigo Eder Ocampos, conhecido como Didi, atendeu o pedido da filha e cantou uma música que foi composta por ele no sítio de Chico, lugar que ele mais gostava de ficar.
Após a despedida, um tucano se fez presente nas árvores do cemitério, emocionando quem sempre viu Chico amar a natureza. Para alguns, a palavra morte nem se encaixa neste momento. “Hoje o Chico se encantou num tuiuiú e alçou voo para longe, para o amor que sempre pregou”, disse o amigo e músico Gilson Espíndola.
Apesar da saudade, a sensação de privilégio prevaleceu na filha Carina Lacerda, que cantou para o pai até os últimos minutos. “Ele era muito intenso tanto na música quanto na publicidade e na família. Deixou muita história e o sentimento é de saudade e gratidão pelas coisas que a gente viveu. Eu não tenho momentos tristes para falar com ele, só dá doença. Mas ali era o Chico mais, era o Chico partindo”, descreveu a filha sobre o Alzheimer, que levou embora a vida do pai.
O amigo e integrante do Acaba, Luiz Porfírio, de 74 anos, comentou que vai ser difícil a ausência de Chico. “Vai passar um tempo até me acostumar. Nós estamos nesse caminho há 53 anos e só temos a dizer que foi maravilhoso, a perda do Chico veio num momento que evidentemente é o ciclo da vida, mas ele deixou muitas ideias diferentes e uma forma de descrever a natureza”.
A genialidade do músico foi lembrada pelo integrante Luiz Alberto Sayd, de 62 anos. “Ele sempre teve uma genialidade autêntica. Você começa a ouvir as músicas, presta atenção e sente o espírito de Chico”.
A história do homem que cantava e imitava passarinhos também vai ganhar as páginas de um livro, nas palavras do jornalista e músico Rodrigo Teixeira. “Chico fundou um jeito de escrever música e conseguiu que isso se tornasse sucesso. Quando ele escreveu em 1975 ‘Ciranda Pantaneira’, ele funda uma escola e maneira de cantar em um lugar invisível”, descreve Rodrigo.
O músico Renato Teixeira também enviou mensagem aos amigos na despedida. “Quando morre alguém envolvido com um projeto cultural como o Acaba a tristeza é grande. Perdemos um ser humano que contribuiu com o bem estar espiritual de sua comunidade e, consequentemente, assistimos o ciclo da vida deixando o movimento musical que o Chico ajudou a construir, saudoso da sua presença. Mas o que foi escrito, jamais se apagará”.
Despedida - Chico morreu nesta terça-feira (18), em Campo Grande. Diagnosticado com Alzheimer em 2017, há cerca de uma semana ele estava internado no Hospital da Unimed, aqui na Capital. Os 77 anos, viveu como artista, mas também como publicitário e empresário, criador da agência Arte e Traço. Mas as lembranças começaram a sumir da memória e ficaram apenas as músicas, que nos últimos tempos a doença também apagou.
Chico deixa dois filhos, Carina e Daniel, que incentivaram a arte do pai até os últimos dias de lucidez.
Acompanhe o Lado B no Instagram @ladobcgoficial, Facebook e Twitter. Tem pauta para sugerir? Mande nas redes sociais ou no Direto das Ruas através do WhatsApp (67) 99669-9563 (chame aqui).