Professora relembra trajetória do poeta que o mundo aprendeu a admirar
De 1985 a 1987 e de 2005 a 2008, a professora Idara Duncan esteve à frente da FCMS (Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul), como Presidente e como Secretária de Estado de Cultura e Esportes. Nas funções que desempenhou, ela acompanhou as produções locais e pode presenciar, também, o reconhecimento cada vez maior do poeta Manoel de Barros, que o mundo teve o prazer de conhecer e aprendeu a admirar e que, hoje (13), se despediu.
Na década de 80, lembra a professora, o poeta das coisas desimportantes já tinha sua importância, afinal de contas, nessa época, já havia conquistado o respeito de intelectuais, jornalistas e escritores, como Millôr Fernandes, que pouco a pouco o lançava.
“Mais ainda não era tão divulgado como merecia”, pontua. O “Livro de Pré-Coisas”, publicado em 1985, com o apoio do Estado, acabou lhe dando mais visibilidade, mas foi o curta-metragem “Caramujo-Flor”, do cineasta e documentarista Joel Pizzini, de 1989, que o fez “estourar”.
“Foi um sucesso incrível. O filme teve a participação de artistas daqui. Foi um sucesso nacional e até hoje as pessoas ainda assistem. Ele já era conhecido, mas ficou ainda mais. Foi crescendo sua fama no estado, nacionalmente e internacionalmente”.
No curta, Pizzini recria o universo poético de Manoel de Barros por meio de Cabeludinho (Ney Mato Grosso) e o Andarilho (Rubens Corrêa). O trabalho, que contou com a participação especial de Tetê Espíndola, Aracy Balabanian, Almir Sater, Chacal e Geraldo Carneiro, dialoga com duas paisagens da obra do poeta: o Pantanal e o mar.
Idara se recorda, ainda, de outro momento marcante. Foi em 1998. “Eu participei da comissão julgadora do Prêmio Nacional da Cultura, do Ministério da Cultura, e apresentei o nome do Manoel de Barros na categoria Literatura. Ele foi aprovado e recebeu o prêmio das mãos de Cássia Kiss, que ficou de joelho. Foi aplaudido de pé pelo Tetro Municipal do Rio de Janeiro inteiro”, detalha.
O reconhecimento é justo, mais que merecido, diz. “Manoel é um patrimônio do Estado, um patrimônio do país. Ele é, sem sombra de dúvida, um dos grandes nomes da literatura brasileira”, afirma.
O poeta, que deu o último suspiro na manhã de hoje, nasceu em Cuiabá, no Mato Grosso, mas passou a maior parte da vida em Mato Grosso do Sul, dividindo o tempo entre Corumbá e Campo Grande. As andanças por aí serviram de inspiração. “A obra dele une os dois pantanais. É um poeta pantaneiro por excelência. Mas é um nome que projetou essa região do mundo através da poesia universal”, considera.
É por isso que Manoel merece, nas palavras da professora, “todas as honras que tem direito”. “Para nós ele é um grande orgulho. A obra dele projetou o Estado para o mundo.”, avalia.
Mas o poeta nunca foi de se gabar. “Ele fava uma aula de ser humano com sua simplicidade. Ele sabia, com certeza, o valor que tinha, mas fazia questão de ser simples, de ser humilde. Ela dava, acima de tudo, uma aula de cidadania, de postura. É um orgulho para o nosso estado ter o Manoel de Barros como um dos representantes da nossa cultura”, comenta, repetindo o elogio.