Símbolos de luta, abayomis viram brincos e chaveiros nas mãos de Diva
Professora aposentada cria bonecas de tecido e a mãe produz sabonete artesanal de ervas
O trabalho de mãe e filha são completamente opostos, mas idênticos no aspecto artesanal e dedicação que colocam em cada um. Therezinha Figueira Cardozo, de 72 anos, faz sabonetes de ervas e Diva Figueira Cardozo, de 54 anos, confecciona bonecas abayomis.
Para Diva, a produção artesanal fazia parte da rotina como professora das séries iniciais. A dinâmica na sala de aula exigia o recurso de materiais lúdicos, por isso, ela sempre criava algo novo e constantemente cortava EVA.
As abayomis entraram na vida dela há dois anos graças a tia, Cleuza Pedroza. “Ela é cofundadora do coletivo e convidou a gente pra estar participando porque sempre mexi com algum tipo de artesanato”, conta.
No Coletivo Mulheres Negras de MS Raimunda Luzia de Brito são fornecidas oficinas de turbantes, bonecas negras, culinária afro e das abayomi.
Feitas de pequenos retalhos de tecido, as abayomi têm forte significado representando símbolos de luta. Segundo Diva, a história dela começa nos navios negreiros que saíam do continente africano com destino ao Brasil.
Nas embarcações, as mulheres cortavam as barras dos vestidos e criavam bonecas para dar às crianças que estavam com elas. Essa história Diva sempre está disposta a contar para as pessoas que tem interesse em ouvir. “Eles acham interessante, acham bonita a história”, fala.
Após aprender a fazer as abayomi, a professora aposentada começou a aperfeiçoar o trabalho e evitar que as bonecas desafiassem. “Percebi que quando elas ficavam desfiadas as pessoas não se interessavam. Procurei uma forma para que o tecido não desfie e eu passo a termolina leitosa”, explica.
Os tecidos coloridos compõem as saias e vestidos das bonecas que viraram chaveiros e brincos. Em breve, Diva planeja fazer broches da abayomi. A cor, segundo ela, é indispensável. “Quanto mais colorido melhor, fica mais bonitinho”, afirma.
De barbatimão a camomila - A mãe de Diva, Theresinha, também se dedica à produção artesanal, mas com ela o negócio são os sabonetes. O trabalho começou sem pretensão nenhuma há dois anos e ela só queria resolver uma reclamação do neto.
Ela relata que recordou um ensinamento antigo para produzir o sabonete. “Eu comecei porque meus antepassados, minhas bisavós, avós faziam sabão. Depois meu neto começou a ter fissuras, tipo uma coceira e não conseguia dormir. Lembrei que antigamente fazíamos vários banhos e o povo antigo curava tudo com erva”, comenta.
O resultado não só agradou, mas fez o neto de Theresinha pedir por mais um. “Fiz o primeiro de babosa com alecrim e ele levou pra casa. Passados cinco dias ele veio e falou: ‘Vó, você tem mais do sabonete? Foi um alívio tão grande pra mim, queria ver se você tem outro”, conta.
Depois dele foi a vez da vizinha ganhar um sabonete e Theresinha não parou mais. Para começar a produção, ela recorreu a cursos e muitas pesquisas. “Os vizinhos começaram a pedir e a partir da pesquisa fiz um curso on-line e comecei a produzir. Tá tendo uma boa aceitação”, destaca.
Em cada embalagem, ela insere as especificidades do produto e destaca os benefícios da erva em questão. Além disso, Therezinha também coloca o telefone e pede que qualquer pessoa entre em contato. “Eu digo: 'Se fez bem vocês falam e se deu alguma coisa quero saber'”, conta.
Devido à saúde, Therezinha produz em pouca escala os sabonetes de babosa com alecrim, barbatimão, camomila, manjericão e babosa.
O telefone de contato da Diva é (67) 99918-4681 e o da Therezinha (67) 99235-4440.
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